lunedì 18 aprile 2011

ISABELLA MANGANI: O Museu Ideal


Ao desafio de escreverem sobre “um museu ideal” responderam alguns alunos, cujas composições aqui se publicam...


O museu ideal


Caros amigos e colegas, aqui estou hoje para vos apresentar os resultados da minha pesquisa, que durou 5 anos e me levou aos quatro cantos do mundo. O Excelentíssimo Senhor Doutor Engenheiro e Senador Bompensamento, chefe do Comité para a difusão da Cultura Global – que como sabem nasceu depois da Revolução das Frésias – teve a bondade de me nomear Grande Exploradora dos Futuros Possíveis e deu-me a tarefa de identificar o museu ideal aqui na nossa Confederação dos Estados Terrestres.


Viajei muito, visitei todos os grandes museus do planeta, mas confesso-vos que me dediquei sobre tudo a falar com as pessoas: velhotes e crianças, jovem adultos, homens e mulheres e tudo o que está no meio e para além destas etiquetas.


Descobri algumas coisas que me deixaram espantada, cheia de maravilha e que vos vão surpreender também. Às vezes deveríamos, todos nós que estamos aqui sentados nas nossas poltronas acolchoadas, deveríamos sair para a rua e falar com a gente. E ao mesmo tempo – eu sei, caros colegas, quanto isto é complicado – ficar a ouvi-la, elaborar o que ouvimos e pô-lo em prática. Quantas vezes nem prestamos atenção uns aos outros mesmo aqui dentro? Já são muitos os progressos registados desde a Revolução, mas ainda há muito para fazer. Não marquemos passo, colegas! Os nossos antecessores deixaram-se cegar pelo poder, e todos sabemos como acabou. Foi por isso que o Comité decidiu construir o “museu ideal”: um lugar onde, enfim, toda a gente poderá “aprender do passado e viver o presente com um olhar no futuro” (este é o lema da iniciativa).


Assim, falando e escutando, compreendi que a gente da rua tem muitas boas ideias e que é muito mais aculturada do que ela mesma acha. Ao meu perguntar qual seria o seu museu ideal, uma mendiga em New Orleans disse que nem sabia ler, ma se tivesse tido dinheiro bastante para um bilhete, adoraria “visitar um jardim de rosas e saber como funciona uma estufa”; na Holanda, um rapaz muito cético com um skate debaixo do braço disse que os museus contêm “coisas mortas” e o que ele gosta são rios, que flúem como as rodas do seu skate, e que se houvesse um “museu dos rios” ele lá iria; um senhor japonês disse-me que num museu queria “ver e tocar a verdade”; uma menina queniana acrescentou que queria “ter a possibilidade de escolher” ... e por aí adiante. Tudo isto me lembrou das minhas leituras de filosofia e não só. Lembrei-me duma frase de um livro do Erik Orsenna, linguista, jornalista, amigo das crianças e portanto da humanidade: era simplesmente assim, “a única verdade é a escolha, a possibilidade de escolher”. Por sua vez, esta parece uma elaboração duma célebre frase do filósofo apólide Jiddu Krishnamurti: “A Verdade é uma terra sem caminhos”. Isto deixou-me refletir sobre a possibilidade de aprender com experiências passadas e a necessidade de achar o próprio caminho sem dogmas.


Colegas, amigos, e Excelentíssimo Senhor Doutor Engenheiro e Senator Bompensamento a minha proposta para o museu ideal é de não construir nenhum prédio além dos que já existem. A minha proposta estratégica vai ser esta: a adopção de medidas (em sinergia com todos os media) para que a palavra “museu” volte a comunicar o seu conceito originário, ou seja “templo, lugar sacro e consagrado (às Musas)”, lugar onde a experiência é ativa. As palavras influenciam a língua e a língua influencia a realidade. Segunda e interessante tarefa vai ser de desenvolver meios de transporte ecocompatíveis e baratos para dar a quem quer que seja a possibilidade de ir, conhecer e escutar coisas, pessoas e experiências ao vivo e nos lugares a eles consagrados, sem construir réplicas e réplicas por todo o mundo. Proponho portanto de desenvolver em série a máquina do teletransporte que foi recentemente patenteada. E não façam desaparecer o projeto como aconteceu no século passado ao do duche que recicla a água, está bem?


ISABELLA MANGANI

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