lunedì 14 dicembre 2009

Estória e História na net: Eros Olivieiri


Escreveu-nos o nosso caro aluno e amigo Eros Oliveri:


Dei caça caça à estória (a história nao está muito escondida).

Pesquisei no Google:

História: 66.900.000 resultados
Estória: 230.000.
Não tive para consultar os resultados.
A discussão na web sobre estória\História é muito grande mas parece-me inútil: é preciso que a estória e a história convivam: os homens fazem a história mas sonham com as estórias...


Obrigado, Eros!



Stefano Valente: História. Estória. A lição da cultura de língua portuguesa.


Sem palavras introdutórias: STEFANO VALENTE.


A história. As estórias. History. Stories. Hoje em dia existem dois grandes idiomas mundiais em que se registra a presença duma cisão formal da gama de significados duma mesma palavra: a derivante pelo latim historia.

A um primeiro olhar a exigência seria, seja no inglês seja no português, a de distinguir entre o relato, a exposição de acontecimentos reais — e às vezes até certificados por testemunhos — (history, história), e a narração de factos imaginários, o conto, a ficção, a fábula etc. (story, estória).

Não é possível, porém, liquidar o assunto tão rapidamente. Antes de tudo é mesmo um dado histórico que no inglês as duas vozes convivem, dir-se-ia, desde sempre, enquanto que o termo estória parece representar uma introdução bastante recente em português.

Uma breve pesquisa sublinha como, com estória, ficamos diante dum neologismo, duma forma cuja origem é caracterizada no sentido geográfico. De facto, se o Dicionário da Língua Portuguesa por Almeida Costa e Sampaio e Melo não o refere (pelo menos na 7ª ed., de 1994), encontramo-lo, por exemplo, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras; mais, estória é definido mesmo um brasileirismo por outros dicionários, que também o designam como o aportuguesamento do inglês story.

Além de podermos estabelecer com precisão de qual lugar do Brasil e quando a forma estória se derrama no mundo lusófono — que é tarefa dos linguistas de profissão —, é evidente que a sua difusão está ligada ao contexto literário, pois que se começa sistematicamente a falar em estórias com a obra do brasileiro João Guimarães Rosa (1908-1967).

Guimarães Rosa — a quem certo crítico chamou de Homero, de Cervantes, de Joyce brasileiro — elevou na sua escritura o sentido da palavra estória à máxima potência: a partir da colectânea Sagarana (1946), prosseguindo pelas Primeiras Estórias (1962: faça-se atenção ao título), até o maior sucesso do romance Grande Sertão: Veredas (1963), Guimarães Rosa desenvolve a sua narração como um enorme conto feito por milhares de vozes, cada uma delas falando na sua própria verdade dos factos. Factos que nos poderiam parecer pequenos, localizados (também no sentido de regionais), de menor importância, ou até inventados, fictícios. Guimarães Rosa, porém, mostra-nos que é mesmo graças a todas aquelas histórias menores — com h minúscula — que é possível uma reconstrução da verdade dos acontecimentos. Acontecimentos que têm de ser considerados principalmente como vivências: porque é pelo viver dos protagonistas — e das almas deles — que o conto da realidade toma forma, encarna, sobe à universalidade da experiência humana.

Principiando pelos contos dos boieiros e das figuras marginais do planalto sertanejo Guimarães Rosa ensina que, ao lado da História dos ricos e dos poderosos — dos que, o mais das vezes, resolvem o que tem de ser escrito nos livros —, há sempre continuam a andar os rios das estórias dos que não possuem direitos — dos pobres, dos menos afortunados, dos subalternos. E são aqueles rios, ao fim, e não os biliões de páginas decididas pelos vencedores ou pelos donos, que irão a formar o oceano do tempo do homem.

Portanto, estórias não só como invenções literárias, mas sobretudo como relatos do viver de quem não tem palavra, de quem amiúde nem sequer consegue aparecer — dar um signo da sua presença na terra. De Guimarães Rosa estória, neste sentido mais completo, faz-se espaço na linguagem portuguesa moderna. Quem a adopta — ou chega naturalmente a ela — sabe não poder prescindir duma matriz bem determinada de narração, isto é, da característica que necessariamente têm mais vozes quando estão a falar. Eis a altura da oralidade, entendida como momento de descrição coral, a mais pontos de vistas e por mais que um idiolecto somente.

A transformação do estilo de José Saramago — que se realiza com Levantado do Chão (trad. it. Una terra chiamata Alentejo) de 1980 — representa um claro exemplo de tudo isto. O autor português passa a escriturário que dá voz aos lavradores alentejanos — que permite também a dezenas de personagens do mísero interior português, sempre longe do resto e do bom do país, dizerem as suas verdades. Trata-se mesmo dum coro de palavras de angústia, cansaço, desengano — e também de esperança, ingenuidade, doçura. Mas em Saramago esta coralidade enriquece-se também dum outro aspecto: o da simultaneidade — ou melhor, uma atemporalidade — dos factos e dos casos que são os contos e os vividos dos protagonistas, a tal ponto que, para o autor, o tempo não é mais uma pura sucessão de antes e depois, uma simples linha recta de ocorrências, mas é algo muito semelhante a um ecrã único em que assomam e se remexem rostos, vivências, vozes. Depois de Levantado do Chão, Saramago jamais abandonará esta oralidade simultânea — jamais abandonará a estória. Por meio dela nascerão obras-primas como Memorial do Convento (1982), O Evangelho segundo Jesus Cristo (1992), Ensaio sobre a Cegueira (1995). Graças à estória em 1998 Saramago ganhará o Prémio Nobel da Literatura.

Em conclusão, a dupla história-estórias é coisa bem diferente de history-stories. O desenvolvimento destes dois termos assinala, no português, um nível de experiência línguistico-literária que não tem comparações com outros idiomas ou culturas. Talvez o percurso duma palavra esteja ligado a acontecimentos imprevistos — ou até ao azar dos seus falantes. Porém é um facto que uma literatura composta não só por histórias (e pelas suas “versões oficiais”), mas também por estórias, pode ensinar uma outra, preciosíssima acepção do que significa respeito pelo outro.


STEFANO VALENTE

Os cafés - de Lucia Turco


A nossa aluna LUCIA TURCO, que estuda Português no CLA (nível inicial), faz-nos a descrição do seu dia-a-dia... com muita cafeína.
Obrigado, cara Lucia!


Durante a semana, eu levanto-me às 8:30. Ao pequeno-almoço eu bebo muito café.
À terça e à quinta-feira eu saio às 8:50 para ir ao curso de português; nos outros dias eu saio às 9 horas e começo a trabalhar às 10 horas numa editorial.
Às 11 horas eu bebo meu segundo café.
Eu não almoço quando estou fora de casa. Mas à 1 hora eu bebo o terceiro café.
À tarde estudo, pinto ou escuto música, entre um café e um outro.
Às 8:30 eu preparo o jantar com meus amigos. Depois prefiro ler um livro a sair.
Ao fim de semana levanto-me tarde e tento não beber café.

mercoledì 9 dicembre 2009

Cavaleiro da Dinamarca - continuação da história de Sophia

Museu Nacional do Azulejo - Cavaleiro


Inventada por Germana Lardone...





- Quem mora ali ? perguntou o Cavaleiro

O mercador respondeu que o dono daquele palácio era Ser Bartolomeo Brandolin, um coleccionador, amante da arte e homem de raro e sensível gosto e começou a contar a sua história...

Bartolomeo Brandolin nascera numa famiglia de abastados comerciantes e começara a viajar, com seu pai e tios, na adolecência.

Era um jovem que tinha muita curiosidade pelo mundo oriental e uma grande sensibilidade pelos objectos belos.

Durante as sua viagens ao Oriente aprendeu a conhecer e estimar formas de arte diferentes daquelas suas conhecidas.

Comprava mercadorias preciosas para vendê-las no regreso a Veneza, mas nunca vendia os objectos dos quais mais gostava.

Dessa maniera, ao longo dos anos, reuniu muitas obras de arte de grande valor: quadros, esculturas, cerâmicas orientais, artigos de vidro da Siría, manuscritos, libros antigos, mobiliário oriental, tapeçarias, têxteis, peças de joalharia, moedas antigas, medalhas...

Ele gosta tanto da sua colecção que, ao pôr-do-sol, os criados devem acender todos os candelabros do palácio: desta maniera Ser Bartolomeo continua a fazer viver na luz as obras que tanto ama.

Ele anda devagar de sala em sala contemplado a arte que preenche a sua vida.


GERMANA LARDONE

História e Estória - por Germana Lardone

"Pintura de História" - Vincenzo Camuccini (1771 - 1844)


Resultado de uma pesquisa feita pela nossa aluna GERMANA LARDONE.
Obrigado, Germaninha!

História – Estória

Os vocábulos história e estória partilham a mesma etimologia do grego antigo, historie, no sentido de testemunho.

"Estória" é a grafia antiga da palavra "história", que caiu em desuso na língua falada em Portugal e não aparece nos recentes dicionários editados em Portugal.

Estória é considerada agora um neologismo para designar, no campo do folclore, a narrativa popular, o conto tradicional, o mito.

História é a ciência que estuda o homem e a sua acção no tempo e no espaço e também a narração ordenada e escrita dos acontecimentos e actividades humanas ocorridas no passado.

Por outras palavras pode-se dizer que história e estória correspomdem as palavras inglesas history e story.

Berlusconi em Lisboa


Notícia assinalada pelo nosso antigo aluno Massimiliano Rossi, a quem agradecemos a estima e o interesse, para além da colaboração constante com "Via dei Portoghese"...




“No Berlusconi Day” chega a Lisboa


Um grupo de "bloggers" organiza sábado uma manifestação apartidária em Roma para exigir a demissão do primeiro-ministro italiano, intitulada "No Berlusconi Day" (Dia anti-Berlusconi).
Várias cidades do Mundo, incluindo Lisboa, associaram-se ao movimento. Em Portugal, a iniciativa partiu de uma dezena de "bloggers", italianos mas também portugueses, e mantém o carácter espontâneo e apartidário da manifestação, marcada para sábado às 14:00 na Praça Luís de Camões.
"Temos a confirmação de 200 convites no Facebook. Prevemos que cada pessoa leve ao menos uma pessoa, portanto, esperamos 300 a 400 pessoas", disse à Agência Lusa Massimiliano Rossi, um dos organizadores.
Além de Roma, onde são esperadas 350.000 pessoas, e de Lisboa, estão também previstas manifestações em Londres, Paris e Sidney, entre dezenas de outras cidades.
"É a primeira iniciativa nascida de forma completamente autónoma na internet", explicou quinta-feira à imprensa em Roma Gianfranco Mascia, um dos coordenadores do movimento lançado em Outubro por meia dúzia de "bloggers" italianos.
O objectivo do "No Berlusconi Day" é a demissão de Silvio Berlusconi da chefia do governo de Itália e "desmascarar todas as formas de 'berlusconismo'", segundo Gabriella Magnano, outra das coordenadoras em Roma. Segundo Mascia, o objectivo é também "informar os cidadãos que não têm acesso à Internet".
Os organizadores afirmam ser independentes de qualquer partido e apenas aceitar a participação de personalidades políticas a título pessoal.
Em Roma, estão previstas as participações e intervenções do Nobel da Literatura Dario Fo, sobre os efeitos das políticas de Berlusconi na área da cultura, e de um magistrado, Domenico Gallo, sobre os processos judiciais contra o primeiro-ministro italiano.
Os organizadores afirmam respeitar os votos dos italianos que voltaram a eleger Berlusconi em Abril de 2008, mas consideram essa vitória eleitoral como "uma anomalia italiana que faz com que um único homem controle três televisões privadas e toda a rede pública".

venerdì 4 dicembre 2009

Imaculada Conceição: celebrações portuguesas em Roma


Na próxima terça-feira a Igreja festeja o dogma da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, festa particularmente sentida em Portugal, como em Itália, e afectivamente assocada, até há bem pouco, ao "dia da Mãe".

Em Portugal, aliás, a Imaculada é venerada como a sua Padroeira, e tal facto está ligado à história de Portugal. A 25 de Março de 1646 D. João IV, à vista da imagem da Imaculada no seu Santuário de Vila Viçosa (Alentejo, Portugal) e como agradecimento da vitória na guerra da Restauração da Independência (1.12.1640), proclamou Nossa Senhora Rainha de Portugal, tendo sido desde então representada com a coroa real na cabeça.

A comunidade portuguesa de Roma celebra a data em dois dias sucessivos.

A 7 de Dezembro, às 18h30 na igreja nacional, vai celebrar-se o primeiro ano sobre a inauguração do grande órgão de Santo António dos Portugueses. O seu organista titular, Maestro Giampaolo Di Rosa, irá executar F. LISZT (1811-1886) Fantasia e fuga sul nome di BACH (Trascrizione organistica dalla II versione pianistica del 1870, a cura di G. Di Rosa); O. MESSIAEN (1908-1992) Dal “Livre d’Orgue”:- Les yeux dans les roues- Soixante-quatre durées; G. DI ROSA (1972) Toccata, adagio e fuga sul nome di BACH (2009) Studio da concerto per pedale d’organo soloPrima esecuzione; J. S. BACH (1685-1750) Passacaglia BWV 582.

No dia seguinte, às 17 horas, o Bispo de Vila Real, S. E. R. Mons. Joaquim Gonçalves vai celebrar missa solene.

São todos bem-vindos à Via dei Portoghesi.

Muito para além dos chapéus, que os há, e muitos - por Rocco Costantino

O nosso aluno Rocco Costantino, escreveu este belíssimo texto, de grande profundidade, partindo da visão do filme "A Canção de Lisboa"... Partindo do riso, fez-se um discurso coisa muito sério... Buito bem, Rocco! Muito obrigado pelo texto e parabéns por ideias tão claras e tão justas!


“A canção de Lisboa” é um filme de 1933, mas ainda hoje é muito divertido e sobretudo parece um filme mais novo do que muitos dos filmes recentes. A alternância da parte falada e da parte cantada é conduzida com grande capacidade. Para mim foi uma verdadeira surpresa ver um filme assim antigo mas ao mesmo tempo tão moderno e simples, acessível a todos.

Entre tantas coisas, também o cinema em Portugal é uma contínua surpresa. O seu cinema, os seus escritores, o Porto, Lisboa, o fado, e também nossos jovens professores Duarte e Francisco - todos motivos válidos para continuar a estudar o idioma e a cultura portugueses.

No filme há uma expressão repetida muitas vezes: Chapéus há muitos, seu palerma. No contexto do filme parece significar “não interessa nada”, também pode significar (come diz a nossa Vilma) que não se deve escolher o chapéu dos outros, que Chapéus há muitos pode significar ser um homem livre.

A minha ideia é diferente: com certeza chapéus há muitos, como aliás há muitos tipos de pessoas. Há pessoas bonitas, feias, altas, baixas, brancas, negras, amarelas, católicas, muçulmanas, budistas, ateias... Chapéus há muitos. O problema está no facto de julgar e dividir as pessoas, que é sem dúvida o “desporto” mais difundido em todas as épocas e todas as civilizações. Mesmo as religiões parecem existir só para dividirem as pessoas em justas e erradas e aplicarem à letra “Divide e impera”.

Todos têm na sua cabeça uma balança para julgarem quem é bom e quem é mau. O branco é sempre bom (quando é rico), o negro sempre mau (especialmente quando é pobre), os pobres não têm vontade para trabalharem e, se por acaso não são da nossa raça, significa que todas as outras raças não têm vontade de trabalhar e são delinquentes.

Nunca se olha a pessoa, só o seu chapéu parece ser importante. Por sorte, todos os que julgam e dividem são palermas, é muito fácil enganá-los, basta mudar chapéu... Chapéus há muitos. Basta mudar de fato, mudar de carro, mudar de cor de cabelos ou de pele e o juízo de valor logo muda também. Assim há muitos palermas: os que julgam só o chapéu e os que avalizam, mudando chapéu, essa estupidez.

Até agora fiz um discurso muito optimista, dizendo que o julgar pelo chapéu e o mudar de chapéu são sinais de estupidez. Mas a realidade é outra, muito pior: julgar e mudar chapéu são quase sempre a maneira escolhida pelos homens para ficarem sempre à superfície, sempre no poder, para ganharem dinheiro de qualquer maneira.

ROCCO COSTANTINO

Espelho Mágico? por Rosanna Cimaglia


Ainda a respeito da projecção de um excerto de "Espelho Mágico" de Manoel de Oliveira, no passado mês de Novembro, a nossa brilhante aluna Rosanna Cimaglia inventou uma nova história para a protagonista, Alfreda... Obrigado e parabéns, Rosanna! E aos nossos leitores: bom divertimento!



Dona Alfreda da Encarnação e Silva era uma mulher muito conhecida na cidade, invejada por fazer parte duma família rica com história de gerações. A casa onde morava e passava os dias inventando as suas horas era uma quinta que ficava fora da cidade, considerada uma das mais bonitas do país e conhecida pelas gentes com o nome de “quinta dos jantares” por causa dos jantares que frequentemente Dona Alfreda organizava.

As pessoas falavam desses jantares por serem abundantes e com comidas exóticas, de sabores particulares, que não se comiam habitualmente…Todos eram convidados a casa de Dona Alfreda, tanto ricos como pobres – mas, é claro, em dias diferentes! Com esse comportamento gentil e grandemente apreciado, Alfreda ganhou popularidade, mas havia alguém que a considerava com suspeita, porque não se compreendia bem as razões desse grande ímpeto para saciar o povo.

Essa atenção pelo próximo tinha criado na população uma espécie de imagem mística dela, tal que se dizia que a Dona Alfreda da Encarnação e Silva era como a Nossa Senhora na terra! E ela, mulher egocêntrica e excêntrica que gostava surpreender o próximo, ficava tão orgulhosa com essa definição que começou a fantasiar sobre a Virgem Maria e a dedicar-se ao misticismo, ao descobrimento da figura de Nossa Senhora e das semelhanças que tinha com ela, pois era um meio para se exaltar e empregar o seu tempo.

Entre um banho na piscina e um Martini, Alfreda começou o seu caminho de elevação espiritual falando das sua aspirações místicas com amigos, empregados da quinta, religiosos, e acabou por contactar uma monja muito famosa que vinha da Espanha só para falar de “técnicas de revelações” e aprendizagem da fé e para tentar dar graça ao seu ânimo. O que Alfreda desejava sobretudo era ver a Virgem Maria mas, apesar dos exercícios espirituais - depois o pequeno almoço, o almoço e o jantar - apesar do ioga - duas vezes por dia - apesar dos rosários com pais-nossos e ave-marias, o estado de graça desejado não chegava… Que fazer mais?

Uma noite, depois um dos seus pantagruélicos jantares, Alfreda retirou-se para o seu quarto com esta pergunta na cabeça: “que fazer mais?”. Parou diante do grande espelho, e dado que tinha trazido um prato da mesa, foi pô-lo sobre a mesa da cabeceira. Voltou ao espelho e fixando os seus olhos que se reflectiam nele, repetia a si mesma a mesma pergunta. Como num estado de hipnose, viu um turbilhão de ondas e luz em redor da sua figura, que a atiraram no centro do espelho até desaparecer…

Embrulhada numa grande luz, Alfreda fez uma viagem através do tempo e do espaço chegando a um lugar desconhecido. Parecia uma aldeia antiga, oriental, não havia ninguém na rua , mas ela ouviu uma voz de homem chamar:
“Maria, Maria…onde é que vais? Maria, volta para casa, está frio aí fora, toma, leva o teu manto…é preciso ter cuidado, nas tuas condições…”

Alfreda voltou-se, viu um homem que estava a falar com ela, mas ela não compreendia. O seu nome não era Maria. E porque é que ele lhe dizia “nas tuas condições” ? Um instante depois sentiu uma dor no ventre e só naquele momento percebeu que estava grávida… grávida… e como aconteceu este facto? O homem tomou a sua mão e ela seguiu-o.

O resto da historia é conhecido: nasceu uma criança, começaram as peregrinações através daquela terra desconhecida, árida, tórrida onde o sol era tão forte que Alfreda/Maria, depois tanto caminhar, caía prostrada, sem forças, na areia ardente do deserto, pedindo ajuda gritando “Ajuda-me, ajuda-me…a criança, Zé, a criança…”

Na “quinta dos jantares”, a meio da noite, o lamento de Dona Alfreda era tão forte que chegou até ao quarto da sua criada Joana que, preocupada, precipitou-se até onde Alfreda dormia. Joana abriu a porta e viu Dona Alfreda que se torcia na sua cama, em delírio, e que num estado de confusão repetia “ a criança, Zé, a criança…”.

A criada, com voz alta, despertou-a e perguntou-lhe: ”Ó Senhora Dona Alfreda, se faz favor… de que criança está a falar… não há crianças na quinta...”

Alfreda abriu os olhos e viu na cara da sua criada numa expressão interrogativa. Naquele momento ela compreendeu: olhou o quarto, o espelho e voltando-se na cama para a mesa da cabeceira, fixou um prato vazio que estava sobre esta…

“Criança? Ah sim, minha Joana, temos de nos lembrarmos de dizer ao Paulo que a criança que vem da loja da Dona Maria Gonçalves não deve trazer aqueles cogumelos de cores de arco-íris para os próximos jantares…!”


ROSANNA CIMAGLIA

Entrevista a Saramago traduzida por Roberta Spadacini


No seguimento da notícia aqui publicada no mês passado (http://viadeiportoghesi.blogspot.com/2009/11/saramago-e-signora-io-donna-del.html), vimos agora publicar a entrevista feita a Saramago e a Pilar del Rio quando vieram a Itália para o lançamento da versão italiana de "O Caderno".

Agradecemos muitíssimo à nossa aluna Roberta Spadacini o empenho e a perfeição com que traduziu este texto publicado na revista "Io Donna" a 24 de Outubro.



CASEI-ME COM O MEU OPOSTO

José Saramago e a mulher Pilar Del Rio estão em Itália para apresentar “O Caderno” (Bollati Boringhieri), o último livro do escritor português.
Para ele nada funciona, para ela notá-lo é já um bom sinal. Ela fala muito, ele está em silêncio. Juntos há trinta anos, o Nobel português e a mulher Pilar contam-nos como são diferentes. Mas iguais.
di Giulia Calligaro



“Se tivesse entendido imediatamente como ele era nunca o teria casado”. Surpreende-me depois duma meia hora de palavras suaves Pilar Del Rio, mulher do prémio Nobel José Saramago, em Itália com o marido para apresentar “Il Quaderno” (Bollati Boringhieri), o novo livro nascido dum blog escrito pelo grande romancista português entre Setembro 2008 e Maio 2009, decididamente sem poupar eventos ou pessoas.
QUER DIZER QUE TROCOU TUDO? Pergunto-lhe numa sala de estar na entrada dum hotel de Turim, enquanto ele está sentado em frente, e finge de não ouvir.
“Não, absolutamente”. Assegura-nos a senhora com um sorriso solar e o olhar vivaz sempre dirigido ao marido. “Mas se tivesse sabido quanto somos diferentes, tinha tido medo”.
O encontro fatal aconteceu há 23 anos, quando Pilar, jornalista andaluza, foi ao encontro de Saramago em Lisboa para escutar a leitura do suo “O ano da morte de Ricardo Reis”, num itinerário lusitano que atravessou as etapas do livro. Estava-se em1986, ele tinha 63 anos e ela 36. Dois casamentos e uma filha ele, um divórcio e um filho ela. Apertam as mãos, trocam os endereços, e um mês depois ele vai ter cm ela pela via da Espanha e trá-la para Portugal. Um ano e casam-se.
DEL RIO: “ Em seguida casamo-nos outra vez em 2007 na Espanha, porque o casamento não foi registrado”. Nada mal para quem hoje tem estas dúvidas.
O QUE É QUE A CONVENCEU EM CASAR-SE?
“Estimava o escritor e descobri que o ser humano era exactamente igual ao artista: coerente, valoroso, rebelde”.
SARAMAGO: “Eu tinha entendido imediatamente que ela era muito diferente, mas o meu problema eram os meus amigos: diziam-me que era demasiado jovem, que não podia durar”.
Efectivamente Saramago escutava-nos. E o que mais assombra desta nova versão do autor do “Ensaio sobre a cegueira” e “A jangada de pedra” é que até há uma hora me falava com o indicador levantado, desejando que a palavra “esperança” fosse banida do dicionário, proclamando não só não acreditar na imortalidade da alma, mas nem mesmo na da obra: “Eu escrevo só para o meu tempo e sei que tudo vai morrer”, afirmava desafiando os seus 87 anos. Nenhum pacto com Deus, afinal – o seu novo romance “Caim” em estreia em Portugal, anuncia-se irreverente como foi “ O Evangelho segundo Jesus Cristo” e mostra mesmo a coragem de dizer que debater sobre o significado da vida é obsceno.
E O AMOR?
S “Há o amor dos 18 anos, o dos 40 e o dos 80. Falamos do amor eterno só porque somos mortais, mas não há um só amor. O que tenho pela Pilar, defeni-lo-ia como o verdadeiro amor, o que dá alegria”.
DR “A satisfação e a alegria de estar juntos”.
Até agora tudo permanece em harmonia. Mas se lhes pergunta o que é é esta alegria respondem:
S “ Estar juntos em silêncio”.
DR “ Não, eu nunca estou em silêncio”.
E aqui começa a disputa: porque ela é impulsiva e ele é reflexivo, ele é racional e ela é emotiva, ele é inflexível e ela disposta a mediar.
UMA VEZ MAIS NESTE LIVRO, SARAMAGO É MUITO PESSIMISTA, E A SENHORA?
DR “Absolutamente optimista, mas agora revelo-lhe o segredo da nossa união: nós achamos a mesma coisa, temos a mesma visão do mundo, a mesma visão política militante, o mesmo sentido de justiça. Só que ele diz que nada vai bem: o escândalo Berlusconi em Itália, os efeitos da presidência Bush no mundo, a pobreza, as guerras de religião. E chama tudo isto “pessimismo”. Eu digo que quando se nota que alguma coisa não funciona já é um primeiro passo para mudá-la: por isso eu o chamo “optimismo”. A ideia é igual, mas as palavras são opostas”.
QUANTO LHE CUSTA SER A SRª SARAMAGO?
DR “Todas as relações humanas são complicadas. Ainda mais quando é com uma pessoa pública porque implicam uma devoção total. Eu traduzo a obra do meu marido em espanhol, presido a Fundação Saramago que inaugurámos em 2007 em Lanzarote, onde vivemos desde há quinze anos, acompanho-o nas suas viagens e também trabalho como jornalista”.
ALGUMA RENÚNCIA?
DR “Fiz a minha escolha, por isso nenhuma renúncia. O nó verdadeiro é ter a capacidade de nos desenvolvermos da mesma maneira e nós temos. Se uma parte permanece atrás o casal fica infeliz. Muitas mulheres que têm uma vida desenvolvida ficam sozinhas porque nenhum homem é capaz de as seguir. Pensemos no governo espanhol: metade é formado por mulheres e entre todas há três filhos e um casamento. No XXI século é ainda necessário escolher família ou carreira, não há uma forma alternativa de sociedade. As mulheres seguem mais facilmente os empenhos dos homens e não vice-versa.
A DIFERENÇA DE IDADE FOI UM PROBLEMA?
DR “Não, nem de um ponto de vista físico nem psicológico. É uma relação madura, que veio depois de outros casamentos”.
Não hesitamos em acreditar que a energia da Pilar foi o aguilhão que esporeou o marido a escrever o blog. Um fenómeno novo para um escritor que se define “homem antigo” e que com outras armas fez oposição a um regime como o de Salazar no seu país.
ACREDITA QUE HOJE A FACILIDADE DA COMUNICAÇÃO TAMBÉM TRAZ UMA MAIOR EFICÁCIA DA PALAVRA?
S “Pelo êxito que teve o livro deduzo que a superstição do novo faça pensar que a tecnologia é a guardiã de grandes coisas. Pelo contrário eu acho que pelo facto da internet se ter enchido de frivolidades, nunca poderá substituir as artes maiores”.
De momento o blog surtiu efeito inesperado, visto que por causa de uma invectiva “sincera” contra o nosso Premier, a Einaudi renunciou à publicação do livro. Nenhuma cortesia para Bush ou Sarkozy. Com Obama todavia acende-se uma luz.
BARACK OBAMA LEVA O PRÊMIO NOBEL DA PAZ. DIGA-NOS ALGO.
S “A sua eleição foi uma grande notícia, este prémio chega um pouco cedo. Desejo que seja para o que vai fazer”.
Pilar diz que sim com a cabeça e agita as mãos para dizer também ela a sua opinião enquanto ele quer prosseguir, com resolutos “nãos”.
QUAL FOI O MELHOR PRESENTE QUE LHE DEU A SUA MULHER PILAR?
S “Deu-me a sua grande capacidade de amar. Não digo que antes tenha sido um egoísta, mas ela vive para os outros.
E PARA A SENHORA, QUAL FOI O MELHOR PRESENTE QUE LHE DEU O SEU MARIDO?
DR “Ensinou-me a ter uma posição firme. Onde ele é intransigente, eu sou sempre demasiado transigente”.
S “Somos complementares”.
DR “Tese, antítese, síntese: uma receita perfeita”.
E leva-o pela mão até ao elevador, esperando com grande força o seu passo.


Tradução para português de ROBERTA SPADACINI

lunedì 30 novembre 2009

Genial: "Notas parental-zoológicas para Continelli Telmo" de Stefano Valente


Divirtam-se come ste magnífico texto do nosso aluno Stefano Valente.


O que é preciso que os sobrinhos (e as tias) descubram o mais cedo possível (para uma melhor sobrevivência)

Notas parental-zoológicas para Continelli Telmo (texto inédito encontrado na margem do guião do filme A Canção de Lisboa, 1933)

A humanidade inteira é constituída por sobrinhos. Se encontrarem uma pessoa que afirma «Nunca tive tias», é só porque não o sabe.

Para os elefantes — especialmente para os que estão enjaulados — as palhinhas são uma verdadeira gulodice.

Chapéus há muitos: isto é, todos nós temos de aceitar o facto que no mundo existem mais chapéus do que sobrinhos.

A experiência ensina que é o chapéu a fazer o homem, nunca o contrário.

O bilontra (bilontrus sobrinus) é um animal esquisito: mamífero anfíbio, de índole essencialmente velhaca, pelintra e preguiçosa, às vezes — quando não o pode evitar — gosta de passear com as suas tias (pelo menos duas), pelas quais não desdenha fazer-se manter. Nos jardins zoológicos é fácil encontrar bilontras que param diante das jaulas doutros animais e escarnecem deles. Uma característica da bilontra, pois, é a de ela rir das desventuras de outrem, embora odeie que os outros se riam das dela mesma.

Como as tias são fundamentais na formação e no desenvolvimento do indivíduo, os sobrinhos dividem-se em duas categorias básicas:

  • os que viram o meu filme A Canção de Lisboa;

  • os que leram o romance Le sorelle Materassi, por Aldo Palazzeschi.

STEFANO VALENTE

Lanciani parla dell’ambasceria portoghese a Leone X oggi, nel seminario internazionale "Nella Cultura Europea"


NELLA CULTURA EUROPEA
seminario internazionale

Facoltà di Economia “Federico Caffè”
Via Silvio D’Amico, 77

30 NOVEMBRE 09
II SESSIONE

CROMA
centro per lo studio di Roma


All’ambasceria portoghese a Leone X, giunta a Roma nel 1514, non sembra eccessivo attribuire, sia pure in via ipotetica, la responsabilità o il merito di essere stata, direttamente o indirettamente, il tramite per l’arrivo in Italia del canzoniere o dei canzonieri che, fatti trascrivere dall’umanista Angelo Colocci e poi scomparsi, hanno salvato dal quasi totale naufragio un’intera stagione letteraria, ovvero tutta la poesia lirica del medioevo ispanico, elaborata in volgare sul modello provenzale – ma ideologicamente e tecnicamente adattata ad un ambiente socio-culturale notevolmente diverso da quello originario –, inizialmente in Galizia, poi in Castiglia e in Portogallo e in altre regioni della Spagna centro-occidentale, dove si diffonde rapidamente tra vari centri di produzione.Pure in assenza di prove documentarie, una serie di indizi e di coincidenze consentono di supporre che l’ambasceria del 1514 sia stata se non altro l’occasione per l’arrivo in Italia di un corpus di 1680 testi lirici attribuiti a 153 fra trovatori e giullari.



Aula XI
ore 9,30 - 13,30
Presiede MARIA DEL SAPIO, Università Roma Tre

JOHN GILLIES, University of Essex, UK
From Seneca to the subaltern tragedy of Elizabethan England

SILVANA CASARTELLI NOVELLI, Università Roma Tre
Roma “capitale cristiana”/nascita dell’Europa, nella nuova epoca storiografica della tarda Antichità

STUART DUNN, King’s College, London, UK
Beyond writing: non-textual evidence from Roman inscriptions

discussione
coffe break

GIULIA LANCIANI, Università Roma Tre
L’ambasceria portoghese a Leone X e l’umanesimo a Roma


RITA FIORAVANTI, direttrice Biblioteca Casanatense, Roma
Censimento delle guide e trattati su Roma nell’editoria europea, dagli inizi della stampa alla fine del Settecento

PAOLO D’ANGELO, Università Roma Tre
Roma capitale del Neoclassicismo europeo

PAOLA PAVAN , Direttrice Archivio Storico Capitolino
L’idea di Roma dopo il 1870: riflessi sulla politica culturale del Comune di Roma

discussione
lunch

ore 14,30 - 17
Presiede CARLO M. TRAVAGLINI, Università Roma Tre

Tavola rotonda su nuove proposte di lavoro e aggiornamenti
Hanno assicurato fin d’ora il loro intervento:
MARINA CAFFIERO
LETIZIA NORCI CAGIANO
FRANCESCA CANTU’
MARTINE BOITEUX
MADDALENA PENNACCHIA
IOLANDA PLESCIA
CATERINA RICCIARDI

Segreteria organizzativa:
CROMA - Università Roma Tre, via Ostiense 139 00154 06 57334016 croma@uniromatre.it
Presidenza Facoltà di Economia «Federico Caffè», Via Silvio D’Amico, 77, 00145 06 57335601/5606
colucci@uniroma3.it - fnicolai2@uniroma3.it - news.economia@unroma3.it
Il seminario è promosso in collaborazione tra: Comune di Roma - Assessorato alle Politiche Culturali e della Comunicazione, Università Roma Tre (CROMA, Dipartimento di Letterature Comparate)

venerdì 27 novembre 2009

"A Canção de Lisboa" por Germana Lardone


Mais um comentário ao filme "A Canção de Lisboa" pela nossa aluna Germana Lardone, a quem muito agradecemos as repetidas e qualificadas intervenções no nosso blog.


O filme “Canção de Lisboa” está cheio de trocadilhos. Por exemplo, na cena da chamada para o exame, o Professor chama “- Valente!”, e ele responde “- Valente sou eu”, jogando com o significado da palavra (que não tem medo). Na mesma cena, um estudante mulato chama-se Teófilo das Neves Claro e diz “Vou para o exame completamente em branco” (não sabe nada), ao que Vasco lhe responde ”estou a ver coisas muito negras” (prevê que será chumbado).
Teófilo invoca a protecção de S. Francisco Xavier e Vasco invoca a de “S. Francisco Gentil”. Na verdade, Francisco Gentil foi médico e professor (1878-1964) pioneiro no tratamento do cancro. Foi responsável pelas reformas no ensino médico e criou hospitais universitários.

Outra cena interessante é a da discussão de Vasco com Alice, a sua namorada. Ela diz que ele não lhe deve repetir que é a sua única paixão e que “tem o destino marcado desde a hora em que me viu” (palavras do famoso Novo Fado da Severa), ao que Vasco responde: “Ó filha, não sejas Severa!” aproveitando o significado da palavra severa (austera, rigorosa, rígida, inflexível).
Maria Severa Onofriana (Lisboa 1820- 1846), cigana e prostituta, foi a primeira cantadeira de fado de que se tem conhecimento; cantava e tocava a guitarra nas ruas da Mouraria; levou o fado para as rua aonde existia somente dentro das tabernas. Era amante do conde de Vimioso e o romance entre eles è tema de vários fados.

1933, o ano em que se estreou o filme Canção de Lisboa é também o ano da instauração do regime ditatorial de António de Oliveira Salazar. Estado Novo é o nome deste regime que durou 41 anos quando foi derrubado pela Revolução do 25 de Abril. Esta designação oficiosa foi criada por razões ideológicas e propagandísticas por marcar a entrada numa nova era.
A cena na loja do alfaiate, com Vasco disfarçado de manequim é muito engraçada sobre todo pelo trocadilho do cartaz (Ocasião – 95.00 - Estado Novo).
São também cheias de significado as frases do alfaiate. Na minha casa há de tudo – Na minha casa não quero barulho – Muito prazer de receber em minha casa – Faço tudo desinteressadamente - … e outras, claras alusões ao carácter nacionalista, conservador, corporativista etc., semelhante aos regimes autoritários do mesmo período (Mussolini, Franco, Hitler, Peron ).
Muito divertida a cena com a chegada do rato, pequeno mas bastante para baralhar a ordem da loja e o cartaz “Estado Novo” pendurado nas costas de D. Jacinta.

A minha pergunta é: Como é que a censura não se apercebeu de nada?

GERMANA LARDONE

"A Canção de Lisboa" por Vilma Gidaro


Depois do visionamento do filme "A Canção de Lisboa" (1933) de Cottinelli Telmo, com Vasco Santana, Beatriz Costa e António Silva, a nossa aluna Vilma Gidaro escreveu este comentário. Obrigado, Vilma, pelo entusiasmo e constante participação no nosso blog!



Por volta de 1933, ano da produção do filme “A Canção de Lisboa”, iniciava em Portugal o Salazarismo. E no filme o realizador ridiculariza o regime ditatorial com a cena na alfaiataria do pai de Alice.
O Alfaiate Caetano e Dona Jacinta chegam à alfaiataria falando e, vendo-os, Vasco (Santana) vai “esconder-se” dentro de um casaco, fingindo-se um manequim. Sobre o casaco do Vasco estava preso um letreiro com as palavras: "Estado Novo - 99 escudos", cartaz que no fim da cena vai parar - pela mão do Vasco - ao "traseiro" da Dona Jacinta. Aqui está claro o intento de ridicularizar o Estado Novo.
O filme continua com a cena do concurso da “Rainha das Costureiras”. Nesta cena vejo um paralelo entre o Alfaiate Caetano, júri do concurso, e o ditador. A linda Alice é aspirante rainha deste concurso. Linda rapariga, com certeza, mas também desajeitada e embaraçada. O Alfaiate proclama, com grande autoridade, que o júri é quem decide quem será a Rainha do concurso quando é ele quem realmente decide - e decide que será a sua própria filha.
Outra coisa interessante no filme é a frase: "Chapéus há muitos, seu palerma!". É um outro modo, divertido, de dizer que "não interessa nada".Mas para mim pode ter também um outro sentido para além deste. “Chapéus há muitos” seria como dizer que nenhuma pessoa deve obrigatoriamente escolher um chapéu igual ao das outras, porque um chapéu pode ser um símbolo de pertença a uma qualquer ideologia e se uma pessoa se sente obrigada a vestir-se igual às outras é um palerma. “Chapéus há muitos” significa então ser um homem, ou uma mulher, livre.
VILMA GIDARO

mercoledì 25 novembre 2009

Stefano Valente - Lo Specchio di Orfeo


O nosso aluno Stefano Valente, que tem já participado neste blog várias vezes, é um escritor de renome traduzido também em Portugal. O seu último romance, editado em 2008 pela Liberamente (Barbera Editores) chama-se "Lo Specchio di Orfeo" - em Portugal, "O Espelho de Orfeu", editora Ésquilo - e é definido como "uma viagem de cortar a respiração, que parte do Egipto Antigo para chegar, através dos mistérios medievais dos Templários e dos fumadores de haxixe, até aos segredos dos grandes poderes económicos contemporâneos. Um thriller esotérico denso de sugestões literárias e mitológicas".

Muitos parabéns ao Stefano e a sugestão a todos os nossos leitores de comprarem este romance, em Italiano ou em Português - encomendando-o on-line.




Nel 2008 è uscito il suo romanzo Lo Specchio di Orfeo, pubblicato da Liberamente (Barbera Editori):«Un viaggio mozzafiato fra il segreto della Vita e il mistero della Morte, che parte dall’Antico Egitto per arrivare, attraverso i misteri medioevali dei Templari e dei fumatori di hascisc, fino agli indicibili segreti dei grandi poteri economici contemporanei. Un thriller esoterico denso di suggestioni letterarie e mitologiche» (dalla quarta di copertina).In traduzione anchein Portogallo e Spagna.


"Lo studioso di manoscritti antichi Carl Darmesteter muore cadendo dal balcone di un albergo a Coimbra, dove si trova per un convegno.
Jonas Leustig, il suo più fidato allievo, sospettando che si tratti di un omicidio, cerca possibili indizi negli appunti sugli ultimi studi del professore e nei files del suo computer.
Scopre così che poco prima della morte Darmesteter si stava occupando di uno sconosciuto manoscritto medioevale, il De Orpheo, che nella narrazione del mito di Orfeo nasconde un segreto di vitale importanza.
Le anomalie di questo antico poema, le reticenze dei proprietari, e le indicazioni lasciate da Darmesteter porteranno Leustig a una scoperta sensazionale, in grado di sconvolgere le menti e gli equilibri mondiali.
Ma a quanto pare Leustig non è il solo a conoscere la verità: qualcuno gli dà la caccia, ansioso di impossessarsi del suo segreto.
Qualcuno dall'aspetto del tutto simile al nostro; ma anche qualcuno che ha il volto degli antichi Faraoni d'Egitto.
Un romanzo emozionante ed erudito, ricco di suggestioni e colpi di scena, documentatissimo, che rivela un grande talento letterario.
Un autore e un romanzo destinati a diventare di culto. "


Ver também:

C& C - Cinderela e Chanel, por Eros Olivieri


Inspirado na história de Cinderela (em Português também conhecida como "a Gata borralheira") o nosso aluno Eros Olivieri, que já outras vezes tem participado neste blog com histórias divertidas e originais, oferece mais esta aos leitores de Via dei Portoghesi... Obrigado, Eros!


O príncipe chegou à igreja e esperava a Cinderela.
Após duas horas, com muito atraso, ela chegou enfim, com um coche não luxuoso mas luzente, todo em branco e ouro.
Cinderela descendeu com lentidão e elegância.
Vestia de branco e azul e todos os olhos se dirigiram para ela.
Com vagar ela deu três passos para o príncipe e parou.
O príncipe avançou para ela e fez uma elegante reverência.
Mas ela estava parada, imóvel, com a cara coberta por o véu de noiva que não permitia ao príncipe de ver a sua cara, nem os seus olhos, nem o seu nariz que ele tanto amava.
As pessoas sustinha a respiração….
Então o príncipe tomou com delicadeza a mão direita de Cinderela, aproximou-a dos seus lábios, fez com a nariz uma profunda aspiração e, para imensa surpresa de toda a gente, deixou cair a mão da Cinderela.
E depois gritou:
“ Vai-te embora! Tu não és a minha amada Cinderela. Este perfume não è o “CHANEL N. 5”, o único perfume que a minha amada Cinderela usa sempre!”

O príncipe tinha razão.
Realmente, a irmã mais nova de Cinderela tinha-se mascarado com os vestidos dela e tinha-se maquilhado como ela.
Mas, sendo esta irmã um bocado tola, não tinha considerado que o perfume é “o embaixador do assado” e que uma verdadeira princesa só pode usar um perfume: o “CHANEL N. 5” de Cocco Chanel.


EROS OLIVIERI

venerdì 20 novembre 2009

Cavaleiro de Sophia em Veneza - versão Rocco Costantino


Desafiámos os nossos alunos a prosseguir a história de Sophia de Mello Breyner, "O Cavaleiro da Dinamarca", depois da chegada deste a Veneza e da pergunta que faz ao Mercador que o hospeda, a respeito do belo palácio que tem diante dos olhos, do outro lado do Canal...


Lá fora, sob a luz azul da lua, Veneza parecia suspensa no ar.
Certa noite, terminada a ceia, o veneziano e o dinamarquês ficaram a conversar na varanda. Do outro lado do canal via-se um belo palácio com finas colunas esculpidas.
- Quem mora ali? - perguntou o Cavaleiro
(...)


O primeiro a responder ao desafio foi Rocco Costantino: OBRIGADO!



- Quem?
- Ninguém sabe quem mora ali. Há muitos anos que só se vê a sombra duma Senhora passear sozinha no seu palácio. Quando ela chegou era uma maravilhosa mulher, o seu nome ficou sempre um mistério, um segredo guardado cuidadosamente por poucos homens.
- E tu não sabes o porquê deste mistério?
- No passado perguntei a muita gente a razão do mistério, mas sem nenhum resultado. Apenas uma coisa é certa: a Senhora é muito rica e parece que é também muito triste, sempre sozinha e sempre fechada no seu palácio. Os criados também nunca falam dela ou nunca podem falar.
Enquanto o mercador falava, o Cavaleiro ficou triste por uma solidão tão grande e sentiu o desejo de compreender e conhecer a misteriosa Senhora.
Durante muitos dias o Cavaleiro pensou na Senhora, mas era já tempo de prosseguir a viagem. Na última noite o cavaleiro passeava pelas ruas e pelos canais de Veneza para ver uma última uma vez tantas maravilhas e levá-las no seu coração e na sua memória. Só o luar iluminava Veneza e quando o Cavaleiro chegou ante o palácio misterioso, da escuridão do portão do palácio o Cavaleiro ouviu uma voz :
- Cavaleiro queria conhecer-te, vem sem medo a minha casa.
O Cavaleiro de repente percebeu que a voz da Senhora o chamava e ficando sem palavras entrou no pátio do palácio.
A Senhora caminhava diante dele com uma vela na mão, o cavaleiro seguia-a sem falar e sem uma qualquer razão. Não sentia nenhum medo, tudo lhe parecia normal.
O palácio era maravilhoso, o salão onde chegaram por fim era desmesurado e iluminado por mil velas. No fundo a Senhora estava sentada e sorrindo convidou-o a aproximar-se.
O Cavaleiro notava em si mesmo um sossego, uma segurança, talvez uma tranquila felicidade nunca experimentada antes. Não compreendia a razão disto: talvez fosse um sonho, talvez a Senhora fosse uma feiticeira.
- Cavaleiro, há muitas noites que te vejo às janelas do palácio do Mercador e ao fim de alguns dias apercebi-me de que algo estava para acontecer. Não conseguia pensar noutra coisa e por fim compreendi. Agora estou feliz, estou enfim tranquila, já não quero me esconder agora que te encontrei.
As palavras da Senhora atingiram a alma do cavaleiro com uma terrível doçura, não compreendia - ou talvez não quisesse compreender o porquê. Nesse momento apercebeu-se de que tinha chegado ao fim da viagem, compreendeu que a sua viagem já não valia, o intento de encontrar a felicidade e a paz nos lugares do Cristo estava ultrapassado. A procura acabara, o coração dele dizia-lhe que tinha procurado a Mãe que nunca tinha visto.
Talvez o Mercador e o palácio fossem ilusão, talvez a mãe também fosse só um desejo, mas enfim: mais nada valia, o cavaleiro tinha chegado ao destino e, sorrindo, morreu.

ROCCO COSTANTINO

Instituto Português de Santo António: 24 de Novembro, conferência de Susana Goulart Costa

http://www.ipsar.org/modules.php?name=Calendar&op=modload&file=index&type=view&eid=612

Terça-feira, 24 de Novembro às 18h00


Em colaboração com:
CHAM (Centro de História de Além-Mar)

Faculdade de Ciências Sociais e HumanasUniversidade Nova de Lisboa

Universidade dos Açores


Conferência


“Agenti ecclesiastici nelle Azzorre nel secolo XVIII: l’accesso al sacerdozio”.
Pela Drª Susana Goulart Costa


mercoledì 18 novembre 2009

"Águas mil" no MedFilm Festival 2009




Participou no MedFilm Festival 2009 - Cinema del Mediterraneo a Roma - nos passados dias 8 e 12 de Novembro o filme português Águas mil (April Showers) do realizador Ivo M. Ferreira (PORTOGALLO, 2009, 35mm, colour, 90'Vers: Portoghese - Sub: Ita).
Agradecemos à Drª Patrícia Ferreira, leitora de Português da Faculdade de Ciências Humanísticas da Università degli Studi di Roma "La Sapienza" a assinalação do evento e lastimamos, por motivos técnicos, não termos podido anunciar a projecção deste filme a tempo.


Un giallo famigliare che si dipana come un viaggio a ritroso nel tempo. In una pagina oscura della recente storia portoghese. Alla ricerca del proprio passato, Pedro è determinato a risolvere gli interrogativi legati alla sua infanzia. Trova indizi, tracce rimaste sepolte da un passato misterioso e da persone che vogliono rimanere nell'ombra. Poco a poco, Pedro riallaccerà i nodi della sua vita, fino a scoprire quando suo padre è scomparso. Ma la verità non sempre porta beneficio...



Sceneggiatura: Ivo M. Ferreira, Margaret Glover
Fotografia: Susana Gomes, Pedro Cardeira
Montaggio: Sandro Aguilar, Rodolfo Wedelles
Musiche: António PedroSuono: Vasco Pimentel

Cast: Joana Seixas, Hugo Tourita, Joao Adelaide, Lidia Franco, Candido Ferreira, Goncalvo Waddington

Premi e selezioni:Rotterdam International Film Festival 2009 (Official Selection: Bright Future)Produzione:Filmes do Tejo II


Lucilla Favino: Fado na rede


Muito agradecemos à nossa aluna LUCILLA FAVINO pela mensagem que nos enviou e que partilhamos com os leitores de Via dei Portoghesi.

Parabéns pelo seu trabalho publicado em http://letras.terra.com.br/amalia-rodrigues/



Io amo il Fado.

Da sempre, da molti anni.

Lo amo dal profondo della mia storia, del mio istinto femminile, i miei silenzi interiori sono come I vicoli d'Alfama, solcati dal Fado di Amália.


Il repertorio classico di Fado e', certamente reperibile a Lisboa, nelle Istituzioni come al Museu do Fado, mille libri e spartiti, ma le parole... quasi sempre mancano... o non sono tutte.


Mi sono messa a cercare e cercare, con una mia amica suora Poroghese, e poi con un'antiquaria mia amica nel cuore d' Alfama, e con sua madre.

Tante ricerche.

Ho chiesto ad amiche Fadiste, e da una ho avuto un suggerimento: Digitare letras do fado su Internet. Poi, a questa ricerca, ho anche aggiunto: Amália.


Ecco il mio risultato, che sembra strano ci porta in un sito brasiliano, pero'...



Se lo aprirete, troverete la piu' completa raccolta "alla buona", di testi di Fado che Amália ha cantato nella sua vita. Sono piu' di 200... E' una raccolta testi sincera e completa, forse non interamente, ma per lo meno... Inoltre, raro vantaggio, per consultarla, non occorre essere iscritti o fare un "login", o altro. E le pagine, si aprono tutte, non ce n'e' una che non si apra.


lunedì 16 novembre 2009

Mais "Espelho Mágico" - de Stefano Valente


Outro texto brilhante de um outro aluno de Português (que é também um romancista traduzido e editado em Portugal!): Stefano Valente fala-nos do seu "Espelho Mágico"...





Acho que o excerto do filme O espelho mágico, de Manoel de Oliveira, visto na última sexta-feira, pode ser considerado um bom exemplo da produção criativa do cineasta português. Personagens emblemáticas — ícones, mais do que simples figuras quotidianas — movem-se em sequências que parecem ficar num “tempo fora do tempo”, e falam de assuntos que partem de factos comuns, mas imediatamente se tornam matérias universais, próprios da humanidade inteira.

O sentido fundamental do filme — e, talvez, da vida mesma — desenvolve-se em diálogos que ficam colocados numa atemporalidade. É a atemporalidade — compreendemo-lo rapidamente — das representações, da história que se conta, do teatro.

E o conto que Oliveira faz da existência da Dona Alfreda, «a senhora rica» em busca de visões e aparições sagradas, é também a parábola teatral de séculos (ou melhor: de mais que dois milénios) passados pelo homem a justificar os seus actos em nome da religião, a submeter-se a ela — e a submeter os outros.

Mas não é só isto. O realizador serve-se da protagonista, e da ansiedade da sua fé, para simbolizar o tormento e a angústia da classe social mais alta e endinheirada contemporânea — e, em particular, cristã — frente ao seu sentido de culpa.

Dona Alfreda, sempre protegida na sumptuosidade da sua casa de campo e do seu jardim (que é comparado com o das Oliveiras, do Evangelho), consegue obter uma razão para a sua riqueza. E talvez também uma explicação e uma desculpa diante dos menos afortunados, dos pobres.

O misticismo como álibi. Isto é: a encenação da “divina comédia” de Dona Alfreda. Porque também «Nossa Senhora era rica», como diz a protagonista.
Em suma: somente alguns minutos do cinema de Manoel de Oliveira, e já vem o desejo de ver todos os filmes deste centenário realizador portuense.

Com uma dúvida: que se Deus existe, e o conserva em tão boa saúde, tem de ser porque nós precisamos dele.

E do seu espelho mágico, no qual se reflectem os pecados do nosso viver…


STEFANO VALENTE

Ainda o "Espelho Mágico" - de Eros Olivieri

Ricardo Trêpa em "O Espelho Mágico" de Manoel de Oliveira.


Magnífico texto do nosso aluno Eros Olivieri, a quem muito agradecemos pelo entusiasmo com que participa nas aulas e no blog, com os seus textos.

O espelho? Mágico?

Na parede da meu quarto está pendurado um espelho.
Os que o têm visto dizem que ele é magico.
Mas eu não tenho a certeza, nem de que é um espelho, nem de que é magico.
Efectivamente, quando eu me olho nele, eu não vejo a minha imagem, o meu nariz aquilino, os meus olhos cerúleos, a minha boca perplexa.
Não! Eu vejo só os meus pensamentos, os bons e os maus; vejo as minhas fantasias, as que posso confessar e as que não posso; os meus desejos.
Vejo as caras dos meus amores, dos meus amigos.
Mas, infelizmente, vejo também as caras de pessoas que eu não queria ver.
Tudo vejo neste espelho, que, portanto, espelho não é porque não reflecte quem nele se olha.
Tudo vejo, excepto a mim mesmo.
O meu espelho é magico quando me traz amigos, amores, desejos, fantasias. Mas outras vezes ele é terrível: é como uma muralha que esconde de mim mesmo a minha própria imagem….
Então que diz, meu amigo?
Esta coisa plana e luminosa é um espelho ou um imbróglio?
Mágico ou trágico?
EROS OLIVIERI

90 anos de Sophia de Mello Breyner


Por problemas técnicos do nosso blog não nos foi possível assinalar no passado dia 6 de Novembro os 90 anos que faria a autora portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen se fosse ainda viva.

Aqui deixamos em sua homenagem uma bela fotografia e alguns versos seus...
Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro contemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Coral, Caminho, 2003

Saramago e Signora - Io Donna del Corriere della Sera (24.10.09)


Io Donna del Corriere della Sera
24.10.09
Saramago e Signora
Ho sposato il mio opposto
Il Nobel portoghese e la moglie Pilar ci raccontano quanto sono diversi
di Giulia Calligaro
Agradecemos a assinalação à nossa aluna Roberta Spadacini, e esperamos a prometida tradução desta entrevista publicada há algum tempo atrás na revista do Corriere della Sera.

Saramago faz hoje anos


Aproveitando a data, publicamos uma entrevista televisiva assinalada pela nossa aluna Rosanna Cimaglia, a quem muito agradecemos, e que nos enviou as seguintes palavras:


"Gostaria de partilhar com os amigos e colegas do blog, esta entrevista a José Saramago feita no programa tv de Rai Tre "parla con me", no passado dia 15 de Outubro. A entrevista começa depois 3 minutos do inicio do programa; é uma entrevista muito agradável e num certo sentido emotivamente tocante , em que o Saramago fala das suas recordações familiares, de política (em particular da italiana) e das mulheres. Para todas as pessoas (como eu) que nao puderam ver a entrevista em directo, eis o link":

"Nova publicação de Giorgio de Marchis: E… Quem é o Autor Desse Crime"


Giorgio de Marchis – Università degli Studi di Roma Tre
E… Quem é o Autor Desse Crime
Il Romanzo d'Appendice in Portogallo tra Ultimatum e Repubblica
(1890-1910)

LED - Edizioni Universitarie Lettere Economia Diritto
Collana: «Costellazioni»
15,5 x 22 cm - pagg. 344
2009
ISBN 978-88-7916-425-2

SOMMARIO: Nota previa — 1. Cultura e società in Portogallo tra Ultimatum e Prima Repubblica: 1.1. Premessa – 1.2. Tra anomia e iperidentità — 2. Il romanzo d’appendice. Una proposta di definizione e periodizzazione: 2.1. Premessa – 2.2. Le origini – 2.3. Una proposta di periodizzazione – 2.4. Il romance-folhetim in Portogallo — 3. Analisi dei testi: 3.1. Premessa – 3.2. Paratesto editoriale – 3.2.1. Annunci – 3.2.2. Illustrazioni – 3.2.3. Autori – 3.2.4. Titoli – 3.2.5. Intertitoli – 3.2.6. Altri elementi paratestuali – 3.3. Meccanica del racconto – 3.4. Ingredienti romanzeschi – 3.4.1. eroi (im)belli – 3.4.2. Gli scellerati – 3.4.3. Medea & Maria – 3.5. I romanzi portoghesi – Antologia – Appendice – Bibliografia.

Il 5 ottobre del 1910, in Portogallo, viene proclamata la Repubblica. Si conclude così un ventennio di violenti scontri politici, inaugurato dall’Ultimatum inglese del 1890 e contrassegnato dal regicidio del 1908. Attraverso un’analisi della letteratura d’appendice apparsa sui principali quotidiani di Lisbona, questo studio ricostruisce il contesto culturale del Portogallo finisecolare e le strategie editoriali che, in questi anni, condizionano la letteratura popolare. Contraddicendo l’immagine tradizionale che vede nel romanziere d’appendice uno scrittore attento alle sole logiche del mercato e nell’appendice lo spazio per una pratica di scrittura e lettura di innocente evasione e consumo, il romanzo popolare portoghese si rivela un’efficace arma di propaganda politica e un indispensabile strumento per la costruzione della nazione.

Giorgio de Marchis è docente di Letteratura portoghese e brasiliana presso l'Università di Roma Tre. Ha studiato autori e movimenti letterari portoghesi del XIX e XX secolo, curando, tra l’altro, le edizioni critico-genetiche delle opere di Mário de Sá-Carneiro e José Régio. Si è, inoltre, interessato alle dinamiche culturali dell’area lusofona e, per quanto riguarda la letteratura africana d’espressione portoghese, ha curato le edizioni italiane dei romanzi di Paulina Chiziane e José Eduardo Agualusa.



Sul "Romanzo d'appendice"

Amanhã - STORIA DELLA LETTERATURA BRASILIANA: Giulia Lanciani


Vai ter lugar amanhã, terça-feira 17 de Novembro, às 18h00, na Embaixada do Brasil (Piazza Navona) o oitavo encontro do Seminário "STORIA DELLA LETTERATURA BRASILIANA" pela Professora Giulia Lanciani.

Intitulada "Poetiche del Novecento e modernità in transito" a conferência vai debruçar-se sobre os autores brasileiros Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.



Giulia Lanciani, professore ordinario di lingua e letteratura portoghese e brasiliana presso l'Università degli Studi Roma Tre, si è occupata di letteratura sia medievale che moderna e contemporanea, delle aree linguistico-culturali galega, portoghese e brasiliana, con studi sulla poesia lirica dei trovatori, il teatro del Cinquecento, la letteratura di viaggi, la poesia e la narrativa del Novecento, e con traduzioni e analisi critiche di alcuni dei maggiori poeti e prosatori galeghi, portoghesi, brasiliani e catalani. Si è inoltre interessata di problemi relativi alla critica testuale, all'edizione critico-genetica e alla metodologia della traduzione. Membro corrispondente dell'Accademia di Geografia di Lisbona, dottore honoris causa dell'Universidade Nova di Lisbona, nel 2003 le è stato conferito il premio nazionale di traduzione.

STORIA DELLA LETTERATURA BRASILIANA: Giorgio de Marchis


No passado dia 6 de Novembro, sexta-feira, teve lugar o sexto encontro do Seminário "STORIA DELLA LETTERATURA BRASILIANA" pelo Professor Giorgio de Marchis.
O tema da conferência foi "Modernismi e manifesti letterari: nuove cartografie della nazione".


Professore di Letteratura portoghese e brasiliana presso la Facoltà di Lingue e Letterature Straniere dell’Università degli Studi di Salerno. Nelle sue ricerche, si è occupato principalmente della letteratura portoghese moderna (XVI e XVIII secolo) e contemporanea (con studi dedicati a Eça de Queirós, Mário de Sá-Carneiro, José Régio, José Cardoso Pires), riservando una particolare attenzione alle questioni proprie della letteratura popolare. Per quanto riguarda la letteratura in lingua portoghese, ha tradotto e curato le edizioni italiane dei romanzi dello scrittore angolano José Eduardo Agualusa (Quando Zumbi prese Rio) e della scrittrice mozambicana Paulina Chiziane (Il settimo giuramento). È, inotre, co-direttore della collana di narrativa in lingua portoghese e spagnola “Liberamente” per conto della casa editrice La Nuova Frontiera, per i cui tipi pubblicherà prossimamente la traduzione del nuovo romanzo di Paulina Chiziane (Niketche. Una storia di poligamia) e un’antologia di giovani autori in lingua portoghese (Nati ieri. La nuova narrativa in lingua portoghese).

lunedì 2 novembre 2009

"O meu Espelho Mágico" de Rocco Costantino

Depois de ver um excerto de "O Espelho Mágico", o nosso aluno Rocco Costantino inventou esta divertida continuação, que deixamos aos leitores de "Via dei Portoghesi"

Alguns dias depois, Joana – que não era uma freira, mas uma trapaceira cujo trabalho era roubar aos ricos imbecilizados – encontra-se com Francisco, também ele falso como jardineiro, mas seu companheiro de trabalho e diz-lhe:

- Francisco, acho que encontrámos um “pato para depenar”! A senhora Alfreda parece-me ter um parafuso a menos, mas temos de nos despachar antes que chegue um outro trapaceiro ou antes que a senhora tenha uma visão a sério, talvez depois um copo a mais...

- Joana, a história é difícil. A senhora já nos conhece como jardineiro e como freira.

- Temos de nos disfarçar, eu serei a Virgem Maria e tu interpreterás o papel de Jesus.

- E onde vai acontecer esta aparição?

- Talvez seria o melhor que a visão aconteça ao anoitecer, na beira da piscina quando a senhora Alfreda acabar o seu banho nocturno. A escuridão ajudar-nos-á, assim como o cansaço da senhora, que não é uma grande nadadora.

No dia seguinte, como de costume, a senhora concede-se um banho purificador no cloro da piscina e, meia morta de cansaço, de repente, vê, no bordo da piscina, a Virgem Maria coberta por um véu branco e, surpresa ainda maior, ao lado dela estava um homem de celestial beleza, o seu filho Jesus.

- Milagre, milagre! Afinal tive a minha visão, que demonstrará a via da salvação da minha alma!

- Alfreda, tu estás nos nossos corações e queremos que tu estejas connosco no momento justo. Entretanto vamos encaminhar-te pela recta via nesta vida.

- Ó Virgem Maria, ó santíssimo Jesus, mostrem-me a via da salvação da minha alma.

- Amada Alfreda, tens ao teu serviço um bom jardineiro, que sem o teu socorro se perderá. Tens de ajudá-lo, deixa-lhe o terreno que tens perto de Braga e ele, com a sua habilidade, salvará o terreno inculto e sobretudo a tua alma.

A Virgem Maria, fazendo esta hierática profecia, agitou-se tanto que caiu clamorosamente dentro da piscina. Talvez pelo pesado disfarce ou talvez porque, pela primeira vez, tenha caído à água, afogou imediatamente.

O jardineiro Francisco – ou Jesus? - evitou com cuidado intervir, não conhecendo quantidade de água maior do que aquela contida num copo, e de repente desapareceu. A velocidade dele foi o único milagre do dia...

Alfreda assistiu incrédula à cena e enfim exclamou:

- Já não existem as Virgens Marias e os Jesus do tempo antigo! Estes modernos nem sabem sequer nadar!
ROCCO COSTANTINO

"Espelho Mágico" de Manoel de Oliveira por Germana Lardone


Após o visionamento, nas aulas de Português, de um excerto do filme "O Espelho Mágico" de Manoel de Oliveira (2005), pedimos aos nossos alunos de nível avançado um comentário sobre o filme. Este é aquele que escreveu Germana Lardone.



O tema do filme é muito interessante, e nele há a participação de dois gigantes da cultura portuguesa: o filme de Manoel de Oliveira é uma adaptação do romance “ Alma dos ricos “ de Agustina Bessa-Luís.

Em poucas palavras, Alfreda, una mulher rica e sem filhos, insatisfeita com a sua vida, tem uma obsessão religiosa: espera que lhe apareça a Virgem Maria.
Entra na sua vida um jovem libertado da prisão, Luciano, que, com um amigo procura uma moça para fazer o papel de Maria.
A depressão de Alfreda acaba por levá-la à morte.

O argumento do filme é muito interessante, creio que há vários temas:
- a insatisfação duma pessoa rica que resulta numa obsessão religiosa,
- se calhar um sentimento de culpa por serem tão ricos: o marido fornece os meios para os filhos doutras pessoas aprenderem música.
- Alfreda fica feliz por saber, através dos estudiosos que visitam a sua casa, que a Virgem Maria era rica também (uma justificação a sua própria riqueza).
-a incapacidade de viver a própria vida e de ver a realidade (o engano de Luciano). Pode ser que só antes de morrer chegue a ver a beleza da vida.

Como não vi o filme todo, não posso dizer ter compreendido bem, pois creio que a mensagem é que, apesar de tudo é bom viver plenamente a vida que temos – dores, alegrias, momentos difíceis e dias serenos. Como diz Manoel de Oliveira: “Apesar dos pesares, é bom estar no mundo. Vivamos, pois, seja lá como for “:

Uma frase de Alfreda marcou-me particularmente: “Não é preciso ser rico para comer, é precisa ser-se rico para saborear”: creio que no segundo caso “rico” significa rico interiormente.
O espelho mágico serve para ver no interior, para ver o futuro ou o passado esquecido?


GERMANA LARDONE

Seminario: Letteratura Brasiliana a Piazza Navona


SEMINARIO: STORIA DELLA LETTERATURA BRASILIANA


Roma, 15 ottobre - 1 dicembre 2009 - Ambasciata del Brasile


Tutti gli incontri del Seminario avranno luogo dalle ore 18:00 alle ore 20:00, nell’Auditorium del Centro Culturale Brasile-Italia – Piazza Navona, 18.


Gli incontri si svolgeranno sempre in italiano.


Il coordinamento del Seminario è a cura del Professor Julio César Monteiro Martins (Università di Pisa) e del Settore Culturale dell’Ambasciata del Brasile.


L’ingresso è libero.


PROGRAMMA


1° Incontro: Giovedì 15 ottobre 2009

Lo spirito e il contributo originale della letteratura brasiliana (Professor Julio César Monteiro Martins, Università di Pisa) Seguirà cocktail.


2° Incontro: Venerdì 23 ottobre 2009

La letteratura brasiliana come letteratura della complessità (Professor Silvano Peloso – Università degli Studi di Roma «La Sapienza»)


3° Incontro: Martedì 27 ottobre 2009

Romanticismo e identità nazionale (Professoressa Sonia Netto Salomão - Università degli Studi di Roma «La Sapienza»)


4° Incontro: Venerdì 30 ottobre 2009
Machado de Assis: la maturità del romanzo e l’“istinto” della nazionalità (Professor Roberto Mulinacci – Università degli Studi di Bologna)


5° Incontro: Lunedì 2 novembre 2009

Città, Sertão, Amazzonia agli albori del XX secolo. Lima Barreto, Euclides da Cunha e la costruzione di una poetica dello spazio brasiliano (Professor Aniello Angelo Avella – Università degli Studi di Roma Tor-Vergata)

Nel corso della conferenza sarà proiettato il film "A Paz é Dourada", di Noilton Nunes (anteprima europea, 80’)


6° Incontro: Venerdì 6 novembre 2009Modernismi e manifesti letterari: nuove cartografie della nazione (Professor Giorgio De Marchis – Università degli Studi di Roma Tre)


7° Incontro: Venerdì 13 novembre 2009

Altri modernismi: nazionalismo e regionalismo nella stabilizzazione della coscienza creatrice brasiliana(Professor Roberto Vecchi – Università degli Studi di Bologna)


8° Incontro: Martedì 17 novembre 2009

Poetiche del Novecento e modernità in transito: Bandeira e Drummond (Professoressa Giulia Lanciani – Università degli Studi di Roma Tre)


9° Incontro: Venerdì 20 novembre 2009

Pós-tudo. Modernità radicale e narrative: João Guimarães Rosa e Clarice Lispector (Professor Ettore Finazzi-Agrò – Università degli Studi di Roma «La Sapienza»)


10° Incontro: Venerdì 27 novembre 2009

Utopia, resistenza, diaspora (1960-1990) (Professor Giovanni Ricciardi – Università degli Studi di Napoli)


11° Incontro: Martedì 1 dicembre 2009

La letteratura del XXI Secolo. Il nuovo realismo urbano di Cidade de Deus, i nuovi narratori, gli scrittori emergenti (Dottoressa Silvia Marianecci, traduttrice)