Démos-lhes o excerto de "Os Maias" de Eça de Querirós - que apresentamos em seguida - e pedimos que, conhecendo ou não este romance fundamental da Literatura portuguesa, respondessem à pergunta de Carlos da Maia a respeito da Condessa de Gouvarinho, dando largas à imaginação e à criatividade.
De seguida publicaremos as várias respostas a este apelo, agradecendo desde já aos alunos participantes...
Excerto:
- Tu conheces os Srs. condes de Gouvarinho, Tista?
- Conheço o Pimenta, meu senhor, que é criado de quarto do Sr. conde... Criado de quarto e serve a mesa.
- E que diz então esse Tormenta? perguntou Carlos, numa voz indolente, depois dum silêncio.
- Pimenta, meu senhor! O Manuel é Pimenta. O Sr. Gouvarinho chama-lhe Romão, por que estava acostumado ao outro criado que era Romão. E já isto não é bonito, porque cada um tem o seu nome. O Manuel é Pimenta. O Pimenta não está contente...
E Baptista, depois de colocar junto da cabeceira a salva com o grog, o açucareiro, as cigarretes, transmitiu as revelações do Pimenta. O conde de Gouvarinho, além de muito maçador e muito pequinhento, não tinha nada de cavalheiro: dera um fato de cheviot claro ao Romão (ao Pimenta), mas tão coçado e tão cheio de riscas de tinta, de limpar a pena à perna e ao ombro, que o Pimenta deitou o presente fora. O conde e a senhora não se davam bem: já no tempo do Pimenta, uma ocasião, à mesa, tinham-se pegado de tal modo que ela agarrou do copo e do prato, e esmigalhou-os no chão. E outra qualquer teria feito o mesmo; por que o Sr. conde, quando começava a repisar, a remoer, não se podia aturar. As questões eram sempre por causa de dinheiro. O Tompson velho estava farto de abrir os cordões à bolsa...
- Quem é esse Tompson velho, que nos aparece agora, a esta hora da noite? perguntou Carlos, a seu pesar interessado.
- O Tompson velho é o pai da Sr.ª condessa. A Sr.ª condessa era uma miss Tompson, dos Tompson do Porto... O Sr. Tompson não tem querido ultimamente emprestar nem mais um real ao genro: de sorte que, uma vez, já no tempo do Pimenta também, o Sr. conde, furioso, disse à senhora que ela e o pai se deviam lembrar que eram gente de comércio e que fora ele que fizera dela uma condessa; e com perdão de V. Ex.ª, a senhora condessa ali mesmo à mesa mandou o condado à tábua... Estas coisas não estão no género do Pimenta.
Carlos bebeu um gole de grog. Bailava-lhe nos lábios uma pergunta, mas hesitava. Depois reflectiu na puerilidade de tão rígidos escrúpulos, a respeito duma gente, que ao jantar, diante do escudeiro, quebrava a porcelana, mandava à tábua o título dos antepassados. E perguntou:
- Que diz o Sr. Pimenta da senhora condessa, Baptista? Ela diverte-se?
Os Maias de Eça de Queiroz
(excerto do V capítulo)
- Conheço o Pimenta, meu senhor, que é criado de quarto do Sr. conde... Criado de quarto e serve a mesa.
- E que diz então esse Tormenta? perguntou Carlos, numa voz indolente, depois dum silêncio.
- Pimenta, meu senhor! O Manuel é Pimenta. O Sr. Gouvarinho chama-lhe Romão, por que estava acostumado ao outro criado que era Romão. E já isto não é bonito, porque cada um tem o seu nome. O Manuel é Pimenta. O Pimenta não está contente...
E Baptista, depois de colocar junto da cabeceira a salva com o grog, o açucareiro, as cigarretes, transmitiu as revelações do Pimenta. O conde de Gouvarinho, além de muito maçador e muito pequinhento, não tinha nada de cavalheiro: dera um fato de cheviot claro ao Romão (ao Pimenta), mas tão coçado e tão cheio de riscas de tinta, de limpar a pena à perna e ao ombro, que o Pimenta deitou o presente fora. O conde e a senhora não se davam bem: já no tempo do Pimenta, uma ocasião, à mesa, tinham-se pegado de tal modo que ela agarrou do copo e do prato, e esmigalhou-os no chão. E outra qualquer teria feito o mesmo; por que o Sr. conde, quando começava a repisar, a remoer, não se podia aturar. As questões eram sempre por causa de dinheiro. O Tompson velho estava farto de abrir os cordões à bolsa...
- Quem é esse Tompson velho, que nos aparece agora, a esta hora da noite? perguntou Carlos, a seu pesar interessado.
- O Tompson velho é o pai da Sr.ª condessa. A Sr.ª condessa era uma miss Tompson, dos Tompson do Porto... O Sr. Tompson não tem querido ultimamente emprestar nem mais um real ao genro: de sorte que, uma vez, já no tempo do Pimenta também, o Sr. conde, furioso, disse à senhora que ela e o pai se deviam lembrar que eram gente de comércio e que fora ele que fizera dela uma condessa; e com perdão de V. Ex.ª, a senhora condessa ali mesmo à mesa mandou o condado à tábua... Estas coisas não estão no género do Pimenta.
Carlos bebeu um gole de grog. Bailava-lhe nos lábios uma pergunta, mas hesitava. Depois reflectiu na puerilidade de tão rígidos escrúpulos, a respeito duma gente, que ao jantar, diante do escudeiro, quebrava a porcelana, mandava à tábua o título dos antepassados. E perguntou:
- Que diz o Sr. Pimenta da senhora condessa, Baptista? Ela diverte-se?
Os Maias de Eça de Queiroz
(excerto do V capítulo)
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