mercoledì 26 novembre 2008

"Vale Abraão" de Lia Orietta Cacciatore

Leonor Silveira, Ema de "Vale Abraão"


Um grande pintor disse-me um dia que pintava o que lhe vinha à cabeça sem nenhum significado particular, e que seriam os críticos ao dar-lhe um nome e uma interpretação profunda.

Ensinou-me que é verdadeiro tudo e o contrário de tudo e que em todas as formas de arte o valor está no facto que se faz sentir algo, mesmo se este sentir é de forma diferente para cada um. Porque cada um vê e sente num trabalho de arte, qualquer que ele seja, pintura, escultura, música ou cinema, coisas diferentes.

No filme que nós vimos, a minha impressão foi que a protagonista era uma pessoa triste e infeliz, à busca contínua de algo de inexplicável também para ela.

Bonita ou não bonita, as suas relações com os homens são fugazes e não a fazem feliz nem por um momento, e parecem só um paliativo. A infelicidade dela, na aparência, parece a mesma da Madame Bovary que, porém, é infeliz porque foi forçada, segundo a tradição do momento, a casar um homem muito mais velho do que ela e porque não pode viver com aquele que ama. A infelicidade da Ema é originada dentro de ela mesma. A razão desta abulia não é explicável: é só uma menina mimada que não sabe que o que quer ou se é uma pessoa deprimida. A sua força aparente esconde uma falta de força e uma inabilidade para mudar verdadeiramente o que não lhe agrada? Precursora do feminismo? Não, o feminismo não tem nada a ver com o sexo.
Todos parecem amá-la. Mas é amor justo? Por certo ela não ama ninguém.

A história tem um contraste inexplicável. É uma beleza sem fascínio, sexo sem amor, mãe sem amor maternal, liberdade sem estar livre dela mesma. O que mais me tocou foi o vazio, um grande vazio que todos os personagens vivem, duma maneira ou doutra, enfatizado pelos lentos retratos fixos dos objectos e pelas conversas longas quase sem comunicabilidade.

Uma história profunda mas sem saída. Para ninguém.





LIA ORIETTA CACCIATORE

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