ANTÓNIO VARIAÇÕES
(3-12-1944/13-06-1984)
Nasceu demasiado cedo e morreu no mesmo dia da morte de Fernando Pessoa, uma das suas referências (utilizou as palavras dum poema de Pessoa na 'Canção do Engate'), juntamente com Amália Rodrigues a quem dedicou o seu primeiro LP.
Foi uma criança feliz, muito querida pela mãe, a quem ofereceu uma sentida homenagem com a canção ‘Deolinda de Jesus’ (o nome dela).
Primeiro empregado, depois barbeiro (acho que é o corte que marca a sua personalidade: corte dos preconceitos e das hipocrisias sociais), apesar de não ter tido nenhum conhecimento teórico sobre a música, e de ter tido uma vida muito breve, mudou o panorama musical português.
Foi o primeiro artista pop moderno do Portugal, de vanguarda e original e descreveu a sua música como“algo entre Braga e Nova Iorque”. O que não era uma contradicção porque efectivamente o António era muito moderno (o ritmo da sua música era rock, jazz, punk, folk …) e simultaneamente ancorado na tradição popular.
Gostava que Lisboa fosse uma cidade aberta nos comportamentos e nas ideias, como Amesterdão ou Londres ou Nova Iorque onde tinha passado umas temporadas. Porém, mesmo se na altura em Portugal se respirava uma reencontrada liberdade, após a Revolução dos Cravos, e começavam a fazer-se ouvir cada vez mais sinais de rebeldia, todavia o percurso do País para uma efectiva transformação nos hábitos e na maneira de viver tinha apenas começado.
O António, pelo contrário, era já ele mesmo – com a sua excentricidade, as suas roupas,os seus óculos, a sua barba pintada - uma ode à liberdade. Ele apanhou de surpresa uma sociedade ainda a habituar-se à democracia e aos ventos do exterior e o próprio nome que decidiu dar-se, Variações, é um sinónimo da sua vontade de fugir aos rótulos e às classificações mais básicas ("Eu estou além" é a única sua canção que eu conhecia e de que gosto muito), um símbolo duma forma muito própria de estar na vida.
António Variações estava verdadeiramente à frente do seu tempo e acho que, mais que 30 anos depois de ele ter morrido, ainda não chegámos ao tempo dele.
RADIANA NIGRO
1 commento:
Muito bonito, como muitos textos da Radiana, que também tive a honra e a alegria de ter como aluna. A melhor aluna que se pode ter: interessada, participativa, presente, aberta e entusiasta, inteligente. É um prazer ensinar, acompanhar, aprender com pessoas assim.
Joana Quintino
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