Tenho pressa
Tenho sempre pressa.
Tenho pressa de ligar o estéreo e de me estender no sofá com os olhos fechados, deixando que a minha mente se perca embalada pela música dum flamengo ou dum fado.
Tenho pressa de me sentar em frente ao cavalete com os meus pincéis e me perder entre as tonalidades do amarelo, do roxo, do azul, no silêncio da noite.
Tenho pressa de brincar com o meu cão e esperar, inutilmente, que me torne a levar a bola que lhe tinha puxado. Olha-o no entanto que pára ladrando como a dizer “o que é que acontece, não vens buscá-la?”
Tenho pressa de entrar num museu e parar por horas para observar os detalhes mais pequenos duma obra.
Tenho pressa de ler um livro, saboreando cada página, quase com medo que acabe demasiado cedo.
Tenho pressa de beber um copo de vinho branco fresco, combinado com um delicioso bacalhau à portuguesa.
Tenho pressa de ver um filme e deixar-me transportar dentro as vidas dos outros.
Tenho pressa de desligar a televisão para nunca ouvir aquelas idiotas que falam sem saber o que dizem.
Tenho pressa de encontrar os meus amigos e partilhar a minha vida com eles.
Tenho pressa de regressar a casa e passar uma noite com o meu marido a falar de tudo, mas também de nada.
Tenho pressa de estar em silêncio.
Tenho pressa de passar um dia todo sem fazer nada, desfrutando cada segundo, cada minuto do meu ócio.
Tenho pressa de rir e de chorar.
Tenho pressa de banhar-me sob a chuva e de queimar-me sob o sol de Agosto.
Tenho pressa de ver as flores do meu jardim abrir-se na primavera.
Tenho pressa de queixar-me, de zangar-me e de comover-me.
Tenho pressa de viver a minha única vida com calma.
CATERINA CUCCHI
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