A propósito de uma deixa teatral do texto de Maria Velho da Costa Madame,
que na sua estreia no palco estava na boca da atriz brasileira Eva Wilma - no
papel de Capitu (a do Dom Casmurro,
de Machado de Assis) que contracenava com Eunice Muñoz / Maria Eduarda d’Os Maias - lançámos o repto à nossa
turma de nível avançado. Que see screvesse sobre o conceito “Lemos para
sabermos que não estamos sós”.
Responderam quatro vozes femininas: as nossas alunas Ferena Carotenuto,
Ivana Bartolini, Mariarita Vecchio e Radiana Nigro, com os belíssimos textos
que publicamos em seguida e a quem muito agradecemos pelo interesse e pela
qualidade dos seus trabalhos.
Virginia Woolf escreveu “Às vezes acho que o Paraíso é um contínuo infinito
ler”.
Se é assim, eu queria absolutamente lá ir. A leitura, para mim, é a Vida porque,
segundo penso, ela é um verdadeiro instrumento de crescimento pessoal e de
ampliação do nosso espaço interior.
As palavras salvam quer quem escreve quer quem lê, contam da nossa vida e
convidam-nos a interrogarmo-nos.
Os livros consolam, nutrem, são amigos fiéis e inseparáveis especialmente em
momentos de abatimento e solidão. Portanto - como diz Borges - ler é uma maneira
importante de ‘ter cuidado de si
próprio’ou então - como ironicamente salienta Woody Allen - é uma ‘acção de
legítima defesa’.
Mesmo que seja verdade que a leitura é uma actividade íntima e pessoal não se
deve porém negar a sua dimensão social: ler é também um momento de intercâmbio como
outros, é descobrirmos nas palavras que encontramos, é dar um nome às nossas emoções,
é encontrar amigos que partilham o nosso mesmo caminho.
O facto de perceber que alguém encontrou os nossos mesmos problemas, tem ou
teve as nossas mesmas ideias, faz ou fez frente às nossas mesmas dificuldades,
dá-nos a conhecer que não estamos sós.
Através das páginas dum livro cada um pode descobrir partes de si mesmo,
dar-se conta de que situações, alegrias, dor são comuns também aos outros e
assim a leitura vai tornar-se abertura mental em direcção a mundos outros e
longínquos.
Alguém, talvez Eco, afirmou que quem não lê, aos 70 anos terá vivido uma só
vida, a própria! Pelo contrário, quem lê terá vivido 5.000 anos porque ele viveu
também a vida dos outros: ali estava quando Caim matou Abel, quando Renzo se
casou com Lucia, quando Leopardi admirava o ‘Infinito’… Porque a leitura é uma ‘imortalidade
para trás’.
O prazer da leitura infelizmente não pode ser ensinado -“o verbo ler, como os
verbos sonhar e amar, não suporta o
imperativo” (este é Pennac) - mas pode ser transmitido com o exemplo.
Quando alguém for próximo a pessoas que querem ler, e tiver contacto com a
paixão que pode ser desencadeada pelos livros, será talvèz possível que –
tomara! - a leitura, mesmo se devagarinho, se torne para ele numa necessidade vital,
como é para mim.
RADIANA NIGRO
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