lunedì 11 febbraio 2008

Bartoli em Lisboa


Sábado passado, dia 9 de Fevereiro, a mezzo-soprano romana Cecilia Bartoli, regressou a Lisboa, ao Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, para apresentar o seu álbum mais recente, Maria, homenagem à diva oitocentista Maria Malibran.

Bartoli, muito amada pelo público português, concedeu uma entrevista ao Diário de Notícias, que aqui publicamos:



Donde surgiu o seu interesse por Maria Malibran (1808-1836)?
Quando me estreei nos palcos, há mais de 20 anos, descobri que tínhamos muito em comum: vozes parecidas, começámos quase com a mesma idade e no mesmo papel (Rosina d'O Barbeiro de Sevilha), ambas ensinadas pelos nossos pais... Depois, foi também uma forma de regressar à minha "origem", ao belcanto rossiniano, redescobrindo-o através dela.

Mas porquê a decisão de centrar nela um disco, um ano de recitais e uma exposição itinerante?
Porque, para mim, ela foi a mais fascinante mulher do século XIX. Ela foi a cantora, a grande deusa oitocentista. Ao mesmo tempo, foi muito moderna, porque revolucionou por completo a forma de estar em palco: ela foi a primeira grande cantora-actriz da história. Criticaram-na muito por isso e também devido à sua relação ilícita com o violinista Bériot. Mas a Malibran era muito corajosa e fez sempre o seu caminho.

A exposição não veio a Lisboa...
Infelizmente... Mas sabe, no dia 24 de Março passam 200 anos sobre o nascimento dela e vamos fazer um Dia Malibran em Paris: levarei lá de novo a exposição [viaja num camião de cidade em cidade] e haverá três concertos nesse dia sobre ela. Alguns dos itens também podem ser vistos na Internet, através do site da minha Fundação. Sabe que mais de 50 mil pessoas já visitaram a exposição? Assim, a Malibran "viaja" sempre comigo e as pessoas podem conhecê-la de facto.

Gostava de ter vivido naquela primeira metade do século XIX?
[pensa] Por um lado, sim, para poder trabalhar com aqueles compositores... e para estrear aquelas óperas... Musicalmente, seria belíssimo, mas para uma mulher, a vida era muito difícil e dura nesse tempo...

Houve um grande trabalho musicológico de abordagem ao repertório que a Malibran cantava?
Sim, primeiro porque o abordamos com uma orquestra de instrumentos de época - o que dá logo outra dimensão à música; depois, porque quisemos recuperar a vocalidade empregue neste repertório, naquele tempo: a tradição interpretativa que conhecemos das gravações de Joan Sutherland ou da Callas está enformada por uma prática bem mais tardia, vinda do verismo [final do século XIX]. Ora o belcanto vem logo após Mozart, não vem com Puccini!

E como fizeram isso?
Regressámos às partituras autógrafas. Quando as líamos, ouvindo as gravações, reparávamos que muito do que era cantado, pura e simplesmente não estava lá! Digo-lhe: o trabalho mais difícil em todo o processo foi pôr a memória sonora de lado e concentrar-me no que está escrito, e a prática do tempo.

E como resolveu o problema da ornamentação?
Na maior parte, canto tal como ela fazia. Usei várias partituras que lhe pertenceram e que são parte da minha colecção...

Da sua colecção?!
Pois, agora já sabe no que gasto os meus cachets! Uns compram sapatos Prada e roupas Armani; eu compro cartas e partituras amarelecidas (sempre rindo)! Os coleccionadores são uma gente louca e eu incluo-me nesse número... Comprei-as a vários coleccionadores europeus e americanos. Claro que não tenho todas! Várias estão em bibliotecas públicas.

E o que se descobre ao ler as linhas vocais da Malibran?
Tenho, por exemplo, as partituras dela da Cenerentola e da Sonnambula e, por ali, consegue-se perceber as suas qualidades e capacidades vocais. E, pode crê-lo, era uma voz portentosa! E, sustentando-me nesses exemplos e no meu conhecimento do repertório, apliquei aquele estilo de ornamentação às peças para as quais não tinha referências dessas.

Como se dava Maria Malibran com Giuditta Pasta, a outra diva da época?
Pasta era mais velha e Malibran adorava-a: numa carta dela, ainda miúda, à Pasta, diz: "gosto tanto de ti que era capaz de te comer!". E sabe-se que a admiração era mútua.


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