venerdì 28 maggio 2010

"Pequeno Portugal, levedura do mundo…" por Alessandro Cannarsa


Maravilhosa pesquisa e excelente texto do nosso aluno Alessandro Cannarsa, que muito agradecemos e aqui publicamos.





Uma potência linguística

Não deixa de surpreender, esse pequeno Portugal, cada vez que se considera o papel que lhe coube desempenhar no desenvolvimento do mundo moderno.
Há claros rastos desta incrível aventura na difusão da sua maravilhosa língua: com mais de 260 milhões de falantes, o português é a quinta língua mais falada no mundo, a terceira se considerarmos as que usam o alfabeto latino, e a mais falada no hemisfério sul!
É a linguag oficial em sete países, ainda que se fale português também em muitos outros, mas o simples catálogo dos lugares nos quais se fala português não basta para se dar conta da riqueza e da variedade linguística do mundo lusófono, porque esta língua oferece também uma enorme variedade de dialectos e variantes crioulas.
E tudo isso em confronto com uma notável coerência interna: em Portugal há diferentes dialectos (açoriano, alentejano, etc.), mas de facto é o único país europeu em que se fale só uma língua (só ao dialecto de Miranda do Douro foi recentemente reconhecida a condição de segunda língua oficial), quando, pelo contrário há por exemplo áreas de Espanha em que se fala quase português (O Galego-português na Galizia e a Fala do vale de Jálama em Extremadura).

Uma língua moldável

No princípio, a palavra portuguesa “crioulo” (inglês “creole”, italiano “creolo”), que deriva do verbo “criar”, foi usada para distinguir os membros de um grupo étnico que tivessem nascido e vivido nas colónias daqueles que eram originários da mãe-pátria.
Em seguida a palavra perdeu o significado original e converteu-se no nome de diferentes comunidades específicas e das suas línguas, que frequentemente eram incríveis mesclas de termos e expressões portuguesas e locais.

A lista (incompleta) desses idiomas é espantosa:

Angolar, Forro e Principense em São Tomé e Príncipe;
Annobonese e Kriol na Guiné-Bissau;
Daman, Vaipim, Kristi, Diu e Sri Lanka Indo-Português em Índia;
Macaese em Macau e Hong Kong;
Kristang na Malaysia;
Saramaccan em Suriname;
Papiamento nas Antilhas e Aruba;
Cupópia no Brasil;
Pequeno Português em Angola;
Crioulo de Cabo Verde.

Não se trata de portanto de línguas oficiais, mas de linguagens essenciais, que se formaram de modo natural na prática diária da comunicação, como por exemplo o “Portunhol Riverense”, uma mescla de português e de espanhol que se fala no Uruguay, ou o”Simples português”, uma “língua franca” com que diferentes tribos da Angola comunicam entre si.

Pidgins

Com a expressão latina “língua franca”, ou com o termo inglês “pidgin”, ou com o termo português “crioulo”, indica-se portanto uma língua nascida da interacção de povos diferentes sem uma elaboração oficial, consciente, científica.
Obviamente existe uma grande variedade de crioulos, que envolvem todas as línguas europeias, ainda mais dos países que tinham enfrentado a empresa ultramarina, e todos os países da África, América, Ásia, Oceânia.
Em todo o caso, existe uma notável coerência estrutural entre os diversos crioulos:

1) um vocabulário limitado e essencial;
2) eliminação da flexão dos nomes;
3) pronomes pessoais com aspecto invariante;
4) verbo bem definidos do ponto de vista semântico, mas sem conotação temporal;
5) perda de algumas preposição;
6) perda dos graus intermédios (“bom” ou “não bom“) ;
7) preferência da expressão paratáctica;
8) uso da repetição expressiva.

E é a própria semelhança entre línguas assim diferentes e que se formaram em lugares tão distantes que inspirou uma ideia, a ”teoria monogenética sobre a origem dos crioulos”, que envolve, por acaso, o Português.

O “Sabir” e a teoria


A primeira “língua franca” na idade media foi o “Sabir”, (do português “saber”), que se desenvolveu no Mediterrâneo a partir do tempo da primeira cruzada até o século XIX (!).
Nasceu como língua de troca e comércio, mas também de diplomacia, e continha termos genoveses, venezianos, catalães, castelhanos, portugueses, árabes, turcos, gregos e outros.
Na costa “Barbárica”, depois da aventura de Ceuta, foram os Portugueses que re-lexificaram a língua, e depois a exportaram pela costa da África como “língua de preto”, no século XV.
O tráfico dos escravos e a exploração da América e da Ásia levou essa língua a todo o mundo, ao ponto que quando as naus inglesas, holandesas e francesas começaram a competir com os portuguesas, as equipagens tentavam falar esse “português quebrado”, mantendo pois as estruturas fundamentais.

Portanto a influência da cultura lusófona vai além das áreas onde ainda hoje se fala português, envolvendo pelo contrario regiões muito distantes.

Pequeno Portugal, levedura do mundo…

Excerto de Gil Vicente, «O clérigo de Beyra» (1530):

Ja a mi forro, nama sa cativo.
Boso conhece Maracote?
Corregidor Tibão he.
Elle comprai mi primeiro;
quando ja paga a rinheiro,
deita a mi fero na pé.
He masa tredora aquelle,
aramá que te ero Maracote ...
Qu'he quesso que te furtai?...
Jeju, Jeju, Deoso consabrado!
Aramá tanta ladrão!
Jeju! Jeju! hum caralasão;
Furunando sá sapantaro.





ALESSANDRO CANNARSA

1 commento:

Stefano Valente ha detto...

Deveras excepcional, Alexandre!

Parabéns e obrigado