mercoledì 15 dicembre 2010

Mais uma recensão de Duarte Pinheiro no "Grande Porto"


O nosso amigo, docente de Português nas Universidades de l'Aquila e de Salerno, Dr. Duarte Pinheiro, acaba de publicar mais uma recensão no jornal "Grande Porto".
Aqui deixamos o seu texto para os nossos leitores e saudamos o Autor, com votos de boas festas!


http://www.grandeportoonline.com/catalog/productImages/semanariograndeporto.pdf



ROMANCE SUJO


Adriano é um “ reles jornalista
do mais reles desporto,
o futebol” (p.34). A
sua vida diária é sôfrega,
rotineira, desinteressante
e mesquinha. A história do
livro é o ramerrame quotidiano
de Adriano. E não há
qualquer lugar para mudança,
nem a personagem
se esforça para tal. Apenas
as mulheres, Alba, uma
amante precocemente desaparecida
da história, e Armanda,
sua “namorada” e
responsável hierárquica
no jornal desportivo lisboeta
onde trabalha, são as
únicas notas dissonantes
no dia-a-dia desmotivador
da personagem principal.
A tudo isto, junta-se-lhe a
segunda guerra do Iraque
como ruído de fundo, para
que o ambiente seja “deveras”
mais pesado e angustiante.
Mas se a intenção
do autor era parodiar
Húmus de Raul Brandão,
roçando situações descritivas
e adjectivações semelhantes,
o resultado
final é francamente medíocre.
Uma linguagem
aparentemente cuidada
convive com coloquialismos
abjectos. Pessimismo,
niilismo e noções sociológicas
flutuam num mesmo
universo (a)literário,
cuja palavra dominante é
“andróide”, mesmo não se
tratando de uma narrativa
de ficção científica. Todavia,
o leitor tem direito a
divertir-se com Adriano
que “Só no ginásio, entre
máquinas de culturismo,
o ringue e a piscina, largava
os seus pensamentos
maléficos de autodestruição.”
(p. 25) ou ainda com
o mecânico deste, também
ele um filósofo que sopra
umas baforadas de Nietzsche
“O que eu faço, prosseguiu
o mecânico quase
em êxtase, é tentar reparar
os danos do tempo e nessa
operação intervenho
como agente do eterno retorno.”
(p. 93).
E como uma desgraça
nunca vem só, há imprecisões
linguísticas, erros
ortográficos e gralhas que
conspurcam um romance
já de si sujo: ora é escrito
“média”, ora por vezes
media; “índicio”? (p. 115)
em vez de “indício”, e ainda
frases nas quais os acentos
gráficos são meros espectadores,
como “criaturas
saidas de um quado [é
uma gralha, falta mesmo
uma -r- no original] de Bacon
poluissem os seus corpos…”
(p. 97). O que sobra
então deste romance breve?
Um final inacreditavelmente
previsível e coerente
com o resto da história.
Sob o ponto de vista gráfico,
o livro até atrai, é pena
que a atracção seja só essa.
Muito pouco para o fundador
e coordenador da revista
Nada, mas o suficiente
para o leitor pensar que
algo está podre e torpe no
reino da literatura portuguesa.


DUARTE PINHEIRO


Nessun commento: