Querido Fernando,
eu gosto de ti assim como és.
Não te escrevo nem para te julgar nem para procurar dar explicações sobre o teu mundo interior em continuo movimento e expansão.
Talvez o teu considerar-te mesmo como uma pessoa que "não existe" e que vive principalmente num seu mundo fictício, poderia fazer-te dizer que eu sou louca por levar-te em consideração e achar-te interessante como "sujeito" destinatário desta minha carta.
Tu emocionaste-me profundamente, fizeste-me fazer reflexões e fizeste-me pensar que mesmo se tu sejas único no teu género, no fim tu és parecido com muitas outras pessoas...tu não estas sozinho!
"Os professores" apontam o dedo para ti para sublinhar o teu ser anónimo, destacado,
histérico-neurótico.
Todos fazemos parte dum projecto divino e tu, como os outros, representas um aspecto dele e o sentido da tua vida está exactamente no teu existir à tua maneira.
Tu não és um, tu és muitos indivíduos, cada um com o seu nome, características físicas, história e pensamentos: tu és o contentor duma micro sociedade que é distinta de ti, mas que te percorre as veias e te torna uma pessoa especial.
Os heterónimos representam o teu instrumento ideal, perfeito para comunicar com o mundo, para ser, mas sem ser envolvido directamente: tudo isto é fascinante mesmo se não és tu a decidir, mas é ditado por um teu peculiar impulso profundo que tu reconduzes aos teus "fenómenos de abulia".
Antes dizia-te que tu és parecido com as outras pessoas, mesmo as que te observam e analisam com a mesma curiosidade que se poderia reservar a um extraterrestre, porque a simulação e a despersonalização são muito comuns no terceiro milénio.
Tu ofereces sinceridade porque, os teus heterónimos são consequentes com eles próprios, enquanto as pessoas, mesmo se se apresentam sempre com "o mesmo nome", não satisfeitas, inseguras e desejosas de mostrar sempre o seu lado melhor, se escondem atrás diferentes mascaras, em função da situação, ou atrás dos muros virtuais para comunicar com o outro, mas em ausência do outro e as chat-line são o exemplo mais representativo.
Ah, desculpa! Tu não conheces internet: trata-se dum novo sistema de comunicação, inventado pelo homem moderno, deste aldeamento global, que queima tempos, distâncias, verdade, com o ter distantes os olhos...os corações!
Agora pergunto te:"Não é também esta ilusão, alteração, fuga de si próprio um delírio real, com a diferença que a gente não tem a tua mesma neurose?".
Tu és simples no aspecto e variado no teu interior, a maior parte das pessoas homologadas no exterior, áridas no seu interior e no fim todas iguais.
Muito bonito e comovente o teu plano, a tua "stratégia" para acompanhar a casa a tua Ophelinha através do percurso mais comprido para passar mais tempo com ela, com o teu ser assim romântico, puro e autentico.
..."E tudo acaba em silêncio e poesia...".
Com afecto
Laura
Laura
LAURA CANZIO
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