"Primavera", 1917
Museu Abade de Baçal
PORTUGAL
Outra nossa aluna, Lia Orietta Cacciatore, apaixonada por Portugal a ponto de ter comprado uma casa nos Açores e de planear mudar-se para lá um dia destes, escreveu este belo texto que une passado, presente e futuro...
Inverno!
Eu sofro muito com o frio, o que não é normal dado que nasci no Inverno, e geralmente todos gostam do período do ano em que nascem. São no Inverno as festas mais bonitas, e de que todos se lembram com mais alegria: Natal, Epifania, Carnaval... e o aniversário do meu nascimento!
Mas eu nunca gostei do frio!
No Inverno, a ponta do nariz e dos dedos gela-me, e mesmo se ponho camisolas quentes, chapéu e luvas de lã, sinto sempre um pouco de frio. E depois não gosto de me cobrir porque não me posso mexer com liberdade.
Em Março, quando o ar começa a ser morno, eis que chega a chuva - o que, para mim, não podia ser pior. Não gosto de passear com o guarda-chuva, de não ter as mãos livres; assim, e para não me molhar, enfio uma gabardina e um chapéu, que não tiro mais até à Primavera.
Do que eu me lembro bem, é que, quando chegava a Páscoa, chegava também a Primavera... O Inverno acabava enfim.
Sentia-se no bom cheiro do ar que tudo estava a mudar e podia-se olhar os prados onde as margaridas começavam a nascer e as árvores estavam em flor. E tudo tinha um ar de festa; não o de uma festa barulhenta - mas o de uma festa doce, feita de bolos preparados em casa e não muito açucarados, de movimentos não muito bruscos, de passeios e não de corridas, de roupas leves, das rosas preparadas pela minha Mãe e da felicidade de sairmos de casa todos juntos.
Era na Páscoa que a minha Mãe me sentava ao seu colo, e em vez de contar histórias da nossa família ou alguma fábula, me narrava a história de Jesus.
Agora que sou adulta posso bem compreender que o que me contava tinha muito em comum com este particular momento do ano: tudo tem o seu fim, mas cada fim é um princípio.
Lia Orietta Cacciatore
2 commenti:
Querida Orietta,
escreveste uma grande verdade:-)
Brava Orietta. O teu conto è muito lindo e sobretudo muito verdadeiro.
E' linda também a imagem que anticipa a narraçao.
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