lunedì 2 maggio 2011

STEFANO VALENTE: Anglofilia linguística: problema verdadeiro?



Texto do nosso brilhante aluno Stefano Valente, a quem agradecemos a continuada e qualificada colaboração com este blogue.



Tem algum sentido opormo-nos à penetração de elementos doutras línguas no nosso próprio idioma? E, nomeadamente, a termos que nos vêm do inglês?
Na época da globalização planetária, forte pela sua predominância económica, o Ocidente anglo-saxão acaba para ser veiculado nas culturas dos quatro cantos do mundo mesmo por meio das palavras. Essas são tomadas na sua forma original (pensemos em jeans, quase universal), ou vêm adaptadas à fonologia – senão apenas à ortografia – da língua que as recebe (é o caso do português basquetebol < ingl. basket-ball), ou ainda dessas é feita a tradução literal (o que em linguística se chama tecnicamente calco por tradução): como o que acontece com skyscraper – que se torna gratte-ciel em francês, grattacielo em italiano, rascacielos em espanhol e arranha-céu em português (apenas em alemão e neerlandês – para não sairmos do âmbito das línguas europeias “maiores”) o conceito de ‘céu’ fica substituído por ‘nuvem’, Wolk em ambos os idiomas, gerando assim Wolkenkratzer e wolkenkrabber).
A questão, porém, que nessa altura faz com que o inglês (ou o “americano”) se destaque pela sua maciça influência nos vocabulários estrangeiros, tem actuado e repetido várias vezes no curso dos séculos e tendo por sujeito línguas diferentes. Consideremos, por exemplo, quantas palavras de origem grega ainda gozam de óptima saúde em qualquer parte do mundo (russo demokratii, democracia; turco felsefe, filosofia; etc.). Ou o enorme número de lexemas, já franceses, que ingressam no inglês médio – idioma germânico – depois da conquista normanda da ilha, em 1066 (ao ponto que o inglês moderno fica cheio de duplos, germânicos e românicos: time/tense, strength/force, freedom/liberty, wedding/marriage, etc.). Para não falarmos na importância do francês no século XIX, língua geral europeia (mas também da aristocracia e da alta burguesia brasileiras), ou na do italiano, através da ópera, no século XVIII.
Como servem para comunicar, os idiomas são o espelho fiel – ou melhor o recipiente, o espaço de acção – da cultura intelectual e material nas quais se desenvolvem. As situações de contacto e interferência criam novas realidades e, o mais das vezes, introduzem significados e objectos antes totalmente desconhecidos. O prestígio – económico, político, estratégico-militar – dos países dominantes (e dos seus falantes) faz o resto. Se valesse o contrário, então hoje não seria preciso os japoneses dizerem makudonaru quando resolvem jantar num pronto-a-comer (não necessariamente um McDonald’s). E pense-se na palavra banana, entrada praticamente em todos os lugares por meio dos exploradores portugueses e espanhóis que, no século XVI, descobriram o fruto – e o nome dele – numa fala da Guiné (provavelmente o wolof).
Aliás, temos de dizer que algumas línguas são muito mais receptivas e, digamos assim, “dóceis” do que outras, no que diz respeito à penetração do léxico estrangeiro. É verdade que o italiano é um dos idiomas mais anglófilos entre as línguas neolatinas. Contudo, umas políticas linguísticas excessivamente conservadoras – como a do Haut Comité pour la Défense et l’Expansion de la Langue Française – produz às vezes escolhas que aparecem gratuitas e não sem um qualquer ridículo (como pare-feu por firewall ou fenêtre intruse por pop-up).
São os falantes, afinal, a resolverem qual palavra adoptarem. A língua sempre obedece a critérios de economia e conveniência – quer de clareza e brevidade, quer de autoridade – para os seus utilizadores.



STEFANO VALENTE

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