lunedì 12 marzo 2012

Maria Serena Felici escreve sobre "Tradições"



Agradecemos à nossa excelente aluna MARIA SERENA FELICI mais uma colaboração com este blogue, com o texto que apresentamos em seguida:


TRADIÇÕES




A tradição constitui o “como” e o “porquê” da maioria daquilo que fazemos. Mesmo sem nos darnos conta, quase todas as nossas acções quotidianas são atitudes que nos foram transmitidas através de muitas gerações, e que entraram a fazer parte dum sistema tão arreigado que já as cumprimos sem perguntarmos o motivo: a maneira em que nos cumprimentamos, despedimos, falamos, comemos, vestimos, rezamos, passamos o tempo livre, o ritmo que marca os nossos dias; a tradição encontra-se inclusive na raiz da forma em que se apresentam os lugares em que vivemos, na arquitectura, na arte. Está sempre ligada às necessidades humanas, biológicas, climáticas, sociológicas, e junto com todos esses factores forma o objecto de estudo da antropologia e a história do ser humano.


Ora, eu acho que as tradições podem ter consequências muito positivas ou muito negativas, conforme a capacidade de raciocinar das pessoas. Observar as tradições e transmiti-las é certamente algo muito bom se conduz a um conhecimento mais profundo das próprias origens e história, se é acompanhado pelo estudo do passado, porque nesse caso significará transmitir cultura. Vivemos numa época em que os media querem convencer-nos a adoptar costumes que não são os nossos, para alimentar um mercado global que só tem o efeito de sufocar as economias que não conseguem manter os ritmos impostos por quem manda; nos anos que seguiram à segunda guerra mundial muitos países perderam a noção das próprias tradições para adoptar as dos Estados Unidos da América, e isso porque os norte-americanos, que não tinham tido o conflito no próprio solo e que por isso tinham danos económicos muito inferiores a outros, elargiram “ajudas” das quais acabaram por ganhar o dobro: por “gratidão”, os países que receberam o dinheiro americano do chamado “plano Marshall”começaram a comprar os produtos yankees, cantar as suas canções, adoptar os seus estilos até substituí-los aos próprios. Isso é o que mais incrementa a injustiça e o desnível económico e social entre as nações, e que, às vezes, quando começa a demonstrar as suas falhas, provoca também reacções opostas mas igualmente nefastas como os nacionalismos e os etnocentrismos. O cultivo das tradições deve ser, pelo contrário, algo muito responsável, porque é assim que leva o ser humano a uma profunda consciência de si próprio, da própria cultura e do facto que ela não passa de uma entre muitas outras: porque quem tem a atitude certa perante a própria cultura chega também a ter curiosidade de conhecer as outras, de entrar em contacto com elas, não para adoptá-las se não lhe pertencem, mas para enriquecer o seu espírito. Não é casual que o enriquecimento interior se chame “cultura”.


O problema é que há uma inclinação infelizmente muito comum a comparar tudo. O contacto com tradições e culturas estrangeiras deveria conduzir à conclusão que todos partilhamos indiferentemente o mundo; pelo contrário, há sempre uma tendência amaldiçoada que ameaça a convivência, a amizade, a paz, que é a de comparar o incomparável. Sempre que conhecemos os costumes alheios somos levados a compará-los com os nossos. Mas se não passam de duas maneiras diferentes de viver a história, conforme dissemos antes, como se podem comparar coisas diferentes? Porquê? Como é possível não encontrarmos nada mais para pensar e dizer do que “isto é melhor, outro é pior”? Seria preciso trabalhar muito sobre o conceito de “Diferente”. Eu tenho uma amiga muito querida bengalesa, e as horas que passo com ela a escutar as tradições do Bangladesh e a contar-lhe as da Itália são as mais agradáveis dos meus dias. Nunca nos passou pela cabeça estabelecer um “Melhor” ou um “Pior”. Tenho de terminar aqui por motivos de espaço, mas sem deixar de sublinhar que a globalização que está a marcar a época em que vivemos não só não constitui um ponto de encontro entre as culturas, mas ao contrário, é a causa das divisões que fazem do ser humano a única espécie viva capaz de se destruir a si mesma por causa das intolerâncias e discriminações.

MARIA SERENA FELICI

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