martedì 2 febbraio 2010

Lisboa - por Eros Olivieri


Sonhar com Lisboa

Antes de tudo, preciso de confessar uma coisa: nunca fui a Lisboa. E assim o meu discurso teria já acabado. “Obrigado. Até à próxima.”
...
Mas, se quiserem, eu posso falar um pouco de quando eu sonho com Lisboa.

A primeira coisa que eu sonho é não chegar a Lisboa de avião, nem de carro, nem de comboio, nem de moto ou de bicicleta; nem sequer a pé. Sonho chegar... de barco, de barco à vela, navegando solitário, em silêncio, através do mar Mediterrâneo.
Após dias e noites de navegação, eu dobro Gibraltar e depois passo através das Colunas de Hércules, costejo o Algarve, dobro o Cabo São Vicente e ponho a proa do barco à direita pela rota de Norte.
Eis o Cabo de Sines, o Cabo Espichel e a Costa da Caparica.
Já ouço no ar a voz de Amália e também, desculpem-me pela junção, o cheiro de bacalhau e de ginjinha.
Então, viro a proa um pouco à direita, direcção nordeste e, finalmente, apresenta-se, pálida e imponente, a Torre de Belém.
Vejo à distância as luzes de Lisboa. A cara está húmida de lágrimas e de jactos da água de mar. Os olhos procuram encontrar nos pontos mais altos de Lisboa alguns lugares e monumentos só vistos nos livros. E então descubro um a um os perfis escuros, como se fossem sombras chinesas: o Castelo de São Jorge, o Mosteiro dos Jerónimos, o Padrão dos Descobrimentos, a Ponte 25 de Abril, o Cristo Rei, a Boca do Vento, a Senhora do Monte.
Mas tudo o mais de Lisboa esta invisível na noite.
E então, no sonho, sonho ver a Rua Augusta, o Oceanário, o Cais de Sodré, a Basílica da Estrela, a Praça do Comércio, o Eléctrico e, ainda, sonho azulejos por toda a parte, na abóbada do céu e no chão... até na casa de banho...
Agora alvorece, o primeiro cacilheiro destaca-se da doca com as luzes de noite acesas.
Em frente, atrás de Lisboa, vai nascer o sol.
Para despertar bem, lavo a cara com agua de mar. Dos lábios saem lentas palavras: “Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal.....Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena”...
É Lisboa, Portugal, com certeza. Cheguei.
Amaino as velas, encosto o barco, faço os nós nos cabos e salto para terra. Não sei se é a Doca do Bom Sucesso ou a da Alcântara ou a do Jardim do Tabaco. Estou incerto, quase inquieto, até que leio num cartaz de estrada: “Olá marinheiro, bem-vindo”.
Cheguei, afinal.


EROS OLIVIERI

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