A nossa aluna Patricia Schmarczek escreveu este interessante texto sobre o culto da beleza, que agradecemos e publicamos.
O CULTO DA BELEZA
Perfeição: é a palavra-chave do século XXI. E para alcançá-la… academias de ginástica, Spa, Ómega 3, cirurgia estética, Botox, Filler, colágeno, maquiagem, ácido ialurônico, agentes dermodistendentes, hidratação, massagem, cremes, perfumes, moda, acessórios, cabeleireiro, unhas e cílios postiços, entre outros. Os fantasmas das nossas vidas deixaram de ser os velhos espíritos vagantes ou o inconsciente de Freud para tornar-se algo muito concreto e ao alcance de todos: pele flácida, pés-de-galinha, rugas de expressão, barriga, celulite.
A corrida à perfeita forma física tornou-se universal. Inicialmente considerada uma obsessão feminina a beleza torna-se cada vez mais um aspecto importante da vida dos homens. De acordo com estimativa da Revista Acqua&Sapone de Março 2011, 50% dos homens italianos confessa curar muito o próprio aspecto e a própria imagem. Antes acessível somente a uma classe abastada, hoje é um recurso popular. Tudo isso graças ao desenvolvimento da indústria farmacêutica e publicitária e do consequente aumento da concorrência no sector da cosmética, o que determina uma diminuição dos preços e uma grande oferta de produtos. Além disso, o acesso ao financiamento possibilitou a entrada na sala operatória e a difusão dos centros de bem-estar e de cirurgia estética.
O interesse pela beleza é provavelmente intrínseco ao homem. Se pensarmos em diferentes povos poderemos identificar inúmeros acessórios, vestimentas ou decorações feitas sobre a pele com o intuito de embelezar. Por sua vez, os ícones de beleza também se transformaram: no Renascimento a beleza era formas arredondadas e pele alva como sinonimo de pureza e saúde. Nos anos sucessivos à Grande Guerra a beleza era romântica, como Rodolfo Valentino, nos anos 70 delicada como Twig. Hoje, talvez se possa deduzir que a beleza é parar o tempo, se possível rejuvenescer. Basta ver o sucesso dos reality shows sobre moda e estética. Já não basta acentuar a beleza natural devemos transformá-la, esculpi-la. E nessa busca somos induzidos a sermos semelhantes: os japoneses querem ter os olhos ocidentais e as ocidentais os cabelos dos orientais. E assim ganha a indústria da beleza.
O culto obsessivo do belo esconde provavelmente um medo profundo: o medo do envelhecimento. Processo natural de transformação de todos os seres vivos é hoje identificado como feio, inútil, desagradável, provavelmente porque caminho inequívoco para o fim. Pelo menos ao fim do mundo materialmente conhecido. Mas tendo em vista a perda da espiritualidade e da crença primitiva de uma continuidade após a morte e com o advento do materialismo e do consumismo é possível entender o medo desse desconhecido. E o homem no seu desejo de imortalidade tem mais do que nunca medo do “fim”.
Patricia Schmarczek
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