lunedì 4 aprile 2016

Recordações de Portugal 3/3 - RADIANA NIGRO

Três amigas de Portugal e da língua portuguesa escreveram estes textos que aqui publicamos e que revelam o fio rubro da emoção que as liga ao nosso país.
Muito obrigado FERENA CAROTENUTO, GIOVANNA SCHEPISI e RADIANA NIGRO!





No final do último ano do meu trabalho em Portugal fui de férias aos Açores com alguns amigos chegados da Itália. São ilhas lindíssimas e cheias de tesouros naturais e de aspetos culturais muito  interessantes. Porém a recordação da qual agora quero falar. não é a da beleza destas ilhas. 

Um dia, durante um almoço num restaurante, na mesa perto da nossa, chegou um grande grupo de pessoas de diferente idade que começou a comunicar duma maneira que se me tornou muito intrigante:  os mas idosos dirigiam-se ao pequenitos, talvez os netos,  utilizando a língua portuguesa e os adultos, para facilitar a comprensão dos mais jovens, traduziam todas  as suas palavras para inglês; depois os jovens respondiam em inglês e todas as suas  expressões tinham imediatamente uma tradução para português em benefício dos mas idosos. E assim foi durante todo o almoço. 

Este episódio, junto às  bandeiras das diferentes nações que tinha visto patenteadas em frente de muitos prédios particulares das Ilhas, provocou em mim uma reflexão sobre alguns aspetos da vida portuguesa -  e não somente portuguesa. Estava claro que as bandeiras eram aquelas dos países da emigração portuguesa ao longo dos anos: França, Suíça, Alemanha, Inglaterra, EUA, Holanda. Bélgica …   e que os jovens de segunda ou terceira geração portuguesa, que estavam sentados perto de mim, tinham esquecido, ou talvez nunca aprendido, a língua materna. 

Estas reflexões confirmavam-me que o tema da emigração está intimamente ligado a questões relacionadas com a língua e a cultura, questões que podem ter algumas consequências na identidade dos indivíduos. 

O mundo em que vivemos  é cada vez mais caracterizado por pessoas que saem do país que os viu nascer em direção ao mundo  (de qualquer modo eu mesma sou testemunho disso) e no processo de emigração e de integração a língua tem um papel fundamental até para a trasmissão dos fundamentos básicos da cultura e dos diferentes valores e hábitos sociais.  Então é necessário que este seja um processo de trabalho mútuo - quer sejamos emigrantes, quer representantes da comunidade de acolhimento - mesmo que  não seja uma tarefa simples como infelizmente verificamos com os horrorosos recentes acontecimentos. Trata-se portanto dum desafio que exige bastante trabalho e compromiso mas que, sob a condição que se possam ir corrigindo as falhas que existem, não tem que ser algo negativo, pelo contrário.

Portugal é, ao que parece, um bom exemplo enquanto país de acolhimento e eu pela minha parte, graças ao longo trabalho no estrangeiro que me levou apartilhar e compreender  sensações e sentimentos  de ‘outros de mim’, através das relações pessoais e da convivência direta com diferentes culturas,  tenho uma séria convicção:   o pensamento che há uma identidade cultural única e estável hoje é cada vez mais irreal, ou antes, pode incitar, se mal percebido, aquelas ‘identitades assassinas’ , assim  chamadas pelo escritor franco-libanês  Amin Maalouf,  que empurram em direcção ao integralismo, ao radicalismo  ao ódio e à violência contra tudo aquilo que se percebe como ‘outro’, dado que  - e com esta ideia eu estou completamente de acordo con Maalouf-  a única identidade que tem que ser considerada  imprenscidível  é a pertença de todos nós à comunidade humana. 

RADIANA  NIGRO       

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