lunedì 3 dicembre 2012

A palavra ao estudante... MARIA SERENA FELICI: "Bombeiros"

BOMBEIROS


Quando eu era criança, a minha escola encontrava-se mesmo em frente dum quartel de bombeiros. Às vezes, quando de lá saia um carro a correr com a sirene ligada, nós todos imaginávamos que, em algum lugar da cidade, alguma casa estivesse a arder; mas, se era inverno, a professora quase sempre nos lembrava que a chuva também estava a causar muitos danos, e que eles bem podiam ter sido chamados por causa de algum alagamento. Parecia-me tão esquisito, na época, que se pudesse recorrer aos Vigili del fuoco por problemas causados pela água! Daquela sensação de surpresa hoje permanece uma pequena reflexão que já me encontrei a fazer algumas vezes, de mim para comigo, e que agora vou partilhar com muito prazer. De facto, quando se fala nos bombeiros, a primeira coisa que se diz é que a sua função é a de apagar os incêndios; mas essa não passa de uma das inúmeras missões que eles são chamados a cumprir. Eu queria aqui concentrar-me na dúplice vertente que caracteriza esta profissão, que une dois elementos aparentemente opostos: o fogo e a água.

Eles apagam o fogo: e eu imagino que o fogo que eles apagam não seja o que acende o corpo e a alma das pessoas com uma paixão amorosa muito forte, e sim aquele fogo destruidor que provém do ódio. O fogo, de facto, pode aquecer bem como pode queimar; e é assim, o fogo que dá calor no meio do frio é aquele que nasce do amor, que aquece e ilumina a cama de dois amantes e a casa de pessoas que se amam: um calor que dá conforto e sabor à vida, e não magoa. Mas quando no corpo humano se acende o fogo do ódio, da inveja, da divisão e até da simples raiva que todos alguma vez sentimos, então sim, é preciso a intervenção de quem o apague; porque isso é um fogo que não doa vida e sim morte, aquele que não esquenta mas queima, anula, destrói.

O mesmo se passa com a água, geradora de vida e de morte. Da água provêm todos os seres, da água emergem as terras, na água perdem-se todos os confins e todos os limites, tudo se junta num abismo de amor caótico, primordial, ancestral, onde já não fazem sentido nenhum as identidades, as normas, as rígidas divisões e todos os números que nós inventamos aqui, na terra. É essa a água que doa sal para os alimentos dos homens, aquela que, vinda do céu, rega as plantas e as flores, que sem ela morreriam, e que sacia a sede dos seres vivos. Mas, sendo o príncipio da vida, a água bem pode ser o fim. Daí que, quando a terra já não aguenta contê-la toda, ela ergue-se, arrasta tudo consigo como uma mãe enlouquecida que prefere sufocar os seus filhos sob o próprio manto para retomá-los no seu ventre. Nesse caso, também, chegará o carro dos bombeiros a tentar acalmar essa apocaplipse, e eles serão vistos como salvadores.

Dos dois maiores elementos primigénios que alguns antigos filósofos muito iluminados localizaram um dia, ambos podem levar vida ou morte; mas é apenas nesse último caso que se torna providencial a intervenção dos bombeiros.
 
MARIA SERENA FELICI

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