LUÍS MIGUEL CINTRA como António Vieira na igreja de Santo António dos Portugueses
Nota de Intenções
«PALAVRA E UTOPIA é o título do projecto de um filme muito particular. O assunto versa sobre a vida do Padre António Vieira, famoso pelos seus sermões. Podemos e devemos salientar, que ele próprio não considerou os seus sermões a cousa mais importante da sua vida. No entanto, os dados biográficos seriam de menor interesse se os desligasse dos sermões e das cartas. Cartas e sermões, porém, são palavras. Foi sob esta óptica que procurei desenvolver uma planificação para o filme: púlpitos do Brasil, em São Salvador da Baía e em S. Luís do Maranhão, naturalmente em Lisboa, Coimbra e, também, em Roma; encontros em Portugal com Inquisidores, com o Rei e com o Príncipe Regente; no Brasil com governadores e colonos; em Roma com o Papa e a Rainha Cristina da Suécia; na Holanda com um Rabi; em França, quando de regresso a Portugal, embarcado descia rio Garona, em direcção a Bordeaux, cegou duma vista; e ainda as tantas vezes que atravessou o Atlântico, tendo até naufragado perto dos Açores quando, expulso do Maranhão, veio pela última vez a Portugal.
Contar esta estória, amarrado à vigilância por mim solicitada ao historiador P. João Marques, tanto vale como uma amarra a pés e mãos, como força para uma abordagem aos sermões guiados pelas anotações preciosas das cartas do próprio Vieira.
Assim me debrucei sobre esta forma de narrativa fiel a tempo e lugares, e original por não recorrer desta vez a reconstituições de época, como é hábito comum quanto a filmes históricos. Enfim, uma construção sui generis muito do meu agrado por tudo se condensar num estilo reduzido ao essencial.
Assim, PALAVRA E UTOPIA não será nem filme documentário, nem histórico, nem didáctico, nem biográfico, embora siga uma ordem cronológica. Será, sim, uma ficção com todas as premissas que esta possa permitir. Sem perder a correcção histórica, poderá ter o seu lado didáctico, na medida em que a ficção se afirma pela autenticidade dos documentos que a guiaram sem se afastar mais do que o rigor permitia.»
Manoel de Oliveira
Ainda a propósito de Padre António Vieira, recordamos que o filme que sobre ele fez Manoel de Oliveira em 1999, "Palavra e Utopia", foi em parte filmado em Roma, e na igreja de Santo António dos Portugueses. Incluímos aqui a "Nota de Intenções" que sobre o filme fez Manoel de Oliveira.
Nota de Intenções
«PALAVRA E UTOPIA é o título do projecto de um filme muito particular. O assunto versa sobre a vida do Padre António Vieira, famoso pelos seus sermões. Podemos e devemos salientar, que ele próprio não considerou os seus sermões a cousa mais importante da sua vida. No entanto, os dados biográficos seriam de menor interesse se os desligasse dos sermões e das cartas. Cartas e sermões, porém, são palavras. Foi sob esta óptica que procurei desenvolver uma planificação para o filme: púlpitos do Brasil, em São Salvador da Baía e em S. Luís do Maranhão, naturalmente em Lisboa, Coimbra e, também, em Roma; encontros em Portugal com Inquisidores, com o Rei e com o Príncipe Regente; no Brasil com governadores e colonos; em Roma com o Papa e a Rainha Cristina da Suécia; na Holanda com um Rabi; em França, quando de regresso a Portugal, embarcado descia rio Garona, em direcção a Bordeaux, cegou duma vista; e ainda as tantas vezes que atravessou o Atlântico, tendo até naufragado perto dos Açores quando, expulso do Maranhão, veio pela última vez a Portugal.
Contar esta estória, amarrado à vigilância por mim solicitada ao historiador P. João Marques, tanto vale como uma amarra a pés e mãos, como força para uma abordagem aos sermões guiados pelas anotações preciosas das cartas do próprio Vieira.
Assim me debrucei sobre esta forma de narrativa fiel a tempo e lugares, e original por não recorrer desta vez a reconstituições de época, como é hábito comum quanto a filmes históricos. Enfim, uma construção sui generis muito do meu agrado por tudo se condensar num estilo reduzido ao essencial.
Assim, PALAVRA E UTOPIA não será nem filme documentário, nem histórico, nem didáctico, nem biográfico, embora siga uma ordem cronológica. Será, sim, uma ficção com todas as premissas que esta possa permitir. Sem perder a correcção histórica, poderá ter o seu lado didáctico, na medida em que a ficção se afirma pela autenticidade dos documentos que a guiaram sem se afastar mais do que o rigor permitia.»
Manoel de Oliveira
Agosto 1999
IN:
VER também, de Francesco Giai Via, "Palavra e Utopia - Strange Ficition"
E AINDA:
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