Comentário de um aluno de Português ao filme "A Corte do Norte" de João Botelho, visto em grupo na passada sexta-feira, dia 31 de Outubro.
A Corte da Rosalina
Numa Madeira enfeitiçada, sombria, tão distante daquela luminosidade oceânica que talvez erroneamente imaginemos, é situado o filme de João Botelho em concurso no “Festival Internacional do Filme de Roma” deste ano.
Baseado num romance de Augustina Bessa-Luis (Amarante 1922), o filme narra das vicissitudes duma nobre família da ilha, os Barros, a partir da chegada da imperatriz Elisabete da Áustria ao Funchal no ano 1860, até hoje.
As mulheres desta família, todas com pouca sorte, são interpretadas – infelizmente sem muito discernimento – pela actriz Ana Moreira, tão bonita como glacial.
A primeira heroína do romance é a Rosalina, uma ex-prostituta com veleidades de actriz que, casando-se com o rico Gaspar de Barros, eleva-se à categoria de baronesa da Madalena do Mar. Ela é tão semelhante à imperatriz Sissi, representada da mesma Ana Moreira, que sofre uma espécie de desdobramento da personalidade. A perturbante atitude da soberana vinda de longe leva Rosalina a acentuar o mais possível a sua semelhança com ela, e não só aquela física.
A ilustre hóspede austríaca é aqui muito diferente de como a cinematografia passada no-la propôs: inacessível, intriguista, quase libertina, talvez mais próxima da realidade histórica, da qual porém não gostamos.
O regresso à pátria de Sissi deixa atónita Rosalina a qual se afasta da sua família para se retirar na sua “Corte no Norte” da Madeira.
Durante o seu exílio voluntário ela conhecer-se-á a si própria através da arte. Numa cópia do quadro de Caravaggio representante “Judite que toma Holofernes”, Rosalina encontrará a força de opor-se ao próprio destino, desaparecendo misteriosamente. Muitos anos depois, os seus filhos assistirão a uma representação da “Dama das Camélias” num teatro de Lisboa, onde - com um lance teatral digno do melhor Dumas filho – a actriz principal é mesmo ela, agora protagonista absoluta do próprio fado.
A narrar esta história é a ultima descendente de Rosalina, a jovem e igualmente rebelde Rosamund. Ela tece o enredo duma saga familiar sem pontuação, num estilo querido de Saramago.
Entre os muitos - talvez de mais? - personagens do filme, que se perseguem numa heteronomia familiar, há a infeliz Águeda, a neta da Rosalina, desesperadamente perdida pelo próprio irmão, jogador de cartas e de mulheres. Com um outro golpe de teatro ela suicidar-se-á, cega de ciúme.
A operação de Botelho não teve pleno êxito. Não foi fácil conter em 122 minutos uma tão densa sucessão de situações, cada uma das quais mereceria um filme.
Ainda assim, a obra resulta agradável na escolha dos interiores típicos da Madeira e, sobretudo, pela fotografia de João Ribeiro cujo efeito “daguerreótipo retocado” é deveras sugestivo.
Enfim, mais uma vez, fico perplexo em frente duma censura inflexível que, ainda hoje, proíbe um filme como este aos menores de 18 anos.
Numa Madeira enfeitiçada, sombria, tão distante daquela luminosidade oceânica que talvez erroneamente imaginemos, é situado o filme de João Botelho em concurso no “Festival Internacional do Filme de Roma” deste ano.
Baseado num romance de Augustina Bessa-Luis (Amarante 1922), o filme narra das vicissitudes duma nobre família da ilha, os Barros, a partir da chegada da imperatriz Elisabete da Áustria ao Funchal no ano 1860, até hoje.
As mulheres desta família, todas com pouca sorte, são interpretadas – infelizmente sem muito discernimento – pela actriz Ana Moreira, tão bonita como glacial.
A primeira heroína do romance é a Rosalina, uma ex-prostituta com veleidades de actriz que, casando-se com o rico Gaspar de Barros, eleva-se à categoria de baronesa da Madalena do Mar. Ela é tão semelhante à imperatriz Sissi, representada da mesma Ana Moreira, que sofre uma espécie de desdobramento da personalidade. A perturbante atitude da soberana vinda de longe leva Rosalina a acentuar o mais possível a sua semelhança com ela, e não só aquela física.
A ilustre hóspede austríaca é aqui muito diferente de como a cinematografia passada no-la propôs: inacessível, intriguista, quase libertina, talvez mais próxima da realidade histórica, da qual porém não gostamos.
O regresso à pátria de Sissi deixa atónita Rosalina a qual se afasta da sua família para se retirar na sua “Corte no Norte” da Madeira.
Durante o seu exílio voluntário ela conhecer-se-á a si própria através da arte. Numa cópia do quadro de Caravaggio representante “Judite que toma Holofernes”, Rosalina encontrará a força de opor-se ao próprio destino, desaparecendo misteriosamente. Muitos anos depois, os seus filhos assistirão a uma representação da “Dama das Camélias” num teatro de Lisboa, onde - com um lance teatral digno do melhor Dumas filho – a actriz principal é mesmo ela, agora protagonista absoluta do próprio fado.
A narrar esta história é a ultima descendente de Rosalina, a jovem e igualmente rebelde Rosamund. Ela tece o enredo duma saga familiar sem pontuação, num estilo querido de Saramago.
Entre os muitos - talvez de mais? - personagens do filme, que se perseguem numa heteronomia familiar, há a infeliz Águeda, a neta da Rosalina, desesperadamente perdida pelo próprio irmão, jogador de cartas e de mulheres. Com um outro golpe de teatro ela suicidar-se-á, cega de ciúme.
A operação de Botelho não teve pleno êxito. Não foi fácil conter em 122 minutos uma tão densa sucessão de situações, cada uma das quais mereceria um filme.
Ainda assim, a obra resulta agradável na escolha dos interiores típicos da Madeira e, sobretudo, pela fotografia de João Ribeiro cujo efeito “daguerreótipo retocado” é deveras sugestivo.
Enfim, mais uma vez, fico perplexo em frente duma censura inflexível que, ainda hoje, proíbe um filme como este aos menores de 18 anos.
ROBERTO MANIGRASSO
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