Obrigado, Isabella, por esta partilha com os leitores de Via dei Portoghesi!
Pontos de vista
«Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar»
Fiquei muito tempo aqui, sentada à minha secretária, a pensar no que podia
escrever sobre este assunto.
O provérbio fala de prudência, de certeza em relação à incerteza, de
realidade em relação à promessa.
Poderíamos falar de muitas coisas…
Mas enquanto eu pensava, de repente imaginei um diálogo entre os três
passarinhos envolvidos na máxima e, nesta minha fantasia, vi um rouxinol, uma
cotovia e uma andorinha que falavam assim:
Rouxinol: Ó Andorinha! Não sabes que «mais valem dois pássaros no céu do que um
com a barriga cheia nas mãos dos homens»?
Andorinha: Certo que sim! Mas é primavera! Voei por muitos
dias...e tinha muita fome...
Cotovia: Não estavas boa da cabeça? Foste imprudente....
Rouxinol: Vamos arranjar uma maneira de libertá-la! Seria
uma boa ideia, não é Cotovia?
Cotovia: Acho que sim, mas quando? Eu levanto-me cedo de manhã, penso que de
madrugada seria o momento melhor...todos dormem. Está combinado?
Rouxinol: Não pode ser... esse é o preciso momento em que vou para a cama. Eu durmo
a aquela hora! Canto toda a noite, ma só até ao nascer do sol! Tenho uma vasta plateia
de ouvintes: noivos, casais e amantes sentados debaixo das árvores ou
escondidos nos bosques, nos campos, entre a relva, as flores e as espigas de
trigo. Alguns ouvem-me cantar nas próprias camas: são aqueles namorados que
deixam as janelas abertas de noite para ouvir os sons da natureza, nos braços
um do outro, envoltos em cândidos lençóis. Lembras-te por exemplo da Julieta,
aquela linda rapariga de Verona? Amava de tal maneira o meu chilreio que às
vezes lhe parecia ouvi-lo de manhã cedo, não é assim Cotovia?
Cotovia: Lembro-me bem... era eu que cantava! A Julieta estava doida! Só o Romeu –
tão lindo, tão carinhoso - entendeu bem e, não por acaso, chamou-me «mensageira
da manhã». O meu canto é melhor do que o teu! Um músico romeno dedicou-me uma
canção! Um poeta deu-me o apelido «de espírito de alegria», era inglês se não
me engano! Eu subo de repente, verticalmente, ao ar para cantar! De repente
caio abaixo, mas abro as minhas asas pouco antes de tocar o chão! E volto a
subir para continuar a cantar! É a energia de quem se levanta cedo de manhã,
meu vaidoso e presunçoso rouxinol! Sou valente eu!
Andorinha: Não acredito, passaram este tempo todo só a
falarem sobre vocês! A salientar as vossas qualidades! Seria bem melhor se
vocês voassem mais alto para não vos ouvir! Fanfarrões!
Fiquei aqui, presa, entre as mãos de uma linda menina. Estava sentada a
chorar. Eu aproximei-me e ela ofereceu-me um saboroso bichinho. Eu sabia que
era perigoso caçar os insetos no chão...mas ontem perdi o meu bando e não
encontrei comida no ar. Fiquei sozinha e a menina também.
Ela libertou-me há dez minutos mas vocês não perceberam nada! Ela deixou-me
com um sorriso límpido e, naquela estranha língua dos seres humanos, ela
cumprimentou-me e despediu-se assim: Obrigada pelo teu canto lindo
passarinho (e pela tuas palavras: não há canto sem palavras, não é?).
Uma andorinha só, ‘às vezes’, faz primavera…
o rouxinol
a cotovia
a andorinha
4 commenti:
O que texto inteligente e cheio de humour! Tem o mesmo andamento de um apólogo antigo: gostaria de nunca acordar desta fábula! Conhecem a história do Uirapuru, o pássaro amazónico?
Não a conheço m., vou-me informar, imediatamente!! Que bom que tu gostaste! :) O Mérito é do nosso professor que nos inspira!!!
https://www.youtube.com/watch?v=Wgh8CzHPKok
querida I. o Professor sabe tudo o que precisa conhecer sobre o Uirapuru, os índios, o mito do deus do amor, as ligações entre a forma musical do poème symphonique do impressionismo europeu e o modernismo de Heitor Villa Lobos; e também acerca do som do violinofone ou violino de Stroh... Mas agora é o momento de ler (e gostar d)o teu texto. Vou relê-lo!
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