O que é preciso que os sobrinhos (e as tias) descubram o mais cedo possível (para uma melhor sobrevivência)
Notas parental-zoológicas para Continelli Telmo (texto inédito encontrado na margem do guião do filme A Canção de Lisboa, 1933)
A humanidade inteira é constituída por sobrinhos. Se encontrarem uma pessoa que afirma «Nunca tive tias», é só porque não o sabe.
Para os elefantes — especialmente para os que estão enjaulados — as palhinhas são uma verdadeira gulodice.
Chapéus há muitos: isto é, todos nós temos de aceitar o facto que no mundo existem mais chapéus do que sobrinhos.
A experiência ensina que é o chapéu a fazer o homem, nunca o contrário.
O bilontra (bilontrus sobrinus) é um animal esquisito: mamífero anfíbio, de índole essencialmente velhaca, pelintra e preguiçosa, às vezes — quando não o pode evitar — gosta de passear com as suas tias (pelo menos duas), pelas quais não desdenha fazer-se manter. Nos jardins zoológicos é fácil encontrar bilontras que param diante das jaulas doutros animais e escarnecem deles. Uma característica da bilontra, pois, é a de ela rir das desventuras de outrem, embora odeie que os outros se riam das dela mesma.
Como as tias são fundamentais na formação e no desenvolvimento do indivíduo, os sobrinhos dividem-se em duas categorias básicas:
- os que viram o meu filme A Canção de Lisboa;
- os que leram o romance Le sorelle Materassi, por Aldo Palazzeschi.
STEFANO VALENTE
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