O Embaixador de Portugal junto do Quirinal, Doutor Vasco Valente, está a despedir-se de Roma. No passado dia 10 de Junho, nos jardins da Villa Barberini-Frankenstein, residência oficial do representante de Portugal junto do Estado italiano, a tradicional festa do dia de Portugal, unindo elementos da comunidade portuguesa, lusófilos e lusitanistas e membros do corpo diplomático, tinha um qualquer coisa de melancólico: a saudade antecipada por um Embaixador que cumpriu impecavelmente o seu papel.
Nas suas próprias palavras, “a vida diplomática não é wine and roses, nem está limitada à chamada “diplomacia do croquete”. Para se ser bom diplomata é preciso ter uma boa preparação de base em política, relações internacionais e economia, ser-se ponderado e equilibrado em todas as circunstâncias, sobretudo nos momentos de maior tensão. E, claro, ter sentido de humor para fazer frente ao dia-a-dia.”
De tudo isto é bem exemplo o Doutor Vasco Valente, com quarenta anos de carreira diplomática, na qual serviu as missões portuguesas de Londres, Lusaka, Luanda e Vaticano e, já como Embaixador, Estocolmo e Pretória, sendo o representante permanente de Portugal junto da União Europeia até ser nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Portugal em Roma. A 22 de Novembro de 2002 apresentou credenciais ao Presidente Carlo Azeglio Ciampi.
Os méritos do Embaixador Vasco Valente foram reconhecidos em Sessão Solene do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a 10 de Junho de 2004, em Bragança, quando foi agraciado pelo então Presidente da República, Doutor Jorge Sampaio, com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo.
O Diário de Notícias, em artigo de Paulo Spranger de 1 de Maio deste ano, noticiava que “na sequência da presidência portuguesa da União Europeia, o Governo português procedeu a um movimento diplomático que envolve cerca de 30 postos”, incluindo várias embaixadas: “Roma passa a ser chefiada pelo actual secretário-geral do MNE e ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Fernando Neves. (...) No Ministério dos Negócios Estrangeiros, o novo secretário-geral vai ser Vasco Valente, actual embaixador de Portugal em Roma”.
Cumpre acrescentar que ao lado do ilustre diplomata esteve sempre uma ilustre senhora, de grande beleza e dignidade. Aproveitamos, pois, para saudar também a senhora D. Teresa de Lancastre Valente.
Em anexo, uma interessante entrevista conduzida por MARIANA SERUYA CABRAL e publicada o jornal "O Mundo Universitário" a 6 de Novembro de 2006:
http://www.mundouniversitario.pt/docs/473/48.pdf
O que é que o fascinou na profissão,
em primeiro lugar?
A possibilidade de lidar com uma área
que desde muito novo me interessou,
a da política internacional; depois, a
possibilidade de viver no estrangeiro,
o que naquela época não era pouco,
sendo a sociedade portuguesa de
então – anos 60 – fechada e sufocante.
Qualquer estudante pode aspirar a
este tipo de profissão?
O concurso para ingresso na carreira
diplomática está hoje aberto a licenciados
com um curso superior, ao contrário
do que sucedeu durante muitos
anos, quando estava limitado a quem
tivesse os cursos de Direito, Letras,
Economia ou Política.
Em traços gerais, quais são as competências
de um embaixador?
Em duas palavras, o embaixador é
quem representa o Estado no país em
que está acreditado, competindo-lhe
defender ali os interesses nacionais.
Que tipo de perfil intelectual e emocional
lhe é exigido no dia-a-dia das
tarefas diplomáticas?
Ao contrário do que muita gente ainda
erradamente pensa, a vida diplomática
não é wine and roses, nem está
limitada à chamada “diplomacia do
croquete”. Para se ser bom diplomata
é preciso ter uma boa preparação
de base em política, relações internacionais
e economia, ser-se ponderado
e equilibrado em todas as circunstâncias,
sobretudo nos momentos
de maior tensão. E, claro, ter sentido
de humor para fazer frente ao dia-
-a-dia.
Como descreve um dia comum na
sua rotina diária?
Os dias nunca são felizmente iguais,
mas uma rotina pode ser mais ou
menos assim: ouço logo de manhã as
notícias na rádio, leio os principais
jornais de opinião italianos, visito os
sites na internet da imprensa portuguesa
e alguma internacional; depois
de uma rápida reunião com os meus
colaboradores para fazermos o ponto
da situação e organizarmos o nosso
trabalho, leio as comunicações chegadas
entretanto do Ministério dos
Negócios Estrangeiros (MNE), de
Lisboa e, quando é caso disso, vou
ao MNE italiano para falar sobre
algum assunto; para o almoço, convido
por vezes um político, um jornalista
ou um diplomata italiano; à tarde,
continuo o meu trabalho e, quando é
caso disso, acabo o dia indo a uma
recepção oficial ou um jantar na
Embaixada.
É fácil cumprir todos os rituais de
etiqueta e protocolo inerentes ao
trabalho numa Embaixada?
Facílimo, é um mundo perfeitamente
normal, basta boa educação, sabermos
o que estamos a fazer e sermos
iguais a nós próprios.
É comum receberem personalidades
políticas e vedetas nacionais na
Embaixada?
É frequente e sempre uma agradável
oportunidade para nos mantermos a
par do que se passa em Portugal.
A faceta “nómada” da profissão
prejudica, de alguma forma, a vida
em família?
Pode prejudicar. Antigamente, por
exemplo, era comum que a mulher
acompanhasse o marido quando ele
ia para o estrangeiro; hoje, se a mulher
tem uma carreira profissional própria,
isso poderá não acontecer. Essa faceta
nómada, como bem lhe chama, é
penosa para nós, pois, ao sairmos
dum país, se fizemos bem o nosso trabalho,
deixamos ali amigos e recordações.
Há também o problema da
educação dos filhos: nem sempre se
é colocado num posto em que haja
condições para lhes dar uma boa educação.
São obrigados a mudar regularmente
de escola e de amigos e têm,
por vezes, tendência a perder as suas
raízes em Portugal.
Por detrás de um grande embaixador
há sempre uma grande embaixatriz?
Sem qualquer dúvida. Com alguma
malícia, há mesmo algumas que não
resistem a citar a frase da mulher dum
político, salvo erro canadiano, quando
confrontada com uma pergunta como
esta, respondeu que «behind a successful
husband, there is always a surprised
wife». Mas, falando a sério,
para o sucesso da missão dum embaixador
contribui muito, e digo-o por
experiência própria, o trabalho da
mulher, muitas vezes discreto, por
detrás da cena, outras mais evidente,
nos contactos que tem no dia-a-dia.
É um orgulho representar Portugal
no estrangeiro?
É um orgulho, um privilégio e também
uma grande responsabilidade, representar
o nosso país no estrangeiro e
procurar que ele seja bem compreendido
e bem aceite.
Leia-se ainda o artigo do Embaixador Vasco Valente, publicado na revista do IAPMEI em Setembro 2004, “Itália: uma redescoberta, um desafio”:
http://www.iapmei.pt/acessivel/iapmei-nwl-02.php?tipo=1&id=766
Ver também
www.embportroma.it
1 commento:
Esperemos que o Sr. Embaixador seja punido pelos crimes de abuso de poder e falsificação de documentos. Pulha!
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