O ÓRGÃO “ÚNICO NO MUNDO” DE SANTO ANTÓNIO DOS PORTUGUESES
António Marujo, 2
de Julho de 2018
O novo cardeal
português foi saudado por 2500 tubos de um órgão “único no mundo”. Ontem, na
Igreja de Santo António dos Portugueses, de Roma, o bispo de Leiria-Fátima
falou da importância do verbo tocar. Para ele, a música da Igreja deveria falar
de comunicação, afecto, ternura e consolação.
O improviso do
organista Giampaolo di Rosa no órgão de tubos da igreja de Santo António dos
Portugueses, em Roma, marca o momento da entrada processional dos celebrantes:
jubilosos, intempestivos, como uma grande aclamação, os 2500 tubos soltam-se e
enchem o espaço da bela nave, uma das jóias do barroco na cidade dos papas.
Esse início da
missa que o novo cardeal português celebrou ontem em Roma não podia ser mais
simbólico: enquanto António Marto, bispo de Leiria-Fátima, incensava o altar,
as mãos do organista tocavam os cinco teclados da consola do órgão, enchendo de
perfume sonoro o espaço de culto.
Tocar seria também
o verbo que, na homilia, o novo cardeal usaria para falar do que deve ser a
missão da Igreja Católica nos tempos do Papa Francisco. D. António Marto
apareceu vestindo apenas um fato eclesiástico escuro. Na missa, usou apenas o
solidéu de bispo, mas não a mitra. O barrete de cardeal, já avisara, só usará
em Roma, quando tiver mesmo de ser.
Perante mais de uma
centena de pessoas (incluindo dois bispos, uns vinte padres e a ministra da
Justiça, Francisca Van Dunem, em representação do Governo português), o cardeal
Marto referiu-se ao texto bíblico lido momentos antes para dizer que, tal como
Jesus, os cristãos devem tocar e deixar-se tocar por todas as pessoas. “Tocar é
uma experiência de comunicação, de afecto, de ternura e consolação. Tocar é
aproximar-se do outro, com compaixão.”
Isto afirmava
enquanto uma mulher entrava na igreja a pedir esmola. Mãos postas, dirigiu-se a
duas ou três pessoas à entrada, sentou-se por uns momentos, voltou a sair.
“Jesus toca a miséria humana, comunica a força revolucionária da ternura de
Deus”, diria o cardeal, momentos depois. “Os que têm fé são chamados a
testemunhar a ternura de Deus, o evangelho da alegria, da misericórdia, da
compaixão e da paz.”
Um órgão “único no mundo”
De alegria falou
todo o tempo o órgão da igreja, “único no mundo”, como diria o reitor do
Instituto Português de Santo António de Roma (IPSAR), padre Agostinho Borges,
que gere o espaço de culto. Os três improvisos de Giampaolo di Rosa (no início,
no momento do ofertório e no final) pretendiam “criar formas musicais em tempo
real”, dizia ao PÚBLICO o organista, no final da missa.
A ideia do órgão
nasceu como forma de colocar a Igreja de Santo António dos Portugueses, em
Roma, no mapa cultural da capital italiana. O reitor falou com o organista
Giampaolo di Rosa, que lhe recomendou Jean Guillou, o organista da igreja de
Saint Eustache, em Paris. Assim nasceu um órgão de tubos que não é “uma massa
sonora”, mas um instrumento com uma grande sonoridade. Para quem escuta, a
sensação é de ouvir “como se fossem muitos solistas”, distribuídos pela nave
central e pelas capelas laterais da igreja a cantar ou tocar. Uma espécie de
surround instrumental de diferentes vozes e timbres, numa envolvência plena sem
amplificação electrónica. (...)
O ÓRGÃO “ÚNICO NO MUNDO” DE SANTO ANTÓNIO DOS PORTUGUESES
António Marujo, 2
de Julho de 2018
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