lunedì 8 giugno 2015

La parola allo studente: Secundì Sañé Colomer, sobre o Fado

Reflexões do nosso aluno Secundí Sañé Colomer sobre o fado. Texto muito interessante que muito lhe agradecemos!



“Gosto de tudo o que é teu”
Letra:           Maria José Runa
Música:        Carlos da Maia


Eu gosto do teu andar
Desse jeito que é tão teu
Eu gosto do teu olhar
Olhar que a ti me prendeu  (bis)

Eu gosto do teu cabelo
Do dourado do teu rosto
E da tua linda boca
Nem calculas como eu gosto  (bis)

Eu gosto das tuas mãos
Que tão bem acariciam
Do teu corpo, dos teus modos
Que os meus olhos extasiam  (bis)

Eu gosto do teu sorriso
Sorriso franco e leal
Até das tuas maldades
Eu não desgosto, afinal  (bis)

Eu gosto da tua voz
A voz mais linda que ouvi
Gosto de tudo o que é teu
Só porque gosto de ti  (bis)

Gosto das palavras deste fado porque fala dum amor humano no qual corpo e espírito são a mesma coisa. Estamos longe duma visão platónica onde pode existir um amor espiritual e um amor material. 


Muito diversamente uma poetisa espanhola falava de amor. O objeto do amor de Teresa de Ávila era o mesmo Deus e o seu amor podia realizar-se somente com a morte. Com a destruição do corpo. 

“Vivo sin vivir en mí”
Vivo sin vivir en mí
y tan alta vida espero
que muero porque no muero.

Vivo ya fuera de mí,
después que muero de amor,
porque vivo en el Señor,
que me quiso para sí;
………………………

Esta divina unión,
y el amor con que yo vivo,
hace a mi Dios mi cautivo
y libre mi corazón;
y causa en mí tal pasión
ver a mi Dios prisionero,
que muero porque no muero.
                                                                     
Santa Teresa de Ávila


Tradução:

Vivo sem viver em mim
e tão alta vida espero
que morro porque não morro.

Vivo já fora de mim,
depois que morro de amor,
porque vivo no Senhor,
que quis-me para si:
...................

Esta divina união,
e o amor com que eu vivo,
faz o meu Deus o meu cativo
e livre o meu coração;
e causa em mim tal paixão
ver o meu Deus prisioneiro,
que morro porque não morro.

E sempre estando na península ibérica gosto de lembrar outro poeta, desta vez catalão, que falava dum amor também material. A visão mediterrânea do cantor Raimon coincide em realidade com as ideias do fado de Maria José Runa:

“Treballaré el teu cos”
Treballaré el teu cos
com treballa la terra
el llaurador del meu poble:
amb amor i força.

I seràs tu el fruit,
seré jo el fruit,
serem junts el fruit.
Tu i jo, terra i força.

.....................

En l'únic camí nostre
-font i mar, terra i arbre-
l'únic camí cert,
el camí de l'amor,
el difícil camí d'amor
on som junts tu i jo.

Raimon

Tradução:

Trabalharei o teu corpo
com trabalha a terra
o camponês do meu país:
com amor e força.

E serás tu o fruto,
serei eu o fruto,
seremos juntos o fruto.
Tu e eu, terra e força.
........................

No único caminho nosso
- nascente e mar, terra e árvore-
o único caminho certo,
o caminho do amor,
o difícil caminho do amor
onde somos juntos tu e eu.

Aqui o espírito é até tal ponto matéria que é comparável somente à nascente, ao mar, à terra e à árvore. 

SECUNDÌ SAÑÉ COLOMER

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