Entrevista de António Marujo a José Tolentino Mendonça publicada no jornal Público: https://www.publico.pt/2018/04/15/sociedade/entrevista/deus-e-um-problema-tambem-para-os-crentes-1810259
O Elogio da Sede foi o tema que o padre José Tolentino
Mendonça propôs ao Papa Francisco, quando este o convidou a orientar os
exercícios espirituais da Quaresma para os responsáveis da Cúria Romana –
a primeira vez de um padre português. Com o mesmo título, foi anteontem
posto à venda o livro (ed. Quetzal) que reúne os textos das meditações
que o também poeta e exegeta bíblico propôs ao Papa e aos seus mais
directos colaboradores.
No tempo litúrgico que antecede e prepara a Páscoa, os cristãos são
chamados a repensar a sua vida à luz da fé que professam. Esse desafio
pode assumir a forma de um encontro de reflexão ou meditação, muitas
vezes chamado de “exercícios espirituais”, adoptando a expressão cunhada
por Inácio de Loiola, fundador dos jesuítas. “Um exercício espiritual
é, sobretudo, um momento de encontro, uma viagem ao interior de si, uma
abertura ao que pode ser a voz de Deus, um balanço da própria vida”,
explicaria Tolentino Mendonça, nesta entrevista.
Foi isso que,
durante cinco dias, entre 18 e 23 de Fevereiro, aconteceu em Ariccia,
perto de Roma: duas meditações diárias, e o resto do tempo em silêncio,
para cada pessoa se confrontar com a reflexão proposta. “O silêncio com
que vivemos este retiro podia interpretar-se como uma sede”,
acrescentava o padre português.
No livro A Nuvem do Não-Saber, de final do século XIV – que
muitos historiadores da matéria consideram “um dos mais belos textos
místicos de todos os tempos”, como recordava José Mattoso na edição
portuguesa (ed. Assírio & Alvim) –, o autor anónimo escreve: “[À]
pergunta: ‘Que buscas? Que desejas?’, responde que era a Deus que
desejavas ter: ‘É só a Ele que eu cobiço, é só a Ele que busco e nada
mais senão Ele’. E se te perguntar quem é esse Deus, responde que é o
Deus que te criou e redimiu, e por sua graça te chamou ao seu amor.
Insiste que acerca d’Ele tu nada sabes.”
Foi sobre essa busca e
sobre tactear na procura de Deus que, nas suas dez meditações, Tolentino
Mendonça se debruçou, mesclando a investigação dos textos bíblicos com
as inspirações literárias e artísticas que marcam também a sua obra
poética e ensaística. E é essa intersecção permanente que transparece no
seu livro. Que tem um único risco: o de se tornar, também ele, uma das
grandes obras da mística. A par de obras como A Imitação de Cristo ou o já citado A Nuvem do Não-Saber.
Ou a par de nomes como Hildegarda de Bingen, Juliana de Norwich, São
João da Cruz, Teresa d’Ávila, Etty Hillesum, Dietrich Bonhoeffer, o
irmão Roger de Taizé...
A entrevista continua em: https://www.publico.pt/2018/04/15/sociedade/entrevista/deus-e-um-problema-tambem-para-os-crentes-1810259
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