Laure Cavaniè estuda Português há um ano: o que começou por ser um interesse vago tornou-se num esforço sério e num resultado francamente positivo. Escreve-nos agora "As duplicações do Senhor Ninguém", um texto de grande complexidade, sobre Fernando Pessoa, autor estudado recentemente por ocasião da ida ao teatro "Faustdipessoa"...
As duplicações do Senhor Ninguém
Pessoa, poeta múltiplo, para quem na base de cada ser humano existe um princípio de incompletude, considera o ser humano como insuficiente e, por conseguinte, tem necessidade de um outro. Para ele, é como se o indivíduo procurasse, não ser reconhecido, mas ser contestado. A criação das identidades múltiplas poderia responder a um sobressalto vital que protegeria o sujeito de um arrasamento total. Então, a fracção em várias duplicações permite superar a inexistência sentida.
Por isso parece que tenha sido vital para Pessoa inventar outros “eus”, ora reais, ora fictícios, para poder enfim obter um “ego” constituído de todas as suas partes, a que chamará heterónimos.
No entanto, em total perda de identidade, Pessoa tenta multiplicar os espelhos para enfim poder receber um único reflexo que seria o seu. Mas o escritor perde-se cada dia mais a tal ponto de escrever a antigos professores, fazendo-se passar por um psiquiatra encarregado de curar Fernando Pessoa, para lhe perguntar as suas opiniões sobre o estatuto mental de adolescente que foi.
E verdade que ele sofria por não se sentir ser, mas podia também ser que sofresse por ser só esse único “eu” que não reconhecia como seu. Parece que Pessoa se via como sendo vários. Poderia ser que a prática dos seus quarenta quatro heterónimos tinha sida o seu modo de escapar aos limites da sua personalidade.
Mas, apesar do “aspecto psiquiátrico da sua heteronomia”, Pessoa é considerado como um dos maiores escritores e poetas portugueses do século XX.
Então, Fernando Pessoa, era um génio porque era louco ou era um louco porque era génio?!
LAURE CAVANIÈ
Por isso parece que tenha sido vital para Pessoa inventar outros “eus”, ora reais, ora fictícios, para poder enfim obter um “ego” constituído de todas as suas partes, a que chamará heterónimos.
No entanto, em total perda de identidade, Pessoa tenta multiplicar os espelhos para enfim poder receber um único reflexo que seria o seu. Mas o escritor perde-se cada dia mais a tal ponto de escrever a antigos professores, fazendo-se passar por um psiquiatra encarregado de curar Fernando Pessoa, para lhe perguntar as suas opiniões sobre o estatuto mental de adolescente que foi.
E verdade que ele sofria por não se sentir ser, mas podia também ser que sofresse por ser só esse único “eu” que não reconhecia como seu. Parece que Pessoa se via como sendo vários. Poderia ser que a prática dos seus quarenta quatro heterónimos tinha sida o seu modo de escapar aos limites da sua personalidade.
Mas, apesar do “aspecto psiquiátrico da sua heteronomia”, Pessoa é considerado como um dos maiores escritores e poetas portugueses do século XX.
Então, Fernando Pessoa, era um génio porque era louco ou era um louco porque era génio?!
LAURE CAVANIÈ
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