Ainda na linha dos textos publicados no fim do mês passado, «notícias inventadas para um jornal que não existe», os nossos alunos EROS OLIVIERI e MATTEO CANALE oferecem à nossa leitura dois textos cheios de espírito e de humor, que muito agradecemos e aqui publicamos!
Herbert List - SWITZERLAND. 1936. Lake Lucerne (Lac des
Quatre-Cantons)
Amor ou guerra?
Entre Vénus e Marte passou-se a guerra?
Não sei, mas sei com certeza, a certeza que me dá a
mitologia grega, que entre eles se passou amor e que eles fizeram um filho,
Eros; e, portanto, se houve a guerra, também ficaram alguns momentos de
suspensão das hostilidades.
Assim é a guerra de amor: uma guerra permanente, explícita
ou oculta, silente ou barulhenta, mas sempre com alguns momentos de paz.
Eis o diário sintético de dois casais, hoje, num lugar
qualquer.
Richard Kalvar - ITALY. 1978. Rome. Vatican. St. Peter's Square.
Conversation around a column
Ela, quando acorda, pretende silêncio sacramental.
Ele pretende ver na RPT1 “Bom dia Portugal”.
Ela estuda francês, fala francês, lê só livros em francês e
vê filmes em francês.
Ele, o pobrezinho, faz tudo isto só em portugues
Ela vai só de carro ou de táxi.
Ele vai a pé ou de transportes pùblicos.
Ela vai à procura de lojas chiques.
Ele à procura de lojas de roupa e livros usados.
Ela joga
bridge, no Club.
Ele há anos que lhe promete que, antes de morrer, irá
aprender o bridge.
Protomoteca Campidoglio - 2016
Ela gosta de ir à montanha no verão.
Ele gosta ir à praia.
Ela quer ver filmes na televisão.
Ele quer ver encontros de bola.
Ela prefere dormir à tarde e ir ao cinema à noite.
Ele prefere ir dormir cedo à noite e ir ao cinema à tarde.
Ela adora restaurantes à la page, pelo menos com uma estrela
Michelin.
Ele adora tascas, rústicas e não sofisticadas.
Ela recebe carícias nos dias feriados, numa certa hora,
quarto e maneira, com aquelas mùsica e luz.
Ele, o animal, quereria recebê-las sempre que quer, não importa
a hora, o quarto, a música ou a luz.
Ela frequenta, de roupa elegante, concertos de música
clássica.
Ele vai aos concertos rock, vestido informal, muito informal,
quase indecoroso.
Ela escolhe restaurantes cheios de gente.
Ele, se e quando pode, escolhe jantar com duas ou três
pessoas. Às vezes, sozinho.
Ela ama ela mesma.
Ele, também, ama ele mesmo.
Ambos prometem um ao outro que irão morrer juntos, de velhice.
Tudo isto é amor ou guerra. Guerra de amor ou amor de
guerra?
EROS OLIVIERI
Pantheon - 2015
1 commento:
oh Eros, hoje finalmente comprendi: tu és o roteirista de Woody Allen! não posso conseguir ler sem dar no mínimo uma outra imensa gargalhada: obrigado!
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