a 20 anos da sua morte
MÁRIO FELICIANO (1951-1995)
Bolseiro da Fundação Gulbenkian em Roma, onde estudou encenação teatral com Orazio Costa na Accademia Silvio d'Amico e trabalhou com Luca Ronconi, recentemente desaparecido, Mário Feliciano foi um importante construtor de pontes entre Portugal e Itália. À Bienal de Veneza de 1980 trouxe, pela primeira vez, um texto de António José da Silva, que ele mesmo traduziu, e foi também o tradutor e introdutor do teatro de Pasolini em Portugal. No ano em que passam 20 anos sobre o seu desaparecimento, recordamos Mário Feliciano em Via dei Portoghesi.
João Moita dedicou-lhe este poema:
Ao Mário Feliciano
Altos foram os ritos,
distribuindo a perda e a loucura
pelas horas de assombração.
Alta foi a miragem,
as lunações de deus,
o horto onde amadurecem
as rosa brancas
que a tua mãe plantou
antes de partires.
Tu soubeste tão depressa como só o efémero
se inscreve nessa ordem superior
dos veios da terra e dos punhais.
Alta é esta terra de blasfémia
e prolongada espera.
Assim o teu talento,
brumoso e crepuscular.
Tu sabes como são aqui os dias de chuva –
o vento pelos eucaliptos,
a barragem dilatada,
a vala,
os campos à mercê
da melancolia e da solidão.
Tu sabes que cruéis foram os ritos,
altos e cruéis.
Cruéis foram as miragens,
as lunações de deus,
os seus oráculos,
o horto que a tua mãe ainda trata,
cortando-se nos espinhos,
para que ao menos a tua ausência não doa
onde se cravam.
João Moita
INFOPEDIA
Encenador português, Mário Feliciano nasceu em 1951. Desde cedo demonstrou especial apetência e interesse pela arquitetura. Foi, no entanto, a encenação que marcou a sua curta vida profissional. Partiu para Itália, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1973. No ano seguinte ingressa no curso de encenação da Accademia "Silvio d'Amico", em Roma, onde foi aluno do encenador Orazio Costa. Apresentou, como exame final do curso, a peça A Casa de Bernarda Alba de Federico Garcia Lorca. Em 1978 e 1979 foi assistente de encenação de Luca Ronconi, um dos mais marcantes encenadores europeus, colaborando na apresentação das peças Papagallo Verde e La Torre. Em finais de 1981 regressou a Portugal, desenvolvendo atividade como encenador de teatro e ópera. Trabalhou alguns textos fundamentais do teatro do século XX, nomeadamente de Pier Paolo Pasolini e de António Patrício, dois dos seus autores preferidos. Encenou a ópera de Maria de Lurdes Martins As Três Máscaras (1983), no Teatro Nacional de S. Carlos. No Teatro S. Luís encenou a peça de Luigi Pirandello Seis Personagens à Procura de um Autor (1985). Mário Feliciano demonstrou em todos os espetáculos que realizou uma grande capacidade inventiva na criação de espaços cénicos e na direção de atores. Algumas das suas encenações conheceram certa polémica pela radicalidade das opções estéticas. Desde 1987 foi professor da disciplina de Representação Cénica do curso de Canto da Escola Superior de Música de Lisboa. Realizou também algumas traduções de importantes peças de teatro, das quais se destaca Calderón. Foi ainda um dos sócios-fundadores do Teatro da Politécnica, em 1989, que teve vida efémera. Trabalhou frequentemente com os arquitetos Graça Dias e Egas José Vieira, responsáveis por alguns dos cenários das peças que encenou e produziu. O seu último trabalho teatral foi a encenação da peça de António Patrício Dinis e Isabel (1994). Faleceu vítima de sida em 1995.
VER também
http://atuailha.blogspot.it/2006/07/o-teatro-como-quixote-da-memria.html
http://www.artistasunidos.pt/artistas-unidos/45-publicacoes/revista/675-revista-no-16
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