Pedimos
aos nossos alunos de nível avançado do Instituto Português de Santo António em
Roma para escreverem sobre algumas mulheres notáveis da cultura portuguesa. Lidia
Nunzi escolheu VIEIRA DA SILVA.
Obrigado,
Lidia!
Maria Helena Vieira da Silva
dedicou toda a sua vida à pintura.
Ela mesma disse: “sou como um
peixe na água. Não sei como é a vida fora da pintura… tenho meditado tanto sobre a
pintura, pensado a pintura, toda a minha vida até então era nova. Não sei fazer outra
coisa.”
Nascida em 1908, em Portugal, em
Lisboa, mas naturalizada francesa, está entre as raras figuras femininas que, no
curso do século XX conseguiu superar a desconfiança e a indiferença
destinada às mulheres, também no campo artístico.
A sua familia abastada e culta enconrajou-a e apoiou-a no seu percurso
de formação, que começou aos 11 anos, com o estudo de desenho e pintura na Escola
de Belas Artes de Lisboa e continuou com o da escultura e da gravura em
França, para onde se mudou com a mãe em 1928, quando tinha 20 anos.
Perfecionista, procurou inúmeros mestres, entres os quais encontramos os
artistas Dufresne, Waroquier, Friezs, Léger, Bissière e Hayter.
Em Paris conheceu também o pintor húngaroArpad Szenes (1897 - 1985), com que casou dois anos depois.
A sua procura artística ficou
independente de qualquer movimento cultural da época e elaborou uma
linguagem pictórica pessoal, entre figuração e abstração, na qual recusa cedo as regras da perspectiva e constrói os seus quadros
sobre tramas geométricas, com infinitos pequenos quadrados coloridos ou
inumeráveis linhas, descrevendo lugares imaginários em perspectivas múltiplas,
que tornam a visão instável.
Ela não tem certezas e não as
fornece, a pintura é o seu meio de indagação interior. Então, num universo mutável
e desassossegado, ela aventura-se e nasce um caleidoscópio de formas que representam a sua pesquisa costante, lenta e nunca acabada do ignoto.
Assim, dizia: ”nunca afirmo nada. Na minha pintura é um pouco assim. E’:
se calhar … é um caminho, mas este caminho pode tornar-se três caminhos, se
calhar quatro caminhos, se calhar tornar-se uma rua sem saída.”
Ao observador pede para participar, para não ser pasivo em frente das
suas obras, embora fuja ao contacto imediato.
Temas recorrentes foram as cidades e as estantes cheias de livros,
vividas como labirintos, como armadilhas sem saída, onde forte é a sensação de sufocamento acentuada pela utilização de cores com gama tonal baixa.
O conhecimento é um risco, porque cada convenção e ponto de referência
cai.
Durante a sua estadia em Brasil, onde o casal se refugiou em seguida ao
início do segundo conflito mundial, pintou quadros menos enigmáticos e abertamente
contra a guerra.
“Sinto uma grande necessidade de pintar telas sobre a guerra, se calhar
porque é o unico meio que tenho para protestar. Peço às pessoas para olhar o que é, para que parem no tempo.”
Ela também realizou panéis de azulejos, vitrais para a
Igreja Saint-Jacques em Reims, e ilustrações para um livro infantil.
Morre em
Paris em 1992.
Ainda uma
vez ela diz: ”há tempo tenho a sensação de estar em frente a uma porta fechada,
as coisas essencias, que não posso nem cohecer nem ver, accontecem da outra
parte”. A morte “
me abrirà a porta… é ela quem me darà a chave. Até então viverei e não o saberei.
Testamento de Vieira da Silva traduzido pelo Antonio
Tabucchi:
Lascio ai miei amici
un azzurro ceruleo per volare in alto
un blu cobalto per la felicità
un azzurro oltremare per stimolare lo spirito
un vermiglio per fare circolare il sangue allegramente
un verde muschio per calmare l'inquietudine
un giallo oro: ricchezza
un violetto di cobalto per la rêverie
una lacca di garanza che fa udire il violoncello
un giallo cadmio: fantascienza, brillio, splendore
un giallo ocra per accettare la terra
un verde Veronese per ricordo della primavera
un indaco per accordare lo spirito al temporale
un arancione per suscitare la vista di un limone in lontananza
un giallo limone per la Grazia
un bianco: purezza
una terra di Siena naturale: trasmutazione dell'oro
un nero sontuoso per vedere Tiziano
una terra d'ombra per accettare la nera malinconia
una terra di Siena bruciata per il sentimento di durata.
un azzurro ceruleo per volare in alto
un blu cobalto per la felicità
un azzurro oltremare per stimolare lo spirito
un vermiglio per fare circolare il sangue allegramente
un verde muschio per calmare l'inquietudine
un giallo oro: ricchezza
un violetto di cobalto per la rêverie
una lacca di garanza che fa udire il violoncello
un giallo cadmio: fantascienza, brillio, splendore
un giallo ocra per accettare la terra
un verde Veronese per ricordo della primavera
un indaco per accordare lo spirito al temporale
un arancione per suscitare la vista di un limone in lontananza
un giallo limone per la Grazia
un bianco: purezza
una terra di Siena naturale: trasmutazione dell'oro
un nero sontuoso per vedere Tiziano
una terra d'ombra per accettare la nera malinconia
una terra di Siena bruciata per il sentimento di durata.
LIDIA NUNZI
1 commento:
Uma vida muito interessante ! Obrigada Lidia e cumprimentos pela qualidade do texto !
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