João Botelho intriga mas não envolve. Suscita interesse mas não entusiasma. Falta alguma coisa ao filme "A Corte do Norte", algo que não é fácil de definir, quase como acontece à(s) protagonista(s): ela também sente a falta de qualquer coisa mas não sabe exactamente do quê.
Constrangida à ilha da Madeira, Rosalina fica presa num matrimonio que lhe dá a possibilidade de conhecer a alta sociedade (a sua admiração pela princesa Sissi tornar-se-à numa ambígua obsessão) mas que limita demais a sua vontade de partir para conhecer o mundo. Ou até partir o próprio mundo hipócrita com as suas ideias feministas ante litteram.
O ritmo é lento, mas adequado ao ambiente aristocrático que se pretende narrar, dando também a sensação do tempo que passa inexorável. Genial, de qualquer maneira, a escolha de Ana Moreira como única interprete das personagens que, na realidade são, nada mais nada menos, que as diferentes caras da mesma protagonista: Sissi-Rosalina-Emília-Águeda-Rosamunde. Esplêndida a fotografia de João Ribeiro, quase irreal, como irreal deve ter parecido (ou melhor "aparecido") a ilha da Madeira aos navegadores portugueses que ali se instalaram no século XV, com as suas paisagens de cortar a respiração e a sua flora exótica. Fica adúvida se o digital foi propositadamente escolhido para realçar a frieza das ondas do Atlântico e melhor representar a frieza das pessoas que rodeiam a baronesa, em contraste porém com a referência pictórica à pintura de Caravaggio, caracterizada pelo sábio uso da luz do pintor italiano. Uma luz quente que queima a tela.Talvez seja isso o que falta aos filmes de Botelho para brilhar e obter o "diploma": a queima das fitas...mas aquelas do cinema!
MASSIMILIANO ROSSI
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