lunedì 11 febbraio 2008

Bartoli em Lisboa


Sábado passado, dia 9 de Fevereiro, a mezzo-soprano romana Cecilia Bartoli, regressou a Lisboa, ao Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, para apresentar o seu álbum mais recente, Maria, homenagem à diva oitocentista Maria Malibran.

Bartoli, muito amada pelo público português, concedeu uma entrevista ao Diário de Notícias, que aqui publicamos:



Donde surgiu o seu interesse por Maria Malibran (1808-1836)?
Quando me estreei nos palcos, há mais de 20 anos, descobri que tínhamos muito em comum: vozes parecidas, começámos quase com a mesma idade e no mesmo papel (Rosina d'O Barbeiro de Sevilha), ambas ensinadas pelos nossos pais... Depois, foi também uma forma de regressar à minha "origem", ao belcanto rossiniano, redescobrindo-o através dela.

Mas porquê a decisão de centrar nela um disco, um ano de recitais e uma exposição itinerante?
Porque, para mim, ela foi a mais fascinante mulher do século XIX. Ela foi a cantora, a grande deusa oitocentista. Ao mesmo tempo, foi muito moderna, porque revolucionou por completo a forma de estar em palco: ela foi a primeira grande cantora-actriz da história. Criticaram-na muito por isso e também devido à sua relação ilícita com o violinista Bériot. Mas a Malibran era muito corajosa e fez sempre o seu caminho.

A exposição não veio a Lisboa...
Infelizmente... Mas sabe, no dia 24 de Março passam 200 anos sobre o nascimento dela e vamos fazer um Dia Malibran em Paris: levarei lá de novo a exposição [viaja num camião de cidade em cidade] e haverá três concertos nesse dia sobre ela. Alguns dos itens também podem ser vistos na Internet, através do site da minha Fundação. Sabe que mais de 50 mil pessoas já visitaram a exposição? Assim, a Malibran "viaja" sempre comigo e as pessoas podem conhecê-la de facto.

Gostava de ter vivido naquela primeira metade do século XIX?
[pensa] Por um lado, sim, para poder trabalhar com aqueles compositores... e para estrear aquelas óperas... Musicalmente, seria belíssimo, mas para uma mulher, a vida era muito difícil e dura nesse tempo...

Houve um grande trabalho musicológico de abordagem ao repertório que a Malibran cantava?
Sim, primeiro porque o abordamos com uma orquestra de instrumentos de época - o que dá logo outra dimensão à música; depois, porque quisemos recuperar a vocalidade empregue neste repertório, naquele tempo: a tradição interpretativa que conhecemos das gravações de Joan Sutherland ou da Callas está enformada por uma prática bem mais tardia, vinda do verismo [final do século XIX]. Ora o belcanto vem logo após Mozart, não vem com Puccini!

E como fizeram isso?
Regressámos às partituras autógrafas. Quando as líamos, ouvindo as gravações, reparávamos que muito do que era cantado, pura e simplesmente não estava lá! Digo-lhe: o trabalho mais difícil em todo o processo foi pôr a memória sonora de lado e concentrar-me no que está escrito, e a prática do tempo.

E como resolveu o problema da ornamentação?
Na maior parte, canto tal como ela fazia. Usei várias partituras que lhe pertenceram e que são parte da minha colecção...

Da sua colecção?!
Pois, agora já sabe no que gasto os meus cachets! Uns compram sapatos Prada e roupas Armani; eu compro cartas e partituras amarelecidas (sempre rindo)! Os coleccionadores são uma gente louca e eu incluo-me nesse número... Comprei-as a vários coleccionadores europeus e americanos. Claro que não tenho todas! Várias estão em bibliotecas públicas.

E o que se descobre ao ler as linhas vocais da Malibran?
Tenho, por exemplo, as partituras dela da Cenerentola e da Sonnambula e, por ali, consegue-se perceber as suas qualidades e capacidades vocais. E, pode crê-lo, era uma voz portentosa! E, sustentando-me nesses exemplos e no meu conhecimento do repertório, apliquei aquele estilo de ornamentação às peças para as quais não tinha referências dessas.

Como se dava Maria Malibran com Giuditta Pasta, a outra diva da época?
Pasta era mais velha e Malibran adorava-a: numa carta dela, ainda miúda, à Pasta, diz: "gosto tanto de ti que era capaz de te comer!". E sabe-se que a admiração era mútua.


MAIS sobre Cecilia Bartoli em Portugal:


giovedì 7 febbraio 2008

Leonardo em Lisboa


São 20 máquinas de madeira em tamanho real, fabricadas por artesãos italianos que respeitaram as indicações deixadas por Leonardo Da Vinci (1452-1519) há vários séculos, podendo todas elas ser accionadas para demonstração.

Algumas das obras marcaram passos gigantescos nas áreas da engenharia e ciência. Na exposição que pode ser visitada até 25 de Maio, no Forte do Bom Sucesso, em Belém, das 10.00 às 19.00, vêem-se ascensores de manivela, hélices, tanques blindados, automóveis, asas voadoras e barcos de pás. São apenas algumas das invenções do génio renascentista que já passaram por outros países europeus e que ajudarão a redescobrir este importante artista italiano.

"A exposição é um estímulo à compreensão para a cultura, integrando-a num ambiente divertido, onde a aprendizagem se faz sem esforço e se ajuda o público a encontrar espaços que fomentem a sua auto- -realização e o conhecimento das realidades que fizeram e fazem história" diz, sobre a mostra, Paco Molina, da empresa Cultura Entretenida, que a trouxe a Portugal.

As "Asas Voadoras", uma das máquinas de Da Vinci, utiliza manivelas, sistemas de roldanas, cordas e rodas dentadas, com a finalidade de reproduzir fielmente as asas dos morcegos e as suas articulações.

Outra das "máquinas" incríveis é uma bicicleta concebida na Renascença. Foi tão surpreendente que ainda se pôs a hipótese de ser uma cópia, mas "a projecção do sistema de transmissão - a corrente dentada -, idealizada por Da Vinci, que foi encontrada no Códice de Madrid, afastou essa ideia. Paralelamente à exposição, irão decorrer colóquios e actividades relacionadas com a obra de Da Vinci.


Portugal perdeu 3-1 contra Itália

6 de Fevereiro - Portugal contra Itália
(mas só no campo de futebol)

Estádio
Letzigrund, em Zurique (Suíça)

Arbitro: Sascha Kever (Suíça)

ITÁLIA – Amelia; Oddo, Barzagli, Cannavaro e Zambrotta; Pirlo, Ambrosini e De Rossi; Palladino, Di Natale e Luca Toni. Jogaram ainda: Grosso, Perrotta, Gamborini, Borriello, Quagliarella e Cassetti.

PORTUGAL – Ricardo; Bosingwa, Ricardo Carvalho, Bruno Alves e Caneira; Petit e Maniche; Cristiano Ronaldo, Deco e Quaresma; Makukula. Jogaram ainda: Nani, Paulo Ferreira, Fernando Meira, Hugo Almeida, Raul Meireles e Jorge Ribeiro.

Ao intervalo: 1-0
Golos: 1-0, Luca Toni (45 m); 2-0, Pirlo (50 m); 2-1, Quaresma (76 m); 3-1, Quagliarella (79 m).
Resultado final: 3-1




Mais uma "vergonha" - utilizando as palavras de Scolari - passou ontem a Selecção Nacional no Letzigrund, em Basileia, na Suíça, perdendo por 3-1 com uma bela Itália que, diga-se já, fez um grande jogo, ao nível do título de campeã do mundo que ostenta, ou mesmo melhor. Só isso, só perceber que a Itália esteve no seu nível máximo, faz com que haja algumas atenuantes.
(...)
Mas para a Itália jogar tão bem foi preciso Portugal jogar muito mal.

Manuel Queirós
http://dn.sapo.pt/2008/02/07/desporto/mais_outra_vergonha_perante_a_grande.html




Luiz Felipe Scolari aceitou com fair-play a derrota frente à Itália. Mostrou-se até estranhamente conformado. Em sua opinião, os portugueses aprenderam uma boa lição de eficácia e de cinismo por parte do adversário, que poderá "ser utilizada no futuro". E realçou, mais de uma vez, várias deficiências marcantes "Faltou agressividade! Estou mais desiludido com a exibição pois acho o resultado normal. Faltou-nos a malandragem e a experiência que muitas selecções adversárias têm. Só vence quem é experiente. Se não formos espertos no Euro, não vencermos".

Jorge Pedroso Faria
http://jn.sapo.pt/2008/02/07/desporto/scolari_que_portugal_falhou_toda_a_l.html





Num dos estádios que vão receber o Euro-2008, em Zurique, a Itália entrou mais forte no jogo, mas sem criar perigo de maior para a baliza de Ricardo. Aos poucos, a Selecção portuguesa tomou conta do jogo, pressionou até certo limite do terreno, mas a partir de aí a Itália, exímia a defender, colocou um sinal vermelho e a formação portuguesa não teve arte e engenho para chegar ao golo. Mesmo em cima do intervalo, a Itália coloca-se em vantagem, através de Luca Toni. Um golo a frio com culpas para a defesa lusa e também do guarda-redes Ricardo. A vantagem dos italianos ao intervalo não espelhava o que se passou em campo.

http://www.abola.pt/nnh/index.asp?op=ver&noticia=135360&d=1&tema=7




IMPRENSA ITALIANA:
http://www.repubblica.it/2008/02/sezioni/sport/calcio/nazionale/portogallo-italia/portogallo-italia/portogallo-italia.html

mercoledì 6 febbraio 2008

Ainda Ana Marques Gastão

Aproveitando a dupla citação de Ana Marques Gastão/jornalista, é justo a evocação da poeta Ana Marques Gastão, amiga de Itália, que esperamos ver em breve em Roma...


ALVO


Por uma vez conta como o corpo se ajusta à superfíciedas tuas palavras. Fala de um depois anterior, desse sonodemente na fissura da luz; do violento voo ou feridacíclica, a ausência excedendo-se na pele quando a desorasperfumas minhas mãos. Estende-se o calor aos lábios,o verão simula a duração no verso, circula a água, vigorosa,no fundo do poço até desaparecer na cama muda.Nada é o que parece, lembra-se o que se esquece e eu digoos dedos descalços dissolvem em tua boca o mel à flor dosdestroços. Olha-me: deita o olhar em meu vestido, tira-onum gesto ébrio e precipitado como a um prisioneiro,os peixes sobem lestos no lago imoderado e a noite volta,lenta, adormecida. Dou-te o que não tenho – a históriade um rio exultante a explodir na boca em versão romântica,poema sem trágicos sulcos ou fala completa. E tu, tu dás-meo que sou: metáfora doendo-se alto onde acaba o texto.


Ana Marques Gastão

In Nós/Nudos, Gótica, 2004






Ana Marques Gastão nasceu em Lisboa, em 1962. É poeta, crítica literária e redactora cultural do Diário de Notícias, tendo trabalhado antes no Diário Popular e na revista Face.

Reconhecida como uma voz peculiar entre os novos poetas portugueses, integra várias antologias e tem representado Portugal em diversos eventos internacionais.


MAIS sobre Ana Marques Gastão:

António Vieira - Mestre da língua portuguesa

"O Padre António Vieira a pregar"
reconstituiçãode João da Cunha Neves e Carvalho, in "Galeria pitoresca da historia portugueza", 1842

Na mesma edição do Diário de Notícias, Ana Marques Gastão publica uma breve biografia de Padre António Vieira.





António Vieira nasceu em Lisboa de uma família modesta de servidores do Paço. Entre os seus ascendentes contava-se uma avó mulata, provavelmente filha de uma escrava negra trazida para a metrópole. Jesuíta, pregador, missionário, homem de Estado, clássico vigoroso e dúctil da língua portuguesa, nele se fundem o idealismo utópico, sebastianista, e o homem de acção, tanto no domínio social como político.


Paladino de alguns direitos humanos (não tanto para as mulheres...), lutou por um Portugal independente, aquém e além-mar na época da Restauração. Nele acentuam-se facetas do Barroco, como o jogo, a ironia, o culto do paradoxo, a extravagância e a espiritualidade, bem como era sua uma mentalidade de feição escolástica e messiânica.


Se, para Marcel Bataillon, "Vieira era quixotesco", o jesuíta não tem apenas um lugar proeminente na literatura, mas na vida portuguesa do séc. XVII, tanto na metrópole como no Brasil. Talvez a sua ascendência tenha sido vital no futuro missionário que conhecia a língua geral dos índios. Foi aliás, no colégio da Baía que adquiriu uma formação de latinista, bem como aguçou a destreza dialéctica que o tornam único no seu tempo. Ordenado sacerdote em Dezembro de 1634, depressa se tornou num pregador teatral, acutilante e desassombrado, impetuoso.


De D. João IV e D. Luísa de Gusmão recebeu a admiração e a S. Roque acolhia um público só para o ouvir. Nos sermões de Vieira, as teses defendidas eram, umas vezes, teológicas, outras morais e políticas. António Sérgio considerou-o um clássico pela expressão, transparente, liberta da moda cultista: "Se gostas da afecção e da pompa das palavras e do estilo que chamam culto, não me leias" - adverte o orador, explicando que sempre lhe valeu a clareza e que só por ser entendido era ouvido. Defendia, portanto, uma estética da simplicidade, contra os "requintes gongóricos", e a refutação de elementos contrários no desenvolvimento da argumentação, após o que exigia o tirar uma conclusão.


Era um homem do poder estético, do movimento dialéctico, da música da palavra, concisa ou densa, não alheada da perspectivação de ideias, movimentada, plástica, valores, afinal, de uma época cultivadora de jogos de imagens quando era perigosa a reflexão. Gostava de ser admirado, havendo quem o acusasse de querer "pasmar" em vez de converter". Quanto ao púlpito, refere Hernâni Cidade, era a válvula de escape do comentário político."


Padre António Vieira, independentemente da abundância de uma personalidade invulgar e do vasto raio da sua acção , deve ser lembrado como um dos grandes mestres da língua portuguesa.


Ana Marques Gastão

Vieira e as mulhres, por Ana Marques Gastão


De seguida apresentamos o texto publicado na edição de hoje do Diário de Notícias, sobre o papel da mulher na obra de Padre António Vieira, pela jornalista e poeta Ana Marques Gastão.

No dia em que o jesuíta português faria 400 anos...




Por que não evocar Vieira - símbolo do Barroco ibérico por excelência - no dia em que passam 400 anos do seu nascimento, relembrando as suas argumentações perante sexo oposto?


Antecipemos, pois, algumas das ideias de um estudo sobre a matéria ainda em fase de provas. O Padre António Vieira e as Mulheres/O mito barroco do universo feminino trata, não do contacto que o jesuíta teve com as mulheres na vida quotidiana, mas do papel assumido por estas, para o bem o e para o mal, na sua obra, sobretudo no sermonário.


Os autores do livro, a publicar, em breve, pela Campo das Letras, são José Eduardo Franco, historiador, poeta e ensaísta, doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, em História e Civilização, e em Cultura pela Universidade de Aveiro, e Maria Isabel Morán Cabanas, professora de literatura portuguesa na Universidade de Santiago de Compostela.


Que pretende, afinal, este longo ensaio? Fornecer dados - alguns deles novos -, para uma melhor compreensão da visão barroca do universo feminino nos sermões de Vieira como expressão de um longo processo de elaboração, ao longo de vários séculos, de uma imagem mítica da mulher.


Já Ana Hatherly, pioneira no tratamento desta temática, escrevera que, do ponto de vista artístico, na cultura ocidental, judaico-cristã, existem dois grandes paradigmas: "o da tentadora, que conduz o homem à perdição, e o da salvadora, que o conduz à redenção."Se, para a escritora e estudiosa do Barroco,"entronizar a mulher através do platonismo é uma forma de exorcizar pela distância o fascínio erótico que e ela exerce, santificá-la é outra forma de neutralizar o impacte da sua sedução transferindo-o para o plano do aceitável, e até louvável, em termos morais. (Imagens da Mulher, do Humanismo ao Barroco in O Ladrão Cristalino/Aspectos do Imaginário Barroco, Cosmos)".


Ora, no entender de António Vieira, a mulher é capaz dos "actos mais nobres e dos sentimentos mais divinos", podendo "originar os desastres mais graves, as paixões mais avassaladoras e perturbadoras da harmonia pessoal e social", e até ser uma via para a ascensão do homem. Esta visão dir-se-ia, bem ao gosto do Barroco, paradoxal.


Explica José Eduardo Franco: "O paradigma mariano pode ser entendido como "a auto-estrada para Deus e o eviano como a "viela para a tentação". Mas se, no seu sermonário, Vieira, reelaborando a cultura de fundo judaico-cristã e greco-romano, exprime as ideias dominantes e inferiorizantes em torno da condição feminina - a sociedade e a igreja seiscentista eram misóginas -, pressente-se o despertar, quase imperceptível, de uma certa consciência crítica perante o universo feminino, tão triunfante, segundo D'Ors, neste tempo quanto derrotado.


Relembrem-se, no entanto, os dizeres de Vieira, ao gosto da época, mas ainda assim inacreditáveis: "Não quis o Autor da natureza que a mulher se contasse entre os bens móveis. O edifício não se move do lugar onde o puseram; e assim deve ser a mulher, tão amiga de estar em casa, como se a mulher e a casa foram a mesma coisa." Ou: "É tal a inclinação e tão impaciente na mulher o apetite de sair e andar, que por sair e andar deixou Eva o esposo, e por sair e andar deixou a Deus. Oh, quantas vezes, por este mesmo apetite vemos deixado a Deus; e os esposos pior que deixados."


Apesar disso, Vieira muito apreciava mulheres de espírito, cultas, tendo escrito sobre figuras bíblicas, mártires santas místicas, Maria. Uma admiração mútua existiu entre o jesuíta e a rainha Cristina da Suécia, que residiu em Roma depois de abdicar do trono e de se converter ao catolicismo.


A integração comparativa da obra do jesuíta no âmbito do Barroco ibérico é uma das inovações deste estudo que vem a ser preparado desde 2004: "Mesmo assim, Vieira foi um grande cantor do feminino nas grandezas e nas misérias!", comenta o ensaísta.


Ana Marques Gastão

martedì 5 febbraio 2008

Carnaval em Portugal e em Roma

I Moccoletti al Corso, Ippolito Caffi, 1850 c.

Claude Gillot (1673-1722), Quatre études de costumes de la Commedia dell'arte , Genève, collection Jean Bonna.


“Carnevale Romano”

Tornado particularmente famoso durante a época romântica, graças à poesia de vários autores, como o alemão Goethe, o Carnaval Romano era festejado pelos habitantes da cidade que se travestiam com fatos multicores, representando personagens tais como o advogado, o mendigo, a mulher do povo. Tradição extinta há mais de um século, permanece na memória urbana, pois tratava-se de uma festa pública de enorme dimensão, que durava oito dias, até à noite de terça-feira de Carnaval, véspera do início da Quaresma.

Era a única ocasião em que se podiam transgredir as rígidas normas de ordem pública e em que se trocavam os papéis: o rico vestia-se de pobre e o pobre de rico. Jóias feitas de gesso, penteados extravagantes e posturas bizarros completavam o ritual carnavalesco de Roma.

Entre outras tradições, recorde-se o concurso dos “moccoletti” (velas, no dialecto romano): os romanos corriam pelas estradas da cidade com uma vela na mão, tentando apagar as velas dos outros. Para além desta, faziam-se desfiles de máscaras (de personagens da Commedia dell’Arte, como Pulcinela e Arlequim), bailes públicos (festini), lançamento de confetti e sbruffi.

O primeiro local usado para os festejos, desde a época medieval, foi a actual piazza Navona, até que, em meados do século XV, passou para a zona da actual via del Corso.

MAIS sobre o Carnaval romano:
http://roma.freewebpages.org/romac16i.htm



Carnaval em Portugal

Há várias zonas do país em que o Carnaval é celebrado; os mais célebres Carnavais são os de Ovar, Madeira, Loulé e Torres Vedras.

Os Carnavais de Podence e Lazarim têm uma clara origem pagã – visível na personagem do “Careto”:

Talvez mais do que em qualquer outro lugar, o Carnaval de Podence é uma elegia do movimento. Nos dias grandes da festa — Domingo Gordo e Terça-feira de Carnaval — os Caretos só param para se dessedentar ou para combinarem mais uma investida sobre o Largo da Capela, a pequena praça da aldeia onde a gente do lugar e um punhado de forasteiros curiosos se juntam para assistir ao ritual. E como em todas as culturas e latitudes onde se celebra a funçanata, o mote da agitação está impregnado de um desígnio de licenciosidade, feição que tem pai e mãe na dualidade profana e religiosa da tradição: tanto desvario serve para despedida do Inverno e para anunciar a chegada da Primavera (em Podence, os foliões costumam contar com a benção assídua do sol), por um lado, e, por outro, para marcar (em excessos que supostamente se filiam nas antigas saturnais romanas, festas de homenagem a Saturno, deus das sementeiras) o início da Quaresma, um período de contenção no calendário religioso cristão.

IN http://www.bragancanet.pt/arte/podence.html


Em Lazarim, “o ciclo de festividades inicia-se cinco semanas antes do Domingo Gordo com a "Semana dos Amigos", seguida da "Semana das Amigas", dedicadas à rivalidade entre os sexos. Os jovens envergam os "Caretos" e as "Senhorinhas", máscaras esculpidas em madeira de amieiro pelos mestres artesãos da terra.Antes do Carnaval, as associações dos "Compadres" e das "Comadres" reúnem fundos para as actividades e criam em segredo as quadras destrutivas do "Testamento da Comadre e do Compadre", que será lido na terça-feira. Este é um dos pontos altos das festas. Trata-se de um confronto verbal onde impera a "má língua". Nesta fase de ajuste de contas, são ditas as verdades guardadas durante o ano. As festividades terminam com a queima de bonecos e com o cortejo dos "Caretos". Antes do dia acabar há ainda tempo para a realização do concurso de máscaras que premeia os artesãos com mais talento.”

Sobre a gastronomia portuguesa típica do Carnaval:
http://www.gastronomias.com/carnaval/inicio.htm


Carnaval de Podence

Carnaval de Lazarim


lunedì 4 febbraio 2008

"Mistério" de Fabrizio Riccardo Verile

("Donna appoggiata al tavolo" de Felice Casorati, 1947)

Aqui publicamos mais um trabalho de um aluno de Português: Fabrizio Riccardo Verile. Um texto misterioso, divertido, bem escrito, que vale a pena ler!...



Certamente sou conhecida e amada, acolho todos e todos deixo que me rodeiem. Os meus amantes não perdem ocasião para cobrir-me de coisas lindas: tecidos, metais preciosos, luzentes cristais, cerâmicas finíssimas e, depois, cores, aromas e……. sabores.
Algumas vezes visitam-me por um período muito breve, outras ficam horas como se fossem embalados por uma preciosa ama. Eu gosto de contentar todos e de conceder as minhas graças, quando é pedido, nua ou vestida, saciando os mais diversos apetites e ao fim, no saudar, deixando sempre um sabor doce ou salgado sobre os lábios de cada um.

O que é que estão a dizer? Que sorte terá o homem que me conquistará?
Mas o que é que perceberam?
Eu não sou uma mulher, mas uma mesa!!

E como todas as minhas irmãs faço o meu trabalho com grande seriedade e pontualidade. Desde manhã eu vos acolho com uma limpíssima toalha, qualquer que seja o vosso humor, oferecendo-vos uma chávena de bom café ou chá quente, nos quais molhar os biscoitos e deixá-los a boiar para brincar a petiscá-los com uma colherzinha... E então deixo-vos partir, ainda com sono, só depois de ser certa que os meus guardanapos vos tinham acariciado a boca.

Depois de me despir, espero fiel o meio-dia, a hora do almoço, mas muitas vezes não se lembram de mim e sou obrigada a esperar pela noite.

Naquele momento, finalmente, todos se lembram de mim e todos querem fazer-se perdoar: é o jantar! há quem me viste com uma toalha limpíssima e branquíssima, preocupando-se com escolher os guardanapos certos; há quem ponha os pratos, nos quais aparecerá óptima comida; há quem traga copos brilhantes, colheres, garfos e facas, e no fim: pão, garrafas de água e vinho.

Que maravilha! De novo, todos à minha volta! A solidão foi-se embora. Sabores, aromas, cores, palavras, risos, choros e algo mais se confundem até quando o sono os levará embora de novo e eu, depois de me despir, dormirei tranquila, esperando por todos na manhã seguinte.


Fabrizio Riccardo Verile

(aluno do 1ª nível do curso de língua e cultura, no Instituto Português de Santo António em Roma)

Fado em Itália com Carlo Giacobbe


O Fado, o cantar do destino, expandiu-se até Roma e agora as notas da saudade ressoam pelas ruas e vielas históricas da Cidade Eterna.

Além do seu aspecto romântico, a música portuguesa - pela primeira vez em Itália e talvez fora de Portugal – entrou numa aula universitária; precisamente na faculdade de Letras da Universidade ‘La Sapienza’, a mais antiga das instituições académicas romanas.
Quem leva o fado dos confins portugueses à capital italiana é Carlo Giacobbe, jornalista agora emprestado à academia, que desde quando foi correspondente em Lisboa da Agência Ansa não conseguiu arrancar da alma Portugal, que considera a sua segunda pátria.

“Como portugueses devem saber, uma vez que esta música entra dentro de nós é muito difícil, se não impossível livrar-se dela; de há vinte anos para cá é esse o meu caso. Mas é seguro que, se de condenação se trata, para mim ainda é a pena mais agradável e emocionante do mundo”, diz Carlo Gaiccobbe.

O jornalista acaba de publicar o livro ‘Il Fado di Coimbra’, estudo inédito em Itália, e que vem responder à grande curiosidade que os italianos têm relativamente à cultura portuguesa, e, em particular, ao Fado. Ao livro é ainda incorporado um CD musical, com temas clássicos da canção coimbrã, gravado exclusivamente para esta publicação com um excelente conjunto português - Ricardo Dias e Pedro Lopes, respectivamente guitarra e viola da afamada casa ‘à Capella’ em Coimbra.

Menos conhecido em Itália do que o de Lisboa – tornado mundialmente famoso na voz de Amália Rodrigues – o Fado de Coimbra tem características singulares que, por vezes, fazem lembrar as da canção napolitana, que o Dr. Giacobbe compreende e expressa profundamente, até porque ele próprio, que estudou canto clássico, é um fadista virtuoso, cuja voz podemos ouvir no CD que acompanha o livro.

Em 2007 exibiu-se na tradicional ‘Noite de Fado’, que anualmente se realiza no pátio do prestigiado e histórico Istituto Português de Santo António em Roma.

“O Ricardo e o Pedro, com os quais se fez o CD, é que são bons músicos – diz Carlo Giaccobbe – e desempenharam um trabalho óptimo. Eu limitei-me a fazer o meu melhor, na linha de uma tradição amadora, que em Itália se pensa ser bizarra, mas que é muito comum em Coimbra. Tenho nos ouvidos os grandes e inatingíveis modelos coimbrões, como o do Dr. Luiz Goes, que eu quero homenagear, e a quem dedico o meu disco, feito também em memória de Carlos Paredes, que tive a honra de conhecer pessoalmente, quando era correspondente de Lisboa”.

Para além de jornalista, docente universitário e cantor, em Roma Carlo Giacobbe é fundador e coordenador do grupo ‘Fado entre Rios’, que divulga a cultura musical portuguesa e de que fazem parte Serena De Masi e Isabella Mangani (Fado de Lisboa), Bernardo Nardini (guitarra portuguesa) e Felice Zaccheo (viola). “A referência aos rios é evidente”, conclui Carlo, “o Tejo, o Mondego e o Tibre. É neste último que os dois primeiros idealmente confluem.”

venerdì 1 febbraio 2008

100 anos sobre o regicídio


Há precisamente 100 anos, no dia 1 de Fevereiro de 1908, Lisboa iria viver um episódio sem precedentes na história do País. Vindos de Vila Viçosa, os reis e o príncipe herdeiro chegaram à estação fluvial de Lisboa por volta das 5 horas da tarde, e, enquanto atravessavam a Praça do Comércio, um atentado deixa sem vida o rei D. Carlos e o principe real D. Luís Filipe.



Este centenário tem suscitado grande curiosidade em Portugal, o que, segundo Rui Ramos, historiador, se deve a três factores:


O mistério e o fascínio que envolvem os crimes políticos - esta é uma história policial; a sensação de que, de alguma maneira, este acontecimento modificou a história de Portugal, quer dizer, a república e o fim da monarquia tiveram a ver com o que aconteceu em 1 de Fevereiro de 1908 e se não tivesse acontecido o regicídio talvez não teria havido república; e a maior novidade é que agora podemos abordar o tema e as personagens sem o facciosismo nem as desconfianças que caracterizaram os estudos sobre este tema durante a maior parte do século XX. Além disso é uma data redonda.


Para o mesmo investigador, a evocação tem todo o sentido:

D. Carlos foi provavelmente um dos melhores chefes de Estado que nós tivemos nos últimos 200 anos e não me estou a esquecer de nenhum dos presidentes da República. Comemorar essa figura - de um rei cosmopolita que impressionava e tinha bom acolhimento nos países da Europa e de uma maneira integrou Portugal na Europa...



Apesar disto, a classe política portuguesa é reticente em assinalar a data:




Outros artigos sobre o tema:


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