lunedì 2 febbraio 2015

3/4: Mariarita Vecchio, “Lemos para sabermos que não estamos sós”


A propósito de uma deixa teatral do texto de Maria Velho da Costa Madame, que na sua estreia no palco estava na boca da atriz brasileira Eva Wilma - no papel de Capitu (a do Dom Casmurro, de Machado de Assis) que contracenava com Eunice Muñoz / Maria Eduarda d’Os Maias - lançámos o repto à nossa turma de nível avançado. Que see screvesse sobre o conceito “Lemos para sabermos que não estamos sós”.

Responderam quatro vozes femininas: as nossas alunas Ferena Carotenuto, Ivana Bartolini, Mariarita Vecchio e Radiana Nigro, com os belíssimos textos que publicamos em seguida e a quem muito agradecemos pelo interesse e pela qualidade dos seus trabalhos.



Companheiros  duma viagem infinita

“É um raro emocionante prazer encontrar um velho livro vestido à moda do seu tempo” (Emily Dickinson)


Com certeza vamos continuar a ler livros de papel, porém devemos começar a percorrer novos caminhos aprendendo novas formas de leitura. De todo o modo, a coisa mais importante é o que um  livro - de papel ou electrónico - contém.

Os livros excitam o pensamento, satisfazem a curiosidade intelectual, são uma terra imensa e viva de tinta em que nós  encontramos  caminhos sempre novos.  Aliás, pelos livros, cada leitor tece uma trama de relações com outros homens, sentimentos, experiências, sonhos.

Outrora as pessoas mais velhas eram a “memória da espécie” porque contavam aos jovens o que acontecera no passado de maneira que um jovem pudesse acumular as experiências dos homens que tinham vivido antes dele. Hoje os nossos velhos são os livros porque permitem nós vivermos, com a nossa, inumeráveis outras vidas, muitas das quais já vivemos: fomos atormentados pelo nosso amor mas também por aquele de Romeo e Giulietta, cheirámos  o odor repugnante dos esgotos de Paris junto a Jean Valjean, trememos de  frio , na tempestade de neve, junto a Zivago abrimos o coração no mar, no silêncio da noite sob um céu cintilante de estrelas, esperando por Moby Dick…
                                                               
Além disso, o livro, pelo facto de ser um instrumento de transmissão das ideias e da memória foi vítima do fanatismo e da censura. Milhares de livros foram destruídos pela intolerância política e religiosa. A simples ideia que quase cada livro contém – a existência de um Outro ou de um Além talvez imaginados melhores – enfraquece fidelidades e obediências dogmáticas. Ler é um gesto que faz discutir o presente, aproxima outros homens, outras épocas, também afastadas e inimigas, é o nexo “ com o diabólico espírito do passado “ chamava-o Goebbles.

Poderia ser interessante conhecer as motivações das pessoas que em Qumram, perto do Mar Morto, em Mogao, no deserto do Gobi, em Florença, no ano 1966, semelhantes aos  “Homens-Livros” de Bradbury salvaram qualquer coisa: um papiro, uma pequena tábua, um manuscrito, uma memória. Estas pessoas conservaram, esconderam, guardaram a delicada e vulnerável fé no futuro que ao longo de milhares de anos – uma viagem infinita – nós homens entregamos aos livros.


MARIARITA VECCHIO

Nessun commento: