Descrição de uma viagem à
roda do meu quarto
Eu não sou Xavier de Maistre, todavia esta é uma descrição de uma viagem à
roda do meu quarto: uma descrição nem neutra, nem sistemática à moda dos escritores
do Nouveau Roman.
Agora vou explicar: se o mundo pode ser uma representação, uma deformação também,
dos nossos olhos, a casa é sempre o espelho do que nós somos, dos nossos estados
de ânimo, portanto nesta viagem, a minha bagagem é a lente da ironia. Gosto de
empreender a minha viagem!
Eu sou de Roma mas nos últimos dez anos moro em Milão; por causa do meu novo
trabalho – este é um caso de ironia verdadeira! – durante a semana viajo de
Milão para Roma, onde fico de terça até quinta feira. Os meus pais chamam-me “o
passageiro” e chamam o comboio “a casa verdadeira do nosso filho”.
A casa onde moro em Milão fica na zona norte da cidade, longe do centro
histórico, perto do parque Sempione; ao lado da minha casa há uma mercearia muito
conhecida pelos seus queijos, cara também, onde gosto de tomar os meus jantares
e onde gasto o meu salário todo.
A minha casa fica ao 4° andar de um prédio sem elevador; tem a fachada típica
dos prédios de Milão, feita de pedra cinza, sem varandas, com os telhados de
ardósia: uma fachada construída em 1811 com um caráter grave, reservado, quase tímido:
o modo dela de ser milanesa.
A rua onde moro é tão estreita que quando há nevoeiro cerrado, o nevoeiro
entra pelas janelas e a sala parece a estação central de Londres. Do sofá onde
agora estou sentado – do sofá da sala - posso ver a casa toda: à direita há a
cozinha ou a ideia de cozinha, porque é muito mais que pequena; à esquerda há o
meu quarto e a casa de banho. Tenho uma varanda pequena para o pátio do prédio,
onde fica a maquina de lavar roupa.
A minha sala é uma caixa de charutos com duas janelas: as paredes todas são
cheias de livros arrumados nas estantes de madeira; tenho os livros em baixo da
mesa e das janelas, atrás das cortinas, em cima da chaminé. Uma cadeira muito
larga, muito desconfortável também, é construída com livros de arte. Na sala há
dois sofás e uma mesa redonda; não gosto de estender os tapetes por causa da
minha alergia terrível ao pó.
No meu quarto há uma cama japonesa muito baixa e dois roupeiros de madeira;
a cortina é verde azulado: não tenho livros no quarto: eu gosto do minimalismo:
então no quarto, em cima da cama, há um quadro só: um retrato feito por uma pintora
não conhecida de que eu gosto: um retrato de homem a preto e branco: o meu pai.
Na cozinha tenho…. Na verdade a minha cozinha é um frigorífico só com o
fogão e um lava loiça… Eu sou muito minimalista! Não tenho mesa; não tenho a máquina
de lavar loiça; quase não tenho loiça para lavar…
A casa de banho é o quarto mais largo e lindo na casa: ao meio há uma banheira de ferro fundido com pés: muito linda e muito cenográfica, mas inutilizável (de manhã gosto de tomar um duche!). Na parede inteira em frente da porta há um espelho muito largo e do tecto pende um candeeiro de vidro, talvez roubado do palácio real… A casa de banho parece uma sala de espera nos banhos termais: de onde é que vinha o arquiteto? Talvez ele fosse da Hungria?
MATTEO CANALE
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