mercoledì 8 ottobre 2008

10 anos sobre o Nobel a Saramago

Na edição de hoje do Diário de Notícias, é recordada a atribuição do Nobel da Literatura a José Saramago, há dez anos atrás. Desde o ano passado que foi instituida na Facoltà di Lettere dell'Università degli Studi di Roma Tre uma cátedra intitulada ao escritor português, entregue à Professora Giulia Lanciani pelo Instituto Camões. Óptima ocasião, pois, para publicar na Via dei Portoghesi o artigo de Luís Naves.

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A notícia caiu como uma bomba: um autor português, José Saramago, tinha ganho o Prémio Nobel da Literatura. Após a estupefacção inicial, houve uma onda de entusiasmo e orgulho. Dez anos depois, Saramago (que não parou de escrever) continua uma referência da cultura nacional.

Após um momento de incredulidade, a notícia foi assentando nas redacções: o Prémio Nobel da Literatura, naquele ano de 1998, ia para um escritor português, o primeiro (e até agora único) da língua portuguesa a ganhar tal distinção. O premiado chamava-se José Saramago, nascido em 1922 na Azinhaga do Ribatejo e neto de Jerónimo Melrinho, que o escritor iria lembrar na primeira frase do tradicional discurso dos laureados na Academia Sueca, a 7 de Dezembro de 1998. O discurso começava assim: "O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever".

Apesar de ser falada por 200 milhões de pessoas, a língua portuguesa ficara sempre fora das escolhas do comité sueco, cujo secretismo baralhava ainda mais as esperanças. Sabia-se que o brasileiro Jorge Amado tinha andado pela short list, bem como o português Ferreira de Castro, o autor de A Selva, romance que teve grande popularidade internacional nos anos 30. Mas nenhum deles fora escolhido.

Por isso, parecia tão inacreditável que um português vencesse o prémio Nobel da literatura. Para aumentar o descrédito, mesmo entre os peritos, nos anos anteriores (de facto durante toda a década de 90), tinham vencido escritores relativamente desconhecidos. No ano anterior, 1997, o italiano Dario Fo, ainda hoje uma escolha difícil de compreender.

Na realidade, (agora é fácil percebê-lo) o Nobel de 1998 não devia ter surpreendido nenhuma redacção do País. Saramago era um escritor internacional, muito traduzido e lido no estrangeiro, não apenas popular na língua portuguesa. A composição do júri também mudara recentemente e talvez esse elemento tenha sido importante. Comparando os premiados até 1997 com os que se seguiram a 1998, o júri tornou-se nesse ano mais favorável ao estilo pós-moderno, com técnica inovadora e conteúdo mais profundo (os casos de Saramago, de Günter Grass, Imre Kertész ou Orhan Pamuk).

Quando venceu o Nobel, José Saramago tinha uma obra consolidada, com um punhado de romances de grande impacto: Memorial do Convento (1982), O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984); mas também O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), alvo de uma violenta polémica, após a exclusão da lista de candidatos ao Prémio Europeu da Literatura; e aquele que para muitos analistas é talvez o melhor livro do escritor, o Ensaio sobre a Cegueira.

O estilo poético e original fora desenvolvido num livro de 1977, Manual de Pintura e Caligrafia, e aperfeiçoado em Levantado do Chão (1980), os dois livros que lhe deram fama nacional e que escreveu já com mais de 55 anos.

Quando ganhou o Prémio Nobel, José Saramago tinha 76 anos. Era um autor controverso, que não recusava discussões políticas, comunista assumido, protagonista dos anos turbulentos da revolução (durante seis meses, director-adjunto deste jornal). As redacções receberam com incredulidade a extraordinária notícia. E José Saramago continuou a escrever, desmentindo o mito de que ganhar aquele prémio marca o fim de uma carreira. A prova é que dentro de dias publicará A Viagem do Elefante.

LUÍS NAVES

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