Hoje a grande fadista CELESTE RODRIGUES faz 93 anos de vida!
Vida longa, vida rica, cheia de emoções, que a fadista soube sempre transmitir, através da sua arte e do seu modo de estar perante as coisas da vida.
Nesta curta entrevista concedida a Anabela Mota Ribeiro diz como nunca pensou ser artista e como a música a acompanha em cada momento, transmitindo-lhe alegria!
Bem-haja, CELESTE por estes anos longos e brilhantes, em que tem enchido as nossas vidas, com a sua voz e com o que ela desperta nas almas. É com grande emoção que Via dei Portoghesi, os seus leitores e amigos e um grupo de admiradores seus em Roma lhe dá os parabéns, de todo o coração.
E lhe deseja uma vida muito longa ainda e muito feliz!
Celeste Rodrigues é uma fadista tradicional das mais
conceituadas do universo musical português, considerada uma referência pelas
mais jovens gerações de intérpretes.
Maria Celeste Rebordão Rodrigues nasceu no Fundão a 14 de
Março de 1923. Quando tinha 5 anos os seus pais vieram para Lisboa e
estabeleceram-se no bairro de Alcântara. Celeste Rodrigues frequentou a Escola
Primária da Tapada e recorda a sua infância como igual à de tantas outras
crianças, com a excepção de se reconhecer como uma "maria rapaz",
traquina, embora tímida e envergonhada. Quando não quis estudar mais, empregou-se
numa fábrica de bolos. E, mais tarde, junto com a irmã Amália,
trabalha num ponto de venda de artigos regionais na Rocha Conde de Óbidos (cf.
“Álbum da Canção”, 1 de Maio de 1967).
A sua carreira é impulsionada pelo empresário José Miguel, à data proprietário de várias casas típicas, que depois de a ter ouvido cantar, entre amigos, na Adega Mesquita, insiste na sua profissionalização como fadista.
A sua carreira é impulsionada pelo empresário José Miguel, à data proprietário de várias casas típicas, que depois de a ter ouvido cantar, entre amigos, na Adega Mesquita, insiste na sua profissionalização como fadista.
Celeste Rodrigues estreia-se em 1945 no Casablanca
(actual Teatro ABC) e, dois meses depois, ingressa numa Companhia teatral e
parte para o Brasil, acompanhando a irmã Amália Rodrigues na representação da
opereta "Rosa Cantadeira" e da revista "Bossa Nova". Esta
digressão acaba por durar cerca de 1 ano. Ao longo da sua carreira Celeste
Rodrigues receberá diversos convites para integrar peças de teatro, mas recusa
sempre.
No regresso a Lisboa dá continuidade à sua carreira de
fadista, apresentando-se no elenco de diversos espaços de fado como o Café
Latino, o Marialvas ou a Urca (na Feira Popular). Mais tarde, transita do Luso
para a Adega Mesquita, onde se mantém por 4 anos. Posteriormente integra os
elencos da Tipóia e da Adega Machado.
No início da década de 1950 a fadista regressa ao Brasil,
desta feita para actuar na rádio, na televisão e no restaurante Fado, de Tony
de Matos, sempre com assinalável êxito.
Aos 30 anos casa-se com o actor Varela Silva, com quem
tem duas filhas. É contratada para cantar na casa Márcia Condessa e, em Janeiro
de 1957, torna-se proprietária do restaurante típico A Viela, um espaço
privilegiado para a convivência de poetas, intelectuais, cantores e de longas
tertúlias, mas ao qual renuncia 4 anos mais tarde, confessando não sentir
“queda para o negócio” (cf. Álbum da Canção, 1 de Maio de 1967).
Na década de 1950 Celeste Rodrigues era já uma figura
ímpar no universo do Fado, levando-o além fronteiras, para países como o Brasil,
Espanha, Congo Belga, África Inglesa, Angola e Moçambique. E, em território
nacional, era também uma fadista consagrada, conforme revela à revista “Álbum
da Canção”, foi das primeiras “a actuar no período experimental da RTP, no
teatro da Feira Popular (…)” e “a primeira a enfrentar as câmaras, quando os estúdios
do Lumiar passaram da fase de experiências para as emissões regulares.” (cf.
“Álbum da Canção”, 1 de Maio de 1967), actuações em espaços bem demonstrativos
da sua grande popularidade.
Continuando a pautar o seu percurso profissional pelas
apresentações nas casas de fado de Lisboa, Celeste Rodrigues integra o elenco
da Parreirinha de Alfama no início da década de 1960, e aí permanece por mais
de 10 anos, altura em
que João Ferreira-Rosa a convida para o elenco da Taverna do
Embuçado, onde faz actuações ao longo de 25 anos. Posteriormente actuará nas
casas Bacalhau de Molho e Casa de Linhares. A fadista concretiza uma carreira de
sucesso, com actuações nas casas típicas, em programas de rádio e televisão,
nacionais e internacionais. No auge da sua carreira artística, celeste
Rodrigues foi também convidada a gravar para a BBC em Londres, a convite de
Richard Engleby. E, no decurso de todos estes anos de actividade intensa, teve
oportunidade de passar por algumas das maiores cidades do mundo.
Apesar
das sucessivas comparações com Amália Rodrigues, sua irmã, Celeste Rodrigues
possui uma autenticidade única, uma forma singular de interpretação, patente
nos temas do seu repertório, como os populares “A lenda das algas” (Laierte
Neves – Jaime Mendes),
“Saudade vai-te embora” (Júlio de Sousa), “O meu xaile” (Varela Silva), ou o
tema de Manuel Casimiro “Olha a mala”, que se tornou o seu maior êxito de
vendas, entre os quase 60 discos que gravou.
Corre o ano de 2005 quando Ricardo Pais, director do Teatro Nacional São João, a desafia a participar no espectáculo "Cabelo Branco é Saudade" ao lado de outras três grandes vozes do Fado: Argentina Santos, Alcindo de Carvalho e Ricardo Ribeiro. Com este espectáculo a fadista teve a oportunidade de percorrer vários palcos nacionais e internacionais.
Mais recentemente, um dos momentos altos da sua carreira
é a edição do álbum “Fado Celeste”, editado em 2007 na Holanda, e que reúne fados
tradicionais e inéditos com letras de autores contemporâneos, como Helder
Moutinho e Tiago Torres da Silva.
Nesse mesmo ano, em Outubro, decorreu no auditório do
Museu do Fado uma homenagem à fadista, iniciativa da Associação Portuguesa dos Amigos
do Fado, num reconhecimento da “voz bonita, capacidade interpretativa e a
regularidade de uma carreira.” (declarações de Julieta Estrela de Castro,
presidente da APAF à agência Lusa).
Actualmente Celeste Rodrigues vive entre Lisboa e
Washington, onde residem as suas filhas e os seus netos, mas mantém uma
actividade fadista regular, participando em diversos espectáculos e actuando
pontualmente em casas de fado de Lisboa. Como a própria revelou, em 1970: “a
idade influi grandemente na maneira como se canta. Sentimos o que cantamos, com
maior sensibilidade e emoção.” (cf. “Rádio & Televisão”, 11 de Novembro de
1970, in “Cabelo Branco é Saudade”, programa do espectáculo, 2005). E é
certamente essa sensibilidade e emoção que todos continuamos a registar nas
suas interpretações.
Fado Celeste
Tiago Torres da Silva / Pedro Pinhal
Quando a manhã desperta
A janela entreaberta
Deixa-me ver a cidade;
E p'ra não sofrer à toa
Não dou um nome a Lisboa
E só lhe chamo saudade
Há tanta gente a passar
Que às vezes chego a escutar
O pregão duma varina
Sei que a vida continua
Mas vejo
passar na rua
Os meus
tempos de menina
Olho outra vez a cidade
Mas quando o vento me invade
E a solidão me agarra
Fecho de vez a janela
Peço à saudade, cautela
E abraço uma guitarra
2 commenti:
...con quale nonchalante envergure D. Celeste parla di sua madre e testimonia l'esistenza di un'epoca in cui cantare, semplicemente cantare, faceva parte della naturalezza del vivere... Muitos Parabéns! Prosperidade sempre!
Celeste é o sol, como a Amália era a lua. Dia e noite num magnético suceder-se. Sombra e luz que brotaram do mesmo seio, da mesma voz de Mãe: duas vozes tão diversas e tão belas, que parecem uma única: a voz de Portugal.
Posta un commento