A nossa aluna de nível avançado, Mariarita Vecchio, homenageia neste texto - que quis partilhar com os nossos leitores, em nome dos quais agradecemos - um dos seus mitos pessoais, simultaneamente mito de gerações e gerações... Bem-hajas, Mariarita!
Nos anos 50 foi um gigante: símbolo da sedução masculina e da rebelião, uma vida cheia de sucessos e tragédias familiares, amores hetero e homosexuais, dinheiro ganho e gasto ou utilizado na compra de terrenos para os índios ou da ilha Tetiaroa para proteger o ambiente.
Marlon Brando iniciou a nova maneira de representar um papel: compenetrar-se nas personagens. Através das suas personagens, no cinema dos anos 50, pela primeira vez, aparecia a imagem dos homens que hoje podemos ver: fortes e doces.
Roma, 3 de Dezembro de 2014
Utilizaram para ti palavras antigas: mito, divino, Titã... De facto parecias um deus grego, lindo e poderoso.
Eras o dominador do ecrã: qualquer ator ou atriz que estivesse contigo em cena, desaparecia: os nossos olhos não se conseguiam desviar de ti, do teu corpo que representava sem palavras, do clarão do teu olhar que trespassava o ecrã, que nos trespassava, e que nos abria mundos misteriosos e inimagináveis. Era a passagem que podia pôr-nos em comunicação com o infinito.
Tenebroso, animalesco, magnético, rebelde, num século que tinha entregado ao cinema todos os seus sonhos, tu demonstraste que o cinema era também um instrumento para as pessoas perceberem o vazio moral de uma geração, a que andava de moto, vestia T-shirt, os casacos de couro e se revoltava contra a sociedade burguesa.
Pelas raiva, lágrimas, neuroses, pelos impulsos emocionais, tu destruías os tradicionais sonhos americanos, mostravas jovens que queriam afirmar o direito de ser frágeis, que recusavam o modelo antiquado do machismo e davam importância a uma necessidade de ternura que os homens habitualmente não deixavam transparecer por vergonha.
Chamaram-te Loser, o que perde. É verdade, porque tu representaste uma América possível, diferente da América cinematográfica onde estavam os odiosos heróis que venciam sempre.
Tu, divino e humano, ao mesmo modo das personagens dos teus filmes, combateste a batalha da tua vida, a mais dura. Então deste-nos a força para combatermos a nossa.
Nós também não nos adaptamos às “regras do jogo” da homologação, do viver bem, das normas escritas pelos pais e pela sociedade. Nós também fizemos escolhas de vida erradas, amargamente expiadas; desesperadamente procurámos uma pessoa que merecesse o nosso amor e, desesperadamente,
amámos os nossos filhos, no terror de não dar bastante e ainda vivemos lacerando-nos pelos sofrimentos deles.
Como tu temos pago o nosso desejo de viver.
Deste-nos um último ensinamento: envelheceste e dissipaste o dom da tua beleza, nenhum retoque.A força está na consciência do facto de não haver remédio contra o tempo.
Depois de ti, e sobretudo hoje em dia, homens e mulheres são mais livres de mostrar a sua índole e, para os homens fortes é mais fácil mostrar o verdadeiro espírito e a ternura, é mais fácil chorar sem vergonha.
Obrigada!
Mariarita Vecchio
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