ANNALISA
SANDIROCCO iniciou este ano o seu
percurso em português e desde cedo demonstrou não só uma inclinação para o
estudo desta língua difícil, mas uma verdadeira vocação para a escrita. É por
isso com grande gosto que publicamos aqui este belo texto, que é a sua
declaração de amor à língua portuguesa.
Obrigado, Annalisa!
O AMOR AO PORTUGUÊS
ou seja
HETERÓNIMOS DE UM DISCURSO AMOROSO
Na minha lista pessoal de paixões tão românticas como esquivas, fica sem
dúvida o Português.
O Português foi destinatário de
um amor utópico e tenaz e, talvez porque queria provar a veracidade da teoria
da lebre e do caçador, o Português
escondeu-se durante os muitos anos em que eu passei à sua caça.
Como é que tudo começou?
Começou com uma fascinação auditiva, uma languidez enquanto eu ouvia os
sons líquidos e aparentemente indecifráveis do seu falar.
Inicialmente procurei estabelecer um contato com ele… e como é que se
estabelece o primeiro contato com um ser desejado? Mas quando falamos a mesma língua
e conseguimos entender-nos!
Então, comecei a estudar aquela misteriosa pronúncia nos pequenos dicionários
de bolso que tinha na minha casa.
Alguma coisa não funcionou. Não parecia que o Português estivesse a estabelecer comigo uma correspondência de
amorosos sentidos.
E o que é que há de mais horrível do que a sensação que o nosso amado está
a zombar, a rir de nós?
Foi o que aconteceu enquanto eu procurava aproximar-me dele e acabei por me
sentir ridícula… mais o menos isto foi o que passou:
(Tratto
dal film Lisbon Story di WimWenders)
Aquilo era… era estrangeiro…
Foi pior quando um senhor, um certo Álvaro de Campos, que afirmava que ele
tinha familiaridade com o Português
(nem sei se era o seu nome verdadeiro… não podia estar mais confusa) confirmou
aquele terrível pressentimento que eu tinha e, enquanto eu estava a escrever ao
meu amado de uma maneira atrapalhada mas sincera, disse-me: “As cartas de amor são ridículas”*!!!
Então, não era o caso de insistir mais.
O tempo passou, muitos anos ficaram entre aquele sonho não realizado e eu.
Mas assim como tudo chega a uma maturação, da mesma maneira aquela paixão
nunca interrompida, só submersa, voltou a brotar numa primavera memorável que
cheira a jasmins e amizade.
Nesta primavera o Português rendeu-se
ou fui talvez eu que me rendi à sua tirania fonética, a quem causa saudades e
ao mesmo tempo sabe matar saudades; este sentimento passou a ser uma sensação
de intimidade de voltar a uma casa onde partilhamos com os companheiros e juntos
ficamos mais ricos: já encontrámos a nossa casa portuguesa interior.
Agora sei que “as cartas de amor, se
há amor, têm de ser ridículas”.
Agora
sei.
ANNALISA SANDIROCCO
Bravissima !!
RispondiEliminaUma linda declaração de amor! Parabéns.
RispondiEliminaBela carta, um amor sincero. Uma paixão. Parabéns
RispondiEliminaDonatella Salvi
Testo stupendo!
RispondiEliminaQuando comecei a aprender a língua portuguesa foi atingidos pelos mesmos sentimentos do teu texto. Depois os meus professores me fez sentir a minha alma portuguesa, que agora tenho no meu coração. Texto muito lindo, parabéns!
RispondiEliminaParabéns Annalisa! Gostei imenso!
RispondiElimina