Ainda falamos de Abril, neste início de mês de Maio. Um texto de Matteo Canale, nosso aluno do 1º nível.Cheio de humor, como sempre!
Obrigado, Matteo!
Em Abril, águas mil, canta o carro e o carril
Embora estejamos no meio de Abril, ainda não posso compreender se este “é o mais cruel dos meses” ou “o mês encantado”, como lemos nos versos do T. S. Eliot (porquê tão crítico? talvez alérgico aos lilases?) ou no romance de D. Elisabeth von Arnim (seguramente alérgica ao marido).
Uma coisa é certa: tenho poucas ideias, mas muito confusas.
Então, entre uma gripe e o primeiro fim de semana do ano sob o sol escaldante da praia, não sei se é mais útil ter em atenção os poetas e as rimas deles, onde sempre se oculta um pequeno grão de verdade, ou se é melhor abandonar os versos para cultivar o nosso espírito com as ciências verdadeiramente exatas: a leitura da mão, o voo das aves, a comparação quotidiana dos horóscopos (que é quase uma meteorologia, mas muito mais sentimental.)
Então, em Abril, tudo se vai confundir. Cruel ou encantado?
Tento expressar-me e peço perdão se às vezes - na explicação - vou abrir o meu chapéu de chuva ou tossir e espirrar: estas são as desvantagens das estações...
Acho que Abril é o mês da máxima dúvida, por consequência é um mês muito sábio: como um filósofo oriental, Abril ensina-nos - com os factos só e nenhuma teoria - a não desperdiçar o nosso tempo e a viver o momento neste exato momento!
Um mês generoso e feroz: traz consigo uns dias cheios de luz poderosa, típica do verão, que nos doura como os camarões; mas, de repente, o céu traduz-se num telhado de chumbo e vai cair uma chuva bíblica, que então não perdoa.
Abril é um mês muito musical: tudo é acompanhado para uma percussão constante, de tom seco e baixo: um tapete rítmico, muito mais silencioso que uma prece cantada numa procissão longe demais. Mas, subitamente, Abril manifesta-se com uma descarga életrica, que ninguém espera. Então Abril é o mês mais imprevisível que os outros no ano: tudo pode acontecer.
No domingo, de manhã, o céu está tão azul e imperturbável que em frente das suas flores incrédulas você pode decidir levar para o sótão todas as roupas quentes: adeus ao cachecol do avô, às luvas ásperas ao tacto, perfeitas para a próxima viagem ao Pólo Norte: o inverno já acabou! Neste domingo gordo de sol e de nuvens brancas, vai convidar os seus amigos para andar de bicicleta pela cidade e finalmente vai vestir-se com os seus calções curtos e a camisinha leve, que comprou naquela loja há seis meses. Mas, poucas horas depois, um vento rancoroso começa a atacar as suas costas e o seu pescoço; ao meio-dia o céu benevolente oferece-lhe uma espécie de ultimato, mas você tem poucas possibilidades: é preciso procurar as copas das árvores ou um restaurante onde proteger-se, mesmo se tem uma chaminé e se você terá de ler numa ementa só as sopas da tradição russa…
Ó meu querido Abril: porque não duras quinze dias só?
MATTEO CANALE
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