giovedì 4 febbraio 2016

Nuno Júdice domani a Roma

Nuno Júdice partecipa alla X Edizione di "Ritratti di poesia" rappresentando il Portogallo.
  • venerdì 5 febbraio
  • Tempio di Adriano, in Piazza di Pietra, Roma
  • “Poesia sconfinata”, dalle 18.50 alle 19.30 presenterà la poesia di Nuno Júdice
 

Carta (Esboço)

Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei de que esse sítio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação ;
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.

Nuno Júdice, in “Poesia Reunida”
 
 
 



Nuno Manuel Gonçalves Júdice Glória (Portimão, Mexilhoeira Grande, 29 de abril de 1949) é um ensaísta, poeta, ficcionista e professor universitário português.

Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e obteve o grau de Doutor pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com uma dissertação sobre Literatura Medieval.

Professor do ensino secundário, desde 1992 até 1997, é atualmente professor associado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas .

Foi Diretor da revista literária Tabacaria (1996-2009), editada pela Casa Fernando Pessoa e Comissário para a área da Literatura da representação portuguesa à 49ª Feira do Livro de Frankfurt. Foi também Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal (1997-2004) e Diretor do Instituto Camões em Paris. Organizou a Semana Europeia da Poesia, no âmbito da Lisboa '94 - Capital Europeia da Cultura. É atualmente Diretor da Revista Colóquio-Letras da Fundação Calouste Gulbenkian.

Poeta e ficcionista, a sua estreia literária deu-se com A Noção de Poema (1972). Em 1985 receberia o Prémio Pen Clube, o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus, em 1990. Em 1994 a Associação Portuguesa de Escritores, distinguiu-o pela publicação de Meditação sobre Ruínas, finalista do Prémio Europeu de Literatura Aristeion. Assinou ainda obras para teatro e traduziu autores como Corneille e Emily Dickinson.

A sua obra inclui antologias, edições de crítica literária, estudos sobre Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa. Mantém uma colaboração regular na imprensa. Lançou, em 1993, a antologia sobre literatura portuguesa do século XX, Voyage dans un siècle de Littérature Portugaise.

Tem obras traduzidas em Espanha, Itália, Venezuela, Inglaterra e França.





OPERA


Poesia

A Noção de Poema (1972)

O Pavão Sonoro (1972)

Crítica Doméstica dos Paralelepípedos (1973)

As Inumeráveis Águas (1974)

O Mecanismo Romântico da Fragmentação (1975)

Nos Braços da Exígua Luz (1976)

O Corte na Ênfase (1978)

O Voo de Igitur num Copo de Dados (1981)

A Partilha Dos Mitos (1982)

Lira de Líquen - Prémio de Poesia do Pen Clube (1985)

A Condescendência do Ser (1988)

Enumeração de Sombras (1988)

As Regras da Perspectiva - Prémio D. Dinis (1990)

Uma Sequência de Outubro - Comissariado para a Europália (1991)

Obra Poética 1972-1985 (1991)

Um Canto na Espessura do Tempo (1992)

Meditação sobre Ruínas - Prémio da APE (1995)

O Movimento do Mundo (1996)

Poemas em Voz Alta - com CD de poemas ditos por Natália Luiza (1996)

A Fonte da Vida (1997)

Raptos (1998)

Teoria Geral do Sentimento (1999)

Poesia Reunida 1967-2000 (2001)

Pedro lembrando Inês (2002)

Cartografia de Emoções (2002)

O Estado dos Campos (2003)

Geometria variável (2005)

As coisas mais simples (2006)

A Matéria do Poema (2008)

O Breve Sentimento do Eterno (2008)

Guia de Conceitos Básicos (2010)

Navegação de Acaso (2013)

O Fruto da Gramática (2014)

A Convergência dos Ventos (2015)

 

Ficção

Última Palavra: «Sim» (1977)

Plâncton (1981)

A Manta Religiosa (1982)

O Tesouro da Rainha de Sabá - Conto Pós-Moderno (1984)

Adágio (1984)

A Roseira de Espinho (1994)

A Mulher Escarlate, Brevíssima (1997)

Vésperas de Sombra (1998)

Por Todos os Séculos (1999)

A Árvore dos Milagres (2000)

A Ideia do Amor e Outros contos (2003)

O anjo da tempestade (2004)

O Enigma de Salomé (2007)

Os Passos da Cruz (2009)

Dois Diálogos entre um padre e um moribundo Coimbra, Angelus Novus, 2010.

O Complexo de Sagitário, Lisboa, Dom Quixote, 2011.

 

Ensaio

A Era de «Orpheu» (1986)

O Espaço do Conto no Texto Medieval (1991)

O Processo Poético (1992)

Portugal, Língua e Cultura - Comissariado para a Exposição de Sevilha (1992)

Voyage dans un Siècle de Littérature Portugaise (1993)

Viagem por um século de literatura portuguesa (1997)

As Máscaras do Poema (1998)

B.I. do Capuchinho Vermelho (2003)

A viagem das palavras: estudo sobre poesia (2005)

A certidão das histórias (2006)

O ABC da Crítica (2010)

 

Teatro

Antero - Vila do Conde (1979)

Flores de Estufa (1993)

Teatro, Lisboa Artistas Unidos/Cotovia, (2005)

O Peso das Razões, Lisboa, Artistas Unidos/Cotovia (2009)

 

Edições críticas e antologias

Novela Despropositada de Frei Simão António de Santa Catarina, o Torto de Belém (1977)

'Poesia de Guerra Junqueiro (1981)

Sonetos de Antero de Quental (1992)

Poesia Futurista Portuguesa, Faro 1916-1917 (1993)

Cancioneiro de D. Dinis (1998)

Infortúnios trágicos da Constante Florinda, de Gaspar Pires de Rebelo (2005)


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