lunedì 15 marzo 2010

Exercício (Frei Luís de Sousa): "E se Manuel não tivesse posto fogo ao palácio?" ALESSANDRO CANNARSA

Museu Nacional do Teatro, Maquete de cenário para a peça “Frei Luís de Sousa“. Jorge Herold.


O estudo de alguns excertos da obra imortal de Almeida Garrett, "Frei Luís de Sousa", inspirou a escrita criativa de alguns dos nossos alunos...
Imaginar o que teria acontecido àquela família se, quando estavam chegando os Governadores espanhóis, Manuel de Sousa Coutinho não tivesse pegado fogo ao seu palácio. Será que alguma vez o Romeiro teria chegado à fala com D. Madalena de Vilhena?
Esta é a versão de Alessandro Cannarsa:




(No castelo, Manuel de Sousa Coutinho fala com Telmo Pais)


Manuel de Sousa Coutinho (inspirado):

Calai Telmo, calai! A decisão foi tomada: vou dar uma lição aos nossos tiranos que se há-de lembrar; vou dar um exemplo a este povo que tem de iluminar.

Telmo Pais :
Sim, sim, oxalá fosse suficiente uma decorosa oposição…

Manuel de Sousa Coutinho :
Nada disso: ainda há um português em Portugal!

(entra D. Madalena de Vilhena)

D. Madalena de Vilhena :
O que é este ruído? O que é que aconteceu?

Manuel de Sousa Coutinho :
Minha mulher, é necessário dar fogo ao nosso palácio.

D. Madalena de Vilhena :
Que bom, querido: finalmente compreendeste que tinha chegado o momento…

Manuel de Sousa Coutinho (surpreendido):
O momento?

D. Madalena de Vilhena :
Sim: o momento de mudar a decoração! Há quanto tempo eu continuava a dizer-te: olha esses cortinados, que feios!, o tapete velho, a mobília estragada…

Manuel de Sousa Coutinho (a berrar):
Mobília? Decoração? O que é que isto tem a que ver com a conversa? Falo em incendiar tudo por causa da chegada dos castelhanos!

D. Madalena de Vilhena :
Meu marido, mais uma vez exageras: para os hóspedes estrangeiros não são adequados esses usos portugueses. Não queres que te julguem um provinciano, não é?

(entra um criado)

Manuel de Sousa Coutinho :
Chega de tolices: tu, criado, dá-me uma tocha!

Criado:
Não há, meu Senhor.

Manuel de Sousa Coutinho :
O quê? Não há tochas?

Criado:
Não, meu Senhor, não há tochas no palácio há muitos anos. O Senhor quer que lhe traga uma candeeiro?

Manuel de Sousa Coutinho :
Cala-te, poltrão. Telmo, dai-me luma.

Telmo Pais :
Não tenho nem sequer um fósforo: não fumo…

D. Madalena de Vilhena :
E em casa também não há isqueiros: fui eu que enviei D. João de Portugal para Africa, só para acabar com esses charutos fedorentos e esses fósforos queimados no chão…

Manuel de Sousa Coutinho :
Mulher, ide à cozinha buscar uma labareda, uma flâmula…

D. Madalena de Vilhena :
Nada disso, querido: bem sabes que eu só aqueço congelados no microondas…

Telmo Pais (ao criado, baixando a voz):
E este foi o verdadeiro motivo pelo qual o D. João de Portugal foi para Africa…

Manuel de Sousa Coutinho :
Ora esta! Maldição! Então não quer o Céu que eu receba os invasores como merecem?

Telmo Pais
Uma inspiração divina, meu senhor: vamos escrever no muro da casa algo de realmente português. Algo do tipo: “Castelhano, vai a m...”.

D. Madalena de Vilhena :
Sim, sim: grande ideia. E ainda mais: “El-rei é um cornudo”.

Criado
E algo de ainda mais português: “Viva S.L.Benfica, abaixo Real Madrid”.

(E enquanto os três vão buscar um pincel e tinta, ouve-se o Manuel de Sousa Coutinho que, com os olhos cheios de lágrimas, diz o seguinte)

Manuel de Sousa Coutinho :
Amanhã faço-me frade...


ALESSANDRO CANNARSA

2 commenti:

givi62 ha detto...

Fiquei enormemente divertida com a tua versão. Parabéns, Ale!

Unknown ha detto...

não só o Manuel tem os olhos cheios de lágrimas. Eu também ri até às lagrimas!