sabato 14 novembre 2015

A insónia de um tempo profundo - Duarte Pinheiro

Il nostro amico Duarte Pinheiro, ex-docente alle Università dell'Aquila e di Salerno e all'IPSAR a Roma, che ha conosciuto e convissuto con Paulo Cunha e Silva, lo ricorda in questo bellissimo testo che ora pubblichiamo, ringraziandolo di cuore.





A insónia de um tempo profundo


“- Tem uma caneta que me empreste?
- Não, não tenho.
- Pois, atualmente os leitores do Camões já não usam canetas! “

 

Foi durante a exposição de Albuquerque Mendes que mantive este curto diálogo com Paulo Cunha e Silva. Ele era Conselheiro Cultural na Embaixada Portuguesa em Roma, eu era docente do IPSAR e do Instituto Camões nas Universidades de L’Aquila e Salerno.  Ele buscava uma caneta enquanto se preparava para dar uma entrevista ao jornal Público, eu tinha acabado de chegar dos meus périplos universitários ao local da exposição, a belíssima Igreja de Santo António dos Portugueses. Após o comentário sarcástico que havia feito, pensei de imediato “O homem não gosta de mim!”; mas depois refleti que também os conselheiros culturais atualmente não tinham canetas, ou pelo menos ele, Paulo, não tinha qualquer caneta naquele momento. Na verdade, ele colecionava canetas, mas a sua escrita era feita com outros objetos, telemóveis, computadores, tablets, porque Paulo Cunha e Silva era um homem que lutava contra o tempo. “Dinâmico” é um adjetivo “curto” e insuficiente para caracterizar a personalidade de Paulo Cunha e Silva. Ele lutava contra o tempo, pois preferia fazer do que se ficar pelas ideias. Era rápido a executar ideias e projetos, como sentisse que uma ideia demasiada amadurecida podia cair da árvore e nunca dar um fruto apetecível. Tive o prazer de trabalhar com ele em alguns eventos culturais para o Instituto Camões e, de facto, Paulo era um homem que tinha ideias, reunia pessoas, procurava espaços e o evento fazia-se nem que fosse nos lugares mais impensáveis e com orçamentos reduzidos (muitas vezes sem estes) do mundo. E fazia-os na hora. A exposição de Albuquerque Mendes na Igreja de Santo António dos Portugueses é um bom exemplo do que o Paulo pensava acerca da arte. Na hora. Em público não era uma pessoa palradora, mas por detrás da sua elegância e vaidade escondiam-se dois ouvidos atentos. Além disso, tinha um feitio especial para perceber os artistas e um orgulho imenso num país chamado Portugal. De Portugal para Roma trouxe Bela Silva, Joana Vasconcelos, Manoel de Oliveira, Siza Vieira, Eduardo Souto Moura, entre outros. Alentejano de gema, portuense de coração, Paulo foi a tempo de iniciar um projeto que havia interrompido aquando da saída da Porto 2001: Porto! Enquanto vereador da cultura,  Paulo fez com a Cidade Invicta se revitalizasse e enchesse de vida, de movimento. Turistas, habitantes, estudantes, artistas, museus, cafés (...) constituíram para Paulo Cunha e Silva a amálgama perfeita para que pudesse dar voz à sua paixão, o conhecimento. Trabalhava muito e dormia pouco. As insónias não lhe permitiam o descanso do corpo.  E o tempo escapava-se-lhe das mãos como grãos de areia.  Entristece-me que a sua vida tenha sido fugaz, mas Paulo Cunha e Silva era mesmo assim, um homem fugaz.


DUARTE PINHEIRO

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