lunedì 4 aprile 2016

Recordações de Portugal 2/3 - GIOVANNA SCHEPISI

Três amigas de Portugal e da língua portuguesa escreveram estes textos que aqui publicamos e que revelam o fio rubro da emoção que as liga ao nosso país.
Muito obrigado FERENA CAROTENUTO, GIOVANNA SCHEPISI e RADIANA NIGRO!




O último encontro literário que se organizou no Instituto Italiano de Cultura de Lisboa poucos dias antes de que eu deixasse Portugal, em junho de 2009, foi dedicado ao poeta e escritor Manuel Alegre, na ocasião da apresentação do seu livro “O Quadrado (e outros contos)” publicado em italiano por “Il Filo”. A mesma editora já tinha publicado outro pequeno livro de Manuel Alegre, “Cão como nós”, traduzido para italiano por Maria Luisa Cusati.

Não era a primeira vez que Manuel Alegre visitava o Instituto Italiano. Ele muitas vezes tinha demonstrado simpatia e apreço hacia o nosso país, apreço e estima retribuidos por Italia que em 2008 lhe atribuiu a condecoração de “Grand’Ufficiale dell’Ordine della Stella della Solidarietà Italiana”. Em Abril de 2010 a Universidade de Pádua inaugurou a Cátedra Manuel Alegre, destinada ao estudo da Língua, Literatura e Cultura Portuguesas, e nessa altura foi-lhe entregada a Medalha da Cidade de Pádua, tendo sido agraciado com o título de Cidadão-Honorário.

Além da sua importante atividade literária, quer como poeta, quer como escritor, quero aqui destacar também a intensa atividade cívica e política desempenhada por Manuel Alegre ao longo de toda a sua vida. Estudante de Direito na Universidade de Coimbra, participou ativamente, nos primeiros anos ’60, nas lutas académicas contra a ditadura; cumpriu o serviço militar em Angola, onde foi preso, em 1961, pela polícia política do regime por se revoltar contra a guerra colonial e passou seis meses na Fortaleza de S. Paulo em Luanda. É ali que escreveu muitos dos poemas do seu primeiro livro, “Praça da Cançao”, que se tornaria um símbolo da oposição ao salazarismo e “a bandeira dos estudantes contra o fascismo”. “Foi certamente o livro mais lido, mais comentado, mais entusiasmante, mais influente para a minha geração …”, o livro “que fez arder uma geração inteira” diz de “Praça da Canção” o romancista António Lobo Antunes. Um livro que mesmo censurado continuou a circular clandestinamente, o livro que profetizou a Revolução dos Cravos, e que foi definido “uma obra central da literatura e história de Portugal”.
Regressado a Coimbra, em 1964 Manuel Alegre exilou-se em París e sucessivamente  em Argel, onde desenvolveu atividades contra o regime de Salazar. Em 1974, quando lhe chegou a mensagem tão esperada “Lisboa está tomada … a revoluçao está na rua! …”(1) regressou definitivamente a Portugal, onde desenvolveu uma atividade política constante. Foi membro destacado do Partido Socialista português, partido do qual foi fundador e vice-presidente, foi deputado na Assembleia da República portuguesa durante 34 anos e duas vezes (em 2006 e em 2011) candidato à Presidência da República, sempre demonstrando, nos vários cargos governamentais desempenhados, a sua fidelidade aos ideais da liberdade.
Não obstante uma atividade política tão intensa, a produção literária de Manuel Alegre - poesia, ficção, ensaios, literatura infantil - foi nestos anos especialmente vasta.  Já que, como ele diz  "escrita e vida são inseparáveis. Embora” diz também “eu entenda a poesia (o murmúrio das sílabas / a música secreta da palabra (2)) como experiência mágica …"

 GIOVANNA SCHEPISI

(1)       “O homem do país azul”(1989)
(2)       “Pompeia” (1995)

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