Aqui colocamos um interessante artigo de Marta Sofia Ferreira, publicado em "Portugal Diário", na Páscoa de há três anos atrás...
Páscoa: celebrar a renovação, com doces à mistura
O que é que ovos e amêndoas têm a ver com a ressureição de Cristo? O PortugalDiário explica-lhe as tradições da celebração da Páscoa, em Portugal e no resto do mundo.
Ovos e amêndoas, o folar, o coelho da Páscoa, a família toda junta à mesa, para alguns a missa de domingo. É nisto que consiste para muitas famílias portuguesas a celebração da Páscoa. Mas o que representa realmente esta festividade?
A festa da Páscoa cristã refere-se à última ceia de Jesus com os Apóstolos, à sua prisão, julgamento e condenação à morte, seguida da sua crucificação e ressurreição.
No fundo, a Páscoa não é só um dia; é uma semana inteira. A chamada semana santa começa no domingo de ramos, que representa a entrada de Jesus em Jerusalém, sendo aclamado com ramos de palmeira, e acaba no domingo de Páscoa, com a ressurreição de Cristo.
Antes da Páscoa, na Quaresma, o tempo é de jejum: evita-se comer carne e a ementa das sextas-feiras não deve ser carne por respeito, pois foi na sexta-feira que Jesus foi crucificado. Mas como no domingo de Páscoa se celebra a festa da ressurreição, a carne regressa às mesas portuguesas.
Mas muito antes de ser uma festa cristã, o que se celebrava na altura da Páscoa era o anúncio do fim do Inverno e a chegada da Primavera. Para os antigos, festejar a Primavera, tal como acontece com a Páscoa, representava a alegria da passagem de um tempo escuro e triste para um mundo iluminado, de vida nova na natureza. Era a celebração do renascer.
Em Portugal, a Páscoa é festejada por todo o lado, embora tenha uma maior importância nas aldeias mais tradicionais. Com a casa bem limpinha e vestidas a rigor, as pessoas aguardam o «compasso», que consiste numa ida do padre a cada casa para abençoar o lar e os que ali vivem. Em algumas aldeias, é ainda costume o padre e os seus acólitos carregarem uma cruz, que os moradores beijam um a um, pedindo a bênção.
Normalmente, em cada casa estão as tradicionais amêndoas e docinhos, acompanhados de um copo de licor ou vinho do Porto, em sinal de hospitalidade para o padre e os seus acompanhantes. Tradições que se dissiparam na vida agitada das grandes cidades.
Em muitas aldeias celebra-se ainda a semana santa com procissões de velas, à noite, ou com representações teatrais populares dos acontecimentos da morte de Cristo.
Mas afinal, se na Páscoa se celebram acontecimentos associados essencialmente à fé cristã, como se justifica o tão conhecido ovo da Páscoa, e não menos conhecido coelho da Páscoa? O ovo, como contém o fruto da vida, representa o nascimento e a renovação. Já o coelho, por ser um animal com capacidade de gerar grandes ninhadas, simboliza a renovação e a vida nova. Ou seja, tanto o ovo como o coelho, apesar de à primeira vista não parecer óbvio, representam os valores celebrados nesta festividade.
A Páscoa celebra-se por todo o mundo, sendo que o que varia são as tradições e os motivos que levam ao festejo. No norte da Europa, as tradições da Páscoa baseiam-se na decoração de ovos cozidos e nas brincadeiras com esses ovos pintados. Por exemplo, lançar os ovos pelas colinas abaixo, sendo vencedor o dono do ovo que rolar até mais longe sem se partir.
Já nos países do leste da Europa, a tradição mais importante é a decoração de ovos que se oferecem a amigos e parentes. Nos Estados Unidos, dão mais importância à«caça ao ovo» do que à decoração, sendo que em algumas cidades é mesmo um evento da comunidade e é usado um jardim público para esconder os ovos.
Na China, o «Ching-Ming» é uma festividade que ocorre na mesma altura da nossa Páscoa, onde são visitados os túmulos dos antepassados e feitas oferendas, que consistem em refeições e doces. Esta é a forma dos chineses deixarem os antepassados satisfeitos com os seus descendentes.
Na religião judaica também se comemora a Páscoa, mas por motivos diferentes. A «Pessah» começou a celebrar-se há cerca de 3 mil anos, quando os hebreus iniciaram o «êxodo», a viagem de libertação do seu povo, pela mão de Moisés, depois de serem escravos do Egipto durante 400 anos.
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