lunedì 5 giugno 2017

ANNALISA SANDIROCCO: «O AMOR AO PORTUGUÊS ou seja HETERÓNIMOS DE UM DISCURSO AMOROSO»


ANNALISA SANDIROCCO iniciou este ano o seu percurso em português e desde cedo demonstrou não só uma inclinação para o estudo desta língua difícil, mas uma verdadeira vocação para a escrita. É por isso com grande gosto que publicamos aqui este belo texto, que é a sua declaração de amor à língua portuguesa.

Obrigado, Annalisa!




O AMOR AO PORTUGUÊS

ou seja

HETERÓNIMOS DE UM DISCURSO AMOROSO



Na minha lista pessoal de paixões tão românticas como esquivas, fica sem dúvida o Português.

O Português foi destinatário de um amor utópico e tenaz e, talvez porque queria provar a veracidade da teoria da lebre e do caçador, o Português escondeu-se durante os muitos anos em que eu passei à sua caça.



Como é que tudo começou?



Começou com uma fascinação auditiva, uma languidez enquanto eu ouvia os sons líquidos e aparentemente indecifráveis do seu falar.

Inicialmente procurei estabelecer um contato com ele… e como é que se estabelece o primeiro contato com um ser desejado? Mas quando falamos a mesma língua e conseguimos entender-nos!

Então, comecei a estudar aquela misteriosa pronúncia nos pequenos dicionários de bolso que tinha na minha casa.

Alguma coisa não funcionou. Não parecia que o Português estivesse a estabelecer comigo uma correspondência de amorosos sentidos.



E o que é que há de mais horrível do que a sensação que o nosso amado está a zombar, a rir de nós?

Foi o que aconteceu enquanto eu procurava aproximar-me dele e acabei por me sentir ridícula… mais o menos isto foi o que passou:




(Tratto dal film Lisbon Story di WimWenders)


Aquilo era… era estrangeiro…



Foi pior quando um senhor, um certo Álvaro de Campos, que afirmava que ele tinha familiaridade com o Português (nem sei se era o seu nome verdadeiro… não podia estar mais confusa) confirmou aquele terrível pressentimento que eu tinha e, enquanto eu estava a escrever ao meu amado de uma maneira atrapalhada mas sincera, disse-me: “As cartas de amor são ridículas”*!!!



Então, não era o caso de insistir mais.



O tempo passou, muitos anos ficaram entre aquele sonho não realizado e eu.

Mas assim como tudo chega a uma maturação, da mesma maneira aquela paixão nunca interrompida, só submersa, voltou a brotar numa primavera memorável que cheira a jasmins e amizade.

Nesta primavera o Português rendeu-se ou fui talvez eu que me rendi à sua tirania fonética, a quem causa saudades e ao mesmo tempo sabe matar saudades; este sentimento passou a ser uma sensação de intimidade de voltar a uma casa onde partilhamos com os companheiros e juntos ficamos mais ricos: já encontrámos a nossa casa portuguesa interior.



Agora sei que “as cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas”.

Agora sei.



ANNALISA SANDIROCCO



*Fernando Pessoa – Poesias de Álvaro de Campos.

6 commenti:

  1. Uma linda declaração de amor! Parabéns.

    RispondiElimina
  2. Bela carta, um amor sincero. Uma paixão. Parabéns
    Donatella Salvi

    RispondiElimina
  3. Quando comecei a aprender a língua portuguesa foi atingidos pelos mesmos sentimentos do teu texto. Depois os meus professores me fez sentir a minha alma portuguesa, que agora tenho no meu coração. Texto muito lindo, parabéns!

    RispondiElimina