martedì 18 gennaio 2011

Nova exposição de Vasco Araújo

“Sem Qualidades”

“Telos”

“Maria Helena”

Dentro de dois dias inaugura-se em Lisboa uma exposição do artista Vasco Aaraújo, que apresentou recentemente em Roma o seu video "IMPERO".
Parabéns ao Vasco, e que ele regresse em breve a terras romanas!


VASCO ARAÚJO, Mente-me
20.01 - 19.03.2011


Inaugura dia 20 de Janeiro a partir das 21h30



A Galeria Filomena Soares inaugura no próximo dia 20 de Janeiro a exposição “Mente-me” do artista Vasco Araújo, que reunirá um conjunto de novos trabalhos em escultura, vídeo e fotografia, atestando uma vez mais a multiplicidade de linguagens e suportes de que se serve para a representação plástica de uma ideia, associando comummente imagens a textos literários de correspondência incerta.

Em “Mente-me” o artista recorre a narrativas trágicas, enredos de amor e desencontros para alegoricamente representar a mentira, a dicotomia entre o real e o irreal, enganando e iludindo o espectador na expectativa que este acredite no que vê ou em última instância no que não vê.

A mentira é uma imoralidade e aqui Vasco Araújo revisita um tema transversal na sua obra: a condição humana. A mentira é uma pressão social porquanto a sociedade sustenta costumes e convenções que são incompatíveis com a condição humana. O homem mente porque não suporta o conflito penoso e irremediável entre seus desejos e a frustração imposta pela realidade. Mente para contrariar essa desilusão.

Na sala principal da Galeria um conjunto de trabalhos trazem-nos narrativas ficcionais vividas e relatadas por pessoas que sem resguardo nos confessam sonhos, impulsos e inquietações.

Em “Amneris” uma mulher afirma ter sido a melhor Amneris de Moscavide, com uma voz de tal forma vigorosa que nem as melhores cantoras de ópera internacionais, cujo repertório incluiu papéis em Aida, a igualavam e que “até tinha uma vizinha que dizia que a cristaleira abanava toda cada vez que cantava”. Neste trabalho, recordamos “ La Stupenda ” (2001) e presumimos sobre a personagem: uma Diva de ópera saudosista de uma glória passada ou uma mulher perdida que acredita numa fantasia? O descontentamento e desprazer na infortunada condição da sua existência parecem inegáveis.

“Maria Helena” narra a história do amor solitário de um homem por uma desconhecida que contempla diariamente no café de um jardim. Ele não conhece a mulher que crê amar, nunca se falaram, mas está convicto num amor que acredita predestinado. Procura na imaginação a realização de um amor e a solução de uma vida, persistindo viver na mentira: “Sei o que quero e sei o que sou, uma criação da minha própria vontade, a preparar-se agora para acometer uma área onde, até a ter visto pela primeira vez, apenas podia penetrar em sonhos. Finalmente concretizo e tenho em minha posse, a cada instante, aquilo que sempre quis. Maria Helena!”.

Em “O meu criado” e “Dos Sapatos”, descobrimos um homem e uma mulher que em comum partilham o facto de terem confiado, o primeiro ao seu criado e a segunda a uma colecção de sapatos de salto alto, uma fuga às fraquezas que os angustiam, conseguindo assim ser quem e como gostariam: um idoso que julga recuperar uma juventude desaparecida através do seu criado e uma mulher de baixa estatura que se serve de um acessório para aumentar uns centímetros à sua auto-estima.

“Homem com duas cabeças” encerra de forma figurada o conflito interior resultante da dualidade verdade/sublimação em oposição à mentira/ficção que coexiste no homem. Ao desejo e pressuposta necessidade de mentir sobrepõe-se a consciência, um outro “Eu” que reprova, chamando à razão e relembrando que a verdade é uma virtude: “Sempre que a esterilidade da minha conversa me forçava a completá-la com ficções inocentes ele reclamava dizendo que procedia mal”.

A duplicidade, a existência de dois princípios necessários mas opostos, aparece novamente em “Uníssono”: dois homens em desarmonia unidos por um mesmo corpo.

Ainda na sala principal da Galeria “Catástrofe” e “Sem Qualidades” apontam-nos refúgios existenciais e desejos de fuga à realidade, para além de um conjunto de fotografias, “Telefonemas”, que regista diálogos despropositados e indecifráveis entre pessoas equivocados, sós, que vivem situações ambíguas e obscuras. Telefonemas que se tornam delírios, ilusões, enganos, nos quais o artista se volta a servir do seu corpo como instrumento e veículo de identidade e encarna as personagens das histórias na já experiente heteronomia plástica recorrente na sua obra.

Na segunda sala da galeria “Telos”, o último trabalho em vídeo do artista onde um grupo de pessoas que se cruza causalmente apura o que é a verdade e de que forma o homem pode ser verdadeiro, viver em virtude, com ética e boa-fé.

A dicotomia entre mentira e verdade está ainda presente na apropriação de uma linguagem documental para construir ficções. E talvez por isso, o espectador se reveja nestas histórias que na realidade descrevem o ser humano sem dissimulações, descortinando as suas fraquezas e expondo a sua humanidade.

Mas muito ficará por esclarecer pois afinal será a mentira uma meia verdade? Será que existe verdade na mentira e mentira na verdade? Será que quem diz a verdade não merece punição? Será verdade que uma mentira tantas vezes redita se torna verdade? Será que com a verdade me enganas? Será que não é melhor uma mentira piedosa a uma verdade dolorosa? Será que a verdade liberta ou, pelo contrário, acorrenta?

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