Belíssimo texto da nossa aluna CHRISTINE VITALI, que nos conta da sua Páscoa passada em Bruxelas, com a ferida ainda muito aberta dos ataques terroristas.
Obrigado, Christine, pelo que nos transmites nestas linhas, num português perfeito!
PÁSCOA 2016 EM BRUXELAS
Como é habitual, ouço o noticiário quando acordo. Na
terça-feira 22 de março, uma notícia
chamou a minha atenção:
Duas explosões no aeroporto de Bruxelas e uma no metro no
centro cidade entre as 8 e as 9 horas da manhã.
O pânico enche o meu coração e a minha mente de mãe, porque a
minha filha vive em Bruxelas desde outubro de 2015. Sei que entre as horas 8 e
9, ela vai para o trabalho. Mas onde é exatamente o seu trabalho ? E como vai ? De
metro, de autocarro ou de elétrico ? Ela já mudou várias vezes de alojamento e não me lembro
onde mora agora, nem conheço o seu itinerário
diário para ir para o trabalho. Ela
será poupada de atentados como a sua
irmã, em Paris, em novembro de 2015 ? E se
o aeroporto de Bruxelas não funciona, como chegar lá para passar a Páscoa com
ela e a familia na capital da Bélgica, como programado há algum tempo ?
Somente depois duma chamada breve consigo relaxar. A minha filha esta já no escritório. Lá soube dos atentados e
responde às chamadas da família e dos
amigos preocupados. Por este acontecimento, não se consegue concentrar nas suas
obrigações. Alguns colegas apanharam o metro e por sorte estão bem.
Choro. Choro com alívio
e raiva. Que vida é ? Agora o terrorismo tem de integrar o nosso quotidiano? Paris há 4 meses, agora Bruxelas…. O próximo atentado será em Londres onde
mora o meu filho ? Ou em Roma onde vivo ? Dezenas, centenas de mortos e
feridos, porquê ? Em nome de quem ? É possível tanta cega violência e
devastação ? Os Homens nunca aprendem ?
Então após esta
tragédia, e apesar do fecho do aeroporto principal e do cancelamento forçado
do meu voo reservado desde fevereiro, resolvo viajar para Bélgica com outra
companhia aérea e para outro aeroporto. Os outros filhos chegam também , um de
autocarro de Londres e uma com a sua familia (e a sua barriga – está
grávida de 7 meses) de comboio de Paris.
Na sexta-feira (25 de março), estamos todos juntos, vivos e felizes. No sábado
, esperamos os meus sobrinhos de Pisa mas nunca vieram: a mãe deles teve medo.
Os dias depois de ataques são os melhores para viajar: altíssima segurança e lugares no avião
pelas anulações de última a hora. Além disso, temos de testemunhar a nossa
solidariedade com os habitantes feridos no corpo e na mente. Assim, a nossa
presença ajuda a economia, fortemente penalizada pelos atentados. Ainda mas,
acho que a liberdade de viajar é
mais forte do que o medo.
A cidade de
Bruxelas (ou seja as cidades, porque há varias câmaras como Molenbeek ou
Schaerbeek) está como em letargo. Pouca gente e muita polícia, soldados
e militares. Redução das linhas de elétrico e de metro. Controles em frente de
cada entrada publica. Que pena que seja mais tarde …
O clima é típico do
Mar do Norte na primavera: vento frio, chuva e não chuva, sol e não sol, mar
de nuvens no céu azul. Andamos muito a pé porque o metro tem tantas paragens
fechadas. Encontramo-nos com uns meus colegas da escola que moram em Bruxelas.
Passeamos na área dos emigrantes portugueses. Descobrimos a cidade e visitamos muitos
lugares e museus bonitos. Comemos em
vários restaurantes: comida vietnamita, libanesa, espanhola, belga. Provamos chocolate belga. Bebemos cerveja.
Tiramos fotos. Ficamos contentes de estar juntos.
Naturalmente vamos também
a Praça da Bolsa para homenagear as vítimas. As flores e as velas formam um alegre tapete de
cores sob o sol. Algumas pessoas - de
todas as origens - rezam, uns ajoelham-se ou choram. Há mensagens de paz e
de tolerância em todas as línguas Bruxelas torna-se o centro do mondo
civilizado.
Assim foi uma Páscoa feliz, porque : AMOR E CULTURA VENCEM
SOBRE BARBARIA E IGNORÂNCIA.
P.S. A policia belga controlou o autocarro do meu filho para
Londres, antes da partida : encontrou dois imigrantes no compartimento das
malas…
CHRISTINE VITALI
2 commenti:
Christine vocé è uma pessoa muito especial e eu queria conhecê-lhe um dia.
Sinto los mesmos sentimentos e credo que a nossa libertade è importante para nos e para nossos filhos. O medo não importa porque nos somos cidadãos do mundo.
É por isso que eu quero viver.
Obrigada pelo teu testumunho Christine!
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