La prossima mostra presso
l'Istituto Portoghese di Sant'Antonio in Roma, Viaggio in Portogallo -
Acquerelli, ritratti, taccuini, ceramiche, azulejos, stendardi di Gabriele
Reina - è dedicata alla memoria di Antonio
d’Oliveira Pinto da França (1936-2013), già Ambasciatore del Portogallo presso
la Santa Sede.
Un’occasione di ricordare
questo importante diplomatico portoghese, che a Roma ha lasciato “saudades”.
António Pinto da
França, um especialista da vida
por Fernando
d'Oliveira Neves, Embaixador reformado
António foi um
grande Embaixador, inigualável na seriedade que punha no exercício da sua
funções, na lealdade ao dever de um diplomata.
in Público, 12 de
Setembro de 2014: https://www.publico.pt/2014/09/12/opiniao/noticia/antonio-pinto-da-franca-um-especialista-da-vida-1669319
Faz hoje 79 anos
que nasceu António Pinto da França. Quando, há umas semanas, ocorreu o primeiro
aniversário da sua morte, tentei redigir um texto a evocá-lo, que comecei pela
habitual frase “Faz hoje um ano que António Pinto da França nos deixou”. Mas
não consegui escrever mais, pois, ao acabar de a escrever, tive a noção de que,
justamente, o António não nos deixou.
A relação que o
António estabelecia com as pessoas com que se ia cruzando na vida era tão
envolvente que, para aqueles que tiveram o privilégio de ser seus amigos,
persistia e persiste para além da sua presença física.
António foi um
grande Embaixador, inigualável na seriedade que punha no exercício da sua
funções, na lealdade ao dever de um diplomata, na alegria confiante com que
representava uma Pátria pela qual tinha genuíno amor e orgulho, que cresciam à
medida que, curioso e deslumbrado, a foi encontrando pelo Mundo, nas suas
deambulações profissionais e pessoais.
Tinha uma
inteligência viva e aberta que lhe permitia conjugar a força das suas convicções
com um verdadeiro esforço de compreensão da diferença, da novidade, do outro, e
lhe conferia uma vasta capacidade de empatia com os seus interlocutores.
Tinha uma cultura
verdadeira, enraizada, digerida, interpretada por ele e não absorvida de
terceiros, que se estendia à História, às artes, à literatura, mas sobretudo às
pessoas, ao convívio, à vida em directo e sem intermediários.
Tinha um sagaz
sentido de observação que conseguia exercer sem nunca se distanciar. Não perdia
um minuto das conversas, das paisagens, das coisas, mas nunca se colocava como
observador exterior. Era simultaneamente, e com igual gozo, actor e observador.
Tinha um elevado
sentido de humor com que nos encantava e divertia, sem nunca se deixar cair num
sarcasmo fácil, e uma imaginação prodigiosa que atravessava espelhos, nos fazia
cair em tocas atrás de coelhos e nos levava para aventuras inesperadas que só
ele sabia onde desaguavam. Como também um enorme gosto por aventuras verídicas
a que se entregava com entusiasmo.
Os seus livros
retratam a frescura, que alguns podem confundir com ingenuidade, com que
absorveu a vida dos países onde serviu, a satisfação com que foi desvendando as
particularidades de cada um. Vivia com total e igual empenho as coisas mais
prosaicas como as mais graves, que encarava com a mesma curiosa alegria.
Mas o que mais
marcava António Pinto da França era, a meu ver, o seu humanismo, a afectividade
que colocava em tudo o que fazia e com que se relacionava com os que o
rodeavam. Em tudo colocava a sua enorme capacidade de afecto. Apetece-me dizer
que tinha uma inteligência afectiva e uma afectividade inteligente. E era essa
afectividade que dava uma intensidade particular a tudo aquilo em que se
envolvia. A cativante boa disposição, a bonomia, a alegria, o sentido de humor,
a abertura aos outros, a atenção ao novo faziam com que conversar com o
António, passear com o António, ouvir o António a dissertar sobre as coisas que
de que gostava, a explicar os recantos e as histórias da Quinta da Anunciada
Velha, pela qual partilhava com a Sofia uma paixão, fosse uma festa, que todos
antecipávamos com anseio quando sabíamos que o íamos encontrar e nos deixava
reconciliados com a vida.
No fundo o António
era um verdadeiro especialista da vida, um virtuoso da maneira de viver. Por
isso não nos deixou e mantém com todos que com ele lidaram um raro envolvimento
de amizade e magia.
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