lunedì 24 gennaio 2011

"O cavaleiro da Dinamarca" por Ferena Carotenuto


A nossa aluna FERENA CAROTENUTO continuou o conto de Sophia de Mello Breyner, O Cavaleiro da Dinamarca, segundo a sua fantasia, e sem conhecer o final que a escritora portuguesa tinha criado na versão original. Agradecemos à Ferena por este belo pedaço de prosa, que aqui publicamos para os nossos leitores.



A mulher do Cavaleiro foi chorando ao seu confessor. “Tenho medo que o meu marido não regressará mais”, soluçava. O frade disse-lhe: “O teu marido tem este desejo no coração. Se tu o amas verdadeiramente, tens de o deixar partir. Crês em Deus? E tens confiança no teu esposo?” “Com certeza”, disse a mulher. “Então”, respondeu o frade, “Tem fé. Tem fé em Deus: tudo o que se vai passar, vai passar pela Sua vontade: nada te pode fazer mal, se te entregas a Ele”.
A mulher enxugou as lágrimas e regressou a casa, ao Cavaleiro. “Marido meu, seja feita a vontade de Deus! Se verdadeiramente o desejas, vai, mas promete-me uma coisa”. “Prometo”, arriscou o Cavaleiro. “Cada tarde, depois do pôr-do-sol, eu olharei o pinheiro mais alto, na direcção da Terra Santa, pensarei em ti e rezarei por ti. Tu, cada tarde, depois do pôr-do-sol, olha para o Norte, e pensa em mim e nos teus criados. Reza tu também por nós!”. “Prometo, mulher minha”, disse o Cavaleiro, e no dia seguinte, depois de muitas lágrimas e muitos abraços, partiu para a Terra Santa.
Cada noite, a mulher rezava e olhava o pinheiro, para o Sul. Rezava e tentava não chorar. O pinheiro não mudou aspecto durante alguns meses.
Também o Cavaleiro rezava cada noite, mais sempre menos intensamente. E países novos, paisagens novas, rostos exóticos, cores, cheiros e sabores diversos distraíram o Cavaleiro do pensamento da sua família. Frequentemente, ocupado por outros pensamentos, o Cavaleiro esquecia-se completamente de rezar por eles. Devagar começava aproximar-se entre longas marchas e às vezes também duelos com outros Cavaleiros Mouros, que tentavam não o deixar passar. O calor aumentava, os dias eram sempre mais longos. O calor cansava o Cavaleiro, não acostumado a esse clima, e os seus olhos claros não suportavam a luz violenta do sol. A sua pele delicada era queimada, os lábios ardidos pela seca.
Lá na Dinamarca o grande pinheiro começava a secar-se e perder sempre mais folhas. A Mulher do Cavaleiro começou a inquietar-se, mas continuou a esperar e a rezar com devoção. Ali o Verão tinha já acabado, e as sombras ao pôr do sol alongavam-se sempre mais.
O Cavaleiro, no Outono, não estava muito longe da Palestina. Encontrou pela estrada outros peregrinos, e o Cavaleiro foi feliz de unir-se a eles, passando frequentemente as noites contando do seu país distante, da sua casa, da sua esposa e dos seus criados. Começou ter saudades deles, do frio, das coisas a ele mais familiares. Finalmente chegou em Belém, alguns dias antes do Natal. O seu coração abriu-se a Deus, e passou o Natal e muitos dias depois do Natal rezando intensamente. Para ele, estar aí era verdadeiramente o sonho de toda a sua vida. Pediu perdão a Deus pelos seus erros, e compreendeu que ele também, para que conseguir paz na sua alma, tinha de perdoar os seus inimigos. Foi à gruta e beijou o ponto onde o Santo Menino nasceu, onde Maria e José adoraram o Filho de Deus. E finalmente lembrou-se que ele não tinha rezado mais pelos os seus familiares cada noite como prometido, mas só para si mesmo. Compreendeu que, sem eles e o amor deles, a sua vida seria muito triste, vazia e sem sentido. Agora estava bem depois da Epifania, e o Cavaleiro não podia esperar para ir para casa. Percorreu as mesmas estradas, mas desta vez cada noite olhava para o Norte, rezava, e o seu coração sentia um grande calor. Estava feliz em voltar!
Na Dinamarca, entretanto, o pinheiro parou de secar e perder folhas. A esposa do Cavaleiro estava tranquila, porque ela tinha sempre guardado o seu amado no coração, não o tinha abandonado uma única vez.
Cansadíssimo mas feliz, o Cavaleiro regressou à sua terra. Chegou a sua casa por volta do pôr-do-sol, e, lembrando-se da promessa, caminhou para o pinheiro mais alto. Observou que tinha perdido as folhas e que estava em parte seco. Escondeu-se ali perto, esperando a escuridão. E com a escuridão viu a sua mulher aproximar-se ao pinheiro, olhar para o Sul e rezar com devoção. Ao Cavaleiro os olhos encheram-se de lágrimas. Mas ele recobrou e caminhou silenciosamente até ela. Ela sentiu-o chegar e virou-se. Viu-o e os seus olhos encheram-se de alegria. Eles juntaram as mãos e caminharam até a casa deles.

FERENA CAROTENUTO

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