sabato 14 aprile 2012

Maria Rita Vecchio: "A magia do teatro"

A primeira dama do teatro português, Eunice Muñoz, na peça As Criadas de Genet







Agradecemos à nossa aluna Maria Rita Vecchio o belíssimo texto que aqui publicamos.








Adoro o cinema e amo os bailados, as revistas, os musicais, os concertos rock, todos os espectáculos que, por duas horas, fazem sorrir, chorar, emocionar e esquecer os nossos problemas.


Não escrevi “teatro” porque o teatro é uma outra coisa, é magia. De facto os espectáculos citados são chamados “eventos parateatrais” porque, no seu interior, têm elementos de teatro mas não são teatro.

Também o teatro oferece uma fruição colectiva, usa luzes, sons, mobília, costumes mas, aqui está a grande diferença, no palco há actores que interpretam uma outra pessoa diferente de si: eles dão carne, ossos, voz, movimento, vida aos personagens. São os actores que fazem o teatro e que criam uma relação com o público.

O teatro baseia-se na imitação da realidade e, no escuro, nós presenciamos a acção que se desenvolve no palco “como se fosse realidade” apesar de sabermos que é um fingimento. Aqui está a magia.


Há uma espécie de divisão imaginária, a famosa “quarta parede”, entre nós e os actores, mas sentimo-nos realmente num Palácio Real, num apartamento, num campo de batalha e estamos em frente de personagens reais em que podemos compenetrar-nos, especialmente se os actores sabem usar as técnicas de recitação e aderir mais intimamente aos personagens. Desta maneira cria-se um envolvimento emotivo que eu chamo magia mas que na Grécia antiga se chamava “catarsi”: compenetrar-se nos personagens permitia ao público uma espécie de aperfeiçoamento interior porque se realizava um processo de purificação das paixões e dos conflitos interiores.

Actores, com a sua representação e público, com o seu envolvimento emotivo, dão vida a um evento único e destinado a não durar. Nenhum espectáculo é igual aos outros, precedentes e sucessivos, também porque no palco, a cada vez, os actores modificam a sua representação por causa dum pormenor imperceptível, dum movimento ou de palavras diferentes (por exemplo no teatro de improvisação). O espectáculo que acaba, já não acontece mais. (metáfora da vida?)

Actores e público juntos são as duas costantes que ultrapassam tempo e espaço. Pelo contrário a dimensão histórico-cultural do teatro é complexa; os personagens do mundo clássico eram seguros e decididos, mas os heróis modernos, a partir de Hamlet, que tem infinitas perplexidades, até aos personagens de Pirandello, mostram a crise de identidade do homem moderno paralizado pela incerteza. Pirandello fecha o círculo que foi aberto na Antiguidade, porque ele usa a mesma palavra com que tudo iniciou: máscara.

Falta-me o espaço para escrever sobre as “máscaras” e sobre a minha relação com o teatro, desde as marionetas até às flores de cerejeira que caiam sobre o público no “Jardim das Cerejeiras” de Čechov (por Giorgio Strehler como realizador) - e porque não me esqueço que o meu professor tem que corrigir muitas outras composições.


Então, saio da cena.

MARIA RITA VECCHIO

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