Muito obrigado FERENA CAROTENUTO, GIOVANNA SCHEPISI e RADIANA NIGRO!
O último encontro literário que se
organizou no Instituto Italiano de Cultura de Lisboa poucos dias antes de que
eu deixasse Portugal, em junho de 2009, foi dedicado ao poeta e escritor Manuel
Alegre, na ocasião da apresentação do seu livro “O Quadrado (e outros contos)” publicado em italiano
por “Il Filo”. A mesma editora já tinha publicado outro pequeno livro
de Manuel Alegre, “Cão como nós”, traduzido para italiano por Maria
Luisa Cusati.
Não era a
primeira vez que Manuel Alegre visitava o Instituto Italiano. Ele muitas vezes
tinha demonstrado simpatia e apreço hacia o nosso país, apreço e estima retribuidos por Italia que em 2008 lhe atribuiu a condecoração
de “Grand’Ufficiale dell’Ordine della Stella della Solidarietà Italiana”. Em Abril de 2010 a Universidade de Pádua inaugurou a Cátedra
Manuel Alegre, destinada ao estudo da Língua, Literatura e Cultura Portuguesas,
e nessa altura foi-lhe entregada a Medalha da Cidade de Pádua,
tendo sido agraciado com o título de Cidadão-Honorário.
Além
da sua importante atividade literária, quer como poeta, quer como escritor,
quero aqui destacar também a intensa atividade cívica e política desempenhada
por Manuel Alegre ao longo de toda a sua vida. Estudante
de Direito na Universidade de Coimbra, participou ativamente, nos
primeiros anos ’60, nas lutas académicas contra
a ditadura; cumpriu o serviço militar em Angola, onde foi preso, em 1961, pela
polícia política do regime por se revoltar contra a guerra colonial e passou
seis meses na Fortaleza de S. Paulo em Luanda. É ali que escreveu muitos dos
poemas do seu primeiro livro, “Praça da Cançao”, que se tornaria um
símbolo da oposição ao salazarismo e “a
bandeira dos estudantes contra o fascismo”. “Foi certamente o livro mais lido, mais comentado, mais
entusiasmante, mais influente para a minha geração …”, o livro “que fez
arder uma geração inteira” diz de “Praça da Canção” o
romancista António Lobo Antunes. Um livro que mesmo censurado continuou a circular clandestinamente, o
livro que profetizou a Revolução dos Cravos, e que foi definido “uma obra
central da literatura e história de Portugal”.
Regressado
a Coimbra, em 1964 Manuel Alegre exilou-se em París e sucessivamente em Argel, onde desenvolveu atividades contra
o regime de Salazar. Em 1974, quando lhe chegou a mensagem tão esperada “Lisboa está tomada … a revoluçao está na rua! …”(1) regressou definitivamente a Portugal, onde
desenvolveu uma atividade política constante. Foi
membro destacado do Partido Socialista português, partido do qual foi fundador
e vice-presidente, foi deputado na Assembleia da República portuguesa durante
34 anos e duas vezes (em 2006 e em 2011) candidato à Presidência da
República, sempre demonstrando, nos vários cargos governamentais desempenhados,
a sua fidelidade aos ideais da liberdade.
Não obstante uma atividade
política tão intensa, a produção
literária de Manuel Alegre - poesia, ficção, ensaios, literatura infantil - foi
nestos anos especialmente vasta. Já que,
como ele diz "escrita e vida são inseparáveis. Embora” diz também “eu entenda
a poesia (o murmúrio das sílabas / a
música secreta da palabra (2)) como experiência mágica …".
GIOVANNA SCHEPISI
(1)
“O homem do
país azul”(1989)
(2)
“Pompeia” (1995)
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