agradecemos a assinalação a FEDERICO ANSELMI
A edição em CD
triplo recupera registos dos anos 1970 e contém uma gravação de estúdio, com
folclore italiano, e concertos da fadista em Itália, onde gozava de enorme
popularidade.
Lusa
5 de Janeiro de
2017, 12:50
Amália foi uma
verdadeira estrela em Itália, admirada pelo público e celebrada na cultura
popular do país
O triplo CD Amália
em Itália, que junta gravações inéditas e os dois álbuns gravados pela fadista
em Roma, nos anos 1970, e nunca publicados em Portugal, será editado neste
trimestre, disse à Lusa Frederico Santiago, coordenador da edição discográfica
crítica da fadista. "O triplo CD junta aos dois álbuns – um em estúdio,
com folclore italiano, e outro ao vivo – gravações inéditas ao vivo em Itália,
por volta de 1973", precisou.
"Ainda durante
este ano sairá uma edição comemorativa dos 50 anos de um dos melhores álbuns da
Amália, para mim o melhor, Fados 67", adiantou ainda. Referindo-se a este
álbum, justifica: "É um disco de 'fado puro e duro', que foi gravado nos
anos de máximo esplendor vocal da Amália, entre 1966 e 1968. Nessas sessões,
com o Conjunto de Guitarras de Raul Nery, Amália gravou muito mais do que os 12
fados do LP e, pela primeira vez, teremos acesso ao conjunto dessas
sessões."
Amália Rodrigues
(1920-1999) realizou diversas digressões a Itália, onde actuou pela primeira
vez na década de 1950, no Teatro Argentina, em Roma, no âmbito dos Concertos do
Plano Marshall, após a Segunda Guerra Mundial. Em Portugal existem gravações
dispersas da artista em italiano, nomeadamente na edição celebrativa dos seus
50 anos de carreira, em 1989, entre as quais dos temas Canzone per te, La
farantell, Il cuore di Maria, Amor damme quel fazzoletino, La tarantella e Il
mare é amico mio, esta última uma versão italiana de Vou dar de beber à dor.
Valéria Mendez,
ex-professora de Língua e Cultura italianas no Conservatório da Madeira, disse
à agência Lusa que foi em Itália que se tornou "amaliana" e referiu a
"enorme euforia italiana" pela fadista que, na altura, ainda conhecia
mal. Valéria Mendez estudava em finais da década de 1970 na Universidade de
Perúgia quando se apercebeu da "extraordinária popularidade" da
artista, que "os italianos adoptaram como sua". "A Amália Rodrigues
em Itália actuava em todos os principais teatros das grandes cidades, mas
também nas outras cidades e localidades, fazendo o circuito dos artistas
italianos. Ela foi, absolutamente, uma excepção."
"Eu vi a
Amália actuar no adro de uma igreja em Viareggio, na região da Toscana, com um
enorme público, e era algo que só faziam os artistas italianos que estavam na
berra", sublinha. "A euforia pela Amália era enorme, quando a vi pela
primeira vez ao vivo, no Teatro Morlacchi, em Perúgia. Na primeira parte fiquei
espantada com aquele entusiasmo e quase nem tomei atenção à actuação",
afirma, acrescentando que se tornou "'amaliana' na segunda parte",
quando a escutou com toda a atenção.
Valéria Mendez diz
que o álbum da artista A Una Tierra Che Amo era utilizado como material
didáctico na cadeira de Literatura Italiana em diferentes universidades
transalpinas, citando o catedrático Armando Biselli, autor, entre outras obras,
de Il Rischio dell'Essere (poesia come suggerimento). E refere ainda o facto de
Amália ter gravado em língua italiana e em quatro dialectos transalpinos,
destacando a gravação de Canto delle lavandaie del vomero", que é
"apontada como a primeira canção italiana, como é entendida nos cânones
actuais".
O álbum A Una
Tierra Che Amo foi produzido pelo etnomusicólogo Franco Fontana, que apresentou
Amália Rodrigues nas Segundas-feiras da Música Popular, no Teatro Sistina, em
Roma, "sempre com um enorme êxito". A docente realçou "o
importante papel" da criadora de Povo que lavas no rio "na introdução
da música brasileira em Itália". A fadista "indicou vários artistas
brasileiros, Roberto Carlos, Maria Bethânia, Caetano Veloso e Chico Buarque,
que faziam as primeiras partes de alguns dos seus espectáculos".
Valéria Mendez
destacou a interpretação de temas de Amália por artistas italianos,
nomeadamente Franco Simone e Milva, e parcerias que fez com nomes como Roberto
Murolo, com quem gravou duetos, e Maria Carta. "A popularidade de Amália
era tão grande que a actriz Loreta Goggi ironizava em sketches televisivos com
o enorme êxito que ela tinha em Itália e imitava-a com muita graça",
lembra.
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